População inicia mobilização para a I Marcha Popular
das Águas na Região, que deve ocorrer em
março de 2017.FOTO: Serena Morais
As obras do Cinturão das Águas do Ceará (CAC) voltaram a ser debatidas pela população do Cariri. Mesmo prometendo ser a solução para os problemas de abastecimento de água na região, organizações sociais discordam, em parte, e questionam os impactos que as comunidades, principalmente rurais, enfrentam desde que o projeto foi iniciado.

Para o Fórum Popular das Águas do Cariri (FOPAC), criado justamente para debater as consequências das obras hídricas na região, é preciso articular a população para refletir sobre o modelo de gerenciamento de águas, não só na região, mas em todo o estado do Ceará. Além disso, propor agenda de lutas para debater com os gestores públicos em 2017.

Liro Nobre compõe a Comissão de Comunicação do FOPAC. Na sua visão, o Cinturão das Águas do Cariri (CAC) deve ser analisado sobre o prisma de qual objetivo realmente se propõe. “Até agora, o modelo de gestão hídrica na região e seus projetos de Transposição do São Francisco se apresentam como ameaças, não só ao rio como àquelas famílias que estão sendo desabrigadas”.

De acordo com Nobre, a transposição pode agravar a situação de estiagem, que já se prolonga por mais de cinco anos na região, em vez de resolvê-la, como assim se propõe. Ele reside na comunidade Baixio das Palmeiras, em Crato, um dos pontos alcançados pela obra, e se diz impactado negativamente. Na localidade, famílias foram desabrigadas e estão sem acesso à água. Como é o caso da agricultora Ana Amélia, de mais de 70 anos.

“Se levarmos em consideração que 93% do estado é de semiárido, e a concentração de água está estocada em grandes “reservatórios” longe das comunidades, principalmente as agrícolas, então é fato que a água será mais consumida pelo sol do que pelas pessoas. Então, para quem realmente serve as obras do São Francisco que seguem o mesmo modelo de gestão hídrica? Provavelmente, para beneficiar as grandes construtoras”, especula Liro.

Ele cita, inclusive, o crescimento do orçamento desde o início da execução da obra em 2007, que era de R$ 4 bilhões, com previsão de conclusão para 2015. No entanto, estima-se que o projeto supere os R$ 10 bilhões, sendo que a obra continua inacabada. Angelita Maciel, que integra a Cáritas Diocesana - em rede com FOPAC -, acrescenta que a estiagem é um fenômeno previsível e não se concebe esse modelo de combate à seca, que está ultrapassado. “Deve-se pensar em convivência com a seca.”

Ela chama atenção para algumas atividades do agronegócio no estado, que demandam muita água, enquanto a própria população fica sem acesso. “A legislação é clara: em caso de escassez, priorizar água para o consumo humano. E não é isso que está acontecendo. Por isso, é importante conscientizar as comunidades sobre os impactos dessas grandes obras, realizar um diagnóstico da questão hídrica na região do Cariri e articularmos à luta estadual pela descentralização do uso da água e pela execução da política hídrica por parte do governo local.”

Além disso, a mobilização quer sensibilizar as comunidades para a realização da I Marcha Popular das Águas na região, que acontecerá em março de 2017, e divulgar uma carta de intenção aos representantes políticos e sociedade.      (Jornal do Cariri)

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