Agrícola Famosa, produtora de melão, demitiu 2,5 mil
trabalhadores de plantações no Ceará
este ano. FOTO: Edimar Soares
A convivência com a seca no Sertão do Ceará é realidade para trabalhadores e empresários. Plantio, pecuária e psicultura são subsetores do agronegócio impactados pela escassez de água. A prioridade é o consumo humano e a vazão do recurso para os negócios diminuiu. Enquanto soluções como a transposição das águas do rio São Francisco, o reúso do esgoto tratado de Fortaleza e a dessalinização do mar não acontecem, empresas, para não perder produção, migram para outros estados, o que atinge empregos no Ceará.
O Governo do Estado afirma que ainda é necessário reduzir mais na atividade da agricultura acima do Castanhão. “Já estamos economizando muito lá e prejudicando a economia rural, que sustenta o emprego no interior do Estado”, afirma Francisco Teixeira, secretário dos Recursos Hídricos do Ceará. O que antes se tinha uma vazão do açude de 20 m³ (20 mil litros) por segundo, caiu para 15 m³/s e hoje se está com menos de 5 m³/s. “O racionamento no Jaguaribe já é de 75% de água. Mas como agricultura consome mais e abastecimento humano é prioritário, a gente tem que cortar”.
O que ainda segura parte da produção no Estado são as reservas aquíferas subterrâneas, alcançadas por meio de poços profundos de cerca de 350 m. Mas na Agrícola Famosa, por exemplo, empresa de Luiz Roberto Barcelos, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), seu plantio de fruticultura migrou do Ceará para estados com mais condições hídricas, como Piauí. “Por enquanto resistimos na Chapada do Apodi”, diz.
Foram 2,5 mil hectares deixados para traz pela empresa no Estado que migraram para outras regiões. Cada hectare equivale a um emprego, consequentemente, foram 2,5 mil trabalhadores demitidos. “Não tem água no Tabuleiro de Russas. E mesmo na Chapada há problema de escassez. O solo do Ceará tem muito cristalino, não é favorável para o acúmulo de água subterrânea”, diz.
Carlos Prado, presidente da Itaueira Agropecuária e da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA Brasil), produz anualmente 2,7 mil hectares de fruticultura. Até o ano passado 1,2 mil hectares eram no Ceará, mas a falta de água forçou a empresa a migrar para Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte. Hoje a plantação da Itaueira aqui caiu para 270 hectares.
O reflexo da migração é a perda de empregos no Estado. “Em Aracati deixamos de plantar mil hectares. Mil pessoas deixaram de trabalhar”, diz. Alberto Bessa Júnior, presidente do Conselho de Agronegócio (Conag) da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), contabiliza 20 mil demissões na agricultura irrigada e queda de 50% nas plantações.                    (O Povo)
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