Camarões na Ceagesp, em São Paulo.FOTO: Avener Prado
Camarão que dorme, a mancha branca leva. A doença –inofensiva ao homem, mas letal ao crustáceo– chegou em junho ao Ceará, responsável por metade da produção brasileira.

Com isso, o produto sumiu das prateleiras e, quando é encontrado, o preço chega a ser 50% superior ao cobrado no início do ano, reclamam donos de restaurantes especializados no fruto do mar.

O camarão mais utilizado pelo setor alimentício é produzido em cativeiro principalmente no Rio Grande do Norte e no Ceará.

A contaminação pela mancha branca fez a produção cearense cair 30%, afirma Itamar Rocha, presidente da ABCC (associação de criadores do crustáceo no país).

Assim, enquanto no ano passado o volume total produzido foi de 76 mil toneladas, a projeção é que neste ano ele não passe de 60 mil toneladas, segundo Rocha.

Com isso, o preço por grama de um camarão médio do Ceará passou de R$ 1,45 em janeiro para R$ 2,10 em setembro –alta de 45%, segundo dados da ABCC.

Ronald Aguiar, sócio da Coco Bambu, disse estar pagando 50% mais pelo produto em comparação a um ano atrás. "Não para todo o mundo que precisa. Quando tem, o preço está estourado", diz.

Os 26 restaurantes da rede usam 1.200 toneladas do crustáceo por ano, afirma.

A Vivenda do Camarão está passando pela mesma situação, diz o sócio Rodrigo Perri. Os mais de 150 restaurantes da rede usam em média 130 toneladas por mês.

"O preço do camarão foi o que mais subiu desde o Plano Real", diz, citando pesquisa da Fipe divulgada em 2014 que apontou um crescimento de 1.254% no valor do alimento desde 1994.

Os problemas com fornecimento e preços fizeram a empresa adquirir há dois meses duas fazendas desativadas de camarão para fazer sua própria produção.

Para prevenir doenças e aumentar a produtividade, a criação vai copiar modelo adotado nos Estados Unidos e no México, afirma Perri.

A meta é produzir 150 toneladas de camarão por mês no primeiro semestre e, no futuro, chegar a um volume suficiente para exportar.

IMPORTAÇÃO

O setor alimentício reclama das dificuldades de importar camarão de parceiros. Barreiras fitossanitárias impedem que a escassez interna seja preenchida pela oferta de crustáceos estrangeiros, afirmam os empresários.

Eles reclamam que a produção brasileira está estagnada e não consegue suprir a demanda do setor há anos.

Dados da Aliança Global de Aquicultura mostram a produção brasileira estável desde 2011, abaixo das 100 mil toneladas por ano. A projeção é que a situação não se altere até pelo menos 2018.

"A falta de camarão é um problema grave no Brasil. Ele foi agravado pela doença, mas é uma questão histórica", diz Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.

Segundo ele, o consumidor terá dificuldade em encontrar camarões no cardápio neste verão, época de alta temporada para frutos do mar, e, quem encontrar terá que se preparar para pagar mais.

Já Rocha, da ABCC, diz que o nível de produção está se normalizando e que não deve haver mais problemas.

Ele também defende as barreiras às importações. "São 34 doenças de camarão no mundo. Imagina isso no Brasil, onde não temos apoio. Ainda temos muito potencial de exploração", afirma.                       (Folha de São Paulo)

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