Central de Transplantes do Ceará calcula 1.371
procedimentos realizados até 14 de outubro
de 2016.FOTO: Kid Junior
Paulo Roberto Vieira Bezerra só tem um ano e cinco meses e já enfrenta sua maior luta: pela própria vida. O menino, nascido em Canindé, município a 110 km de Fortaleza, convive com uma doença congênita no coração desde os três meses de idade e aguarda um transplante com urgência. O pequeno está internado na UTI pediátrica do Hospital do Coração Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, em Messejana, onde sobrevive há 30 dias com uma bomba artificial fazendo as funções do órgão.

Apelidado de "Paulinho" pela equipe do hospital, o menino passou por sucessivas cirurgias corretivas antes de chegar à unidade, no mês passado. No entanto, seu quadro clínico se revelou ainda mais complexo e o coração não conseguiu mais bater de forma autônoma. A máquina que reproduz os batimentos cardíacos foi implantada no peito dele até que a equipe médica optasse pelo transplante.

Marlene Freitas, professora e tia de Paulo, conta que o garoto tem sido forte. "O Paulinho está resistente porque, mesmo sedado, ele reage, chora, reconhece a nossa voz, pega na nossa mão. A sensação que a gente tem é que ele está dizendo ´Eu estou aqui, estou esperando´", conta. Ela diz que uma rede de apoio se formou em Canindé para torcer pela recuperação do menino e pede a sensibilização da sociedade acerca da doação de órgãos, seja para qual idade for.

Desafios

Assim como Paulinho, outros 865 pacientes aguardam um órgão na fila de transplantes no Ceará, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa). São 9 aguardando transplante de coração, 138 de fígado, 476 de rim, 7 de pâncreas, 7 de rim, 6 de pulmão e 223 de córnea. A Central de Transplantes da Sesa calcula 1.371 transplantes realizados até 14 de outubro de 2016. Em 2015, foram realizados durante todo o ano, 1.433procedimentos.

A cardiopediatra Isabel Maia, que acompanha o caso do menino Paulo, afirma que os dois maiores desafios dos transplantes são a resistência das famílias em realizar a doação dos órgãos de parentes falecidos e as características biológicas dos pacientes, que precisam receber um órgão do mesmo tipo sanguíneo. "Além disso, você não pode colocar um coração adulto numa criança. Ela tem de recebê-lo de um doador adequado, com tamanho, idade e peso adequados", explica.

As dificuldades refletem nas estatísticas de procedimentos cardíacos realizados no Hospital. Na unidade, cinco crianças aguardam um novo coração, embora quatro já tenham sido transplantadas em 2016. O número é maior que no ano passado, quando apenas dois transplantes cardíacos infantis foram realizados.

Renascer

Como o caso de Paulo Roberto é grave, seu nome está na lista de prioridades , que recebe notificações de doadores de Fortaleza e de outras cidades do Estado, como Crato e Juazeiro do Norte. Se for encontrado um doador compatível, a família do garoto será comunicada e ele fará novos exames para ser encaminhado ao procedimento.

Ontem, em outra sala do hospital, Davi Guedes, de 1 ano e 8 meses, fazia mais um exame de rotina, como se tornou comum às sextas-feiras. O dia 26 de abril deste ano foi marcado pela família como uma segunda data de nascimento, quando o menino recebeu um novo coração - após permanecer oito meses na fila de espera. "Em janeiro, recebemos a primeira ligação. Desistiram de doar. Em março, teve a segunda. Estava quase tudo certo para a cirurgia, mas voltaram atrás. Em abril, deu tudo certo, graças a Deus", emociona-se a mãe Karen Guedes.         (Diário do Nordeste)

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