O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a doença que mais mata no Ceará. Por ano, são cerca de 4.500 óbitos decorrentes de AVC, conforme levantamento da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). No entanto, o dado mais alarmante é que 90% desses casos poderiam ter sido evitados. Entre os motivos estão a falta de atenção da população aos primeiros sintomas, a falta de acompanhamento em relação aos fatores de risco e a demora para atendimento adequado.

"Apesar do nome, a maior parte dos AVCs não é considerada acidente. Se estivermos com os fatores de risco, como a pressão alta, sedentarismo, diabetes, dieta inadequada, uso abusivo de álcool, estresse crônico e arritmia cardíaca sob controle não teremos risco", assegura o neurologista e presidente do Comitê Estadual de Atenção ao AVC, João José Carvalho.

O médico revela que somente 21% dos pacientes chegam a tempo de receber o tratamento trombolítico nas emergências. "Cerca de 80% dos AVCs são do tipo isquêmico, que é aquele que existe tratamento com medicação injetável, que deve ser administrada até 4h30 do início dos sintomas. Os pacientes deveriam chegar em 60 minutos porque o efeito da medicação diminui com o tempo. No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), apenas 30% chega dentro dessa janela", esclarece o neurologista, que é também chefe da unidade de AVC do Hospital geral de Fortaleza (HGF).

Um dos focos do trabalho para conseguir maior agilidade e, consequentemente, prejuízos menores para os pacientes é garantir o diagnóstico precoce. Por isso, nesta semana, foi lançado o Protocolo de Atendimento Pré-Hospitalar ao paciente vítima do AVC do Samu 192 Ceará. Orientado pelo Ministério da Saúde para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o protocolo trata da padronização da intervenção e da regulação médica dos casos de AVC, bem como do relatório de atendimento específico do agravo. Para João José, a iniciativa vai permitir atendimento uniforme a todos os pacientes.

Samu

A Sesa calcula que menos de 10% dos pacientes são conduzidos pelo Samu, que é acionado em apenas 12% dos casos. No entanto, se percebe que neste ano já houve um aumento de atendimentos em relação a 2015. Foram 760 atendimentos a chamadas no ano passado em todo o Ceará e, em 2016, 819 até setembro. Nesta quarta-feira (2), o treinamento será com os profissionais das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). "Os profissionais não têm preparo para perceber o início de um Acidente Vascular Cerebral. É um fenômeno não só do Estado, como também nacional. Por isso que a gente trabalha a educação, tanto dos profissionais da Saúde como da população".

Referência no assunto, a Unidade de AVC do Hospital Geral de Fortaleza atende, por mês, cerca de 240 pessoas que chegam pela emergência. Por ano, são 1.900 vítimas. Apenas 800 chegam a ser internadas na unidade. E os demais recebem diagnóstico, têm tratamento elaborado e são encaminhados para hospitais de apoio, que absorvem a demanda. No primeiro ano de funcionamento, a Unidade de AVC do HGF atendeu 1.400 pacientes. "Não temos como absorver mais gente. Esse número vem se mantendo fixo e a capacidade se mantém constante", explica o neurologista João José Carvalho.

Um desses pacientes atendidos pela Unidade de AVC é o mecânico aposentado Germano Melo Neto, 67. Internado desde o último dia 26, ele viveu o terceiro derrame cerebral e, graças à percepção rápida que estava tendo o AVC, conseguiu chegar dentro da janela para tratamento.

"Eu senti uma paralisia facial, a voz ficando diferente. A gente foi ao Hospital de Aquiraz e lá eles encaminharam para o HGF. Aqui, eu tomei o trombolítico e estou sendo atendido por muitos profissionais", explica ele, que não tem previsão de alta ainda porque os especialistas estão investigando as causas para esses episódios recorrentes.

Avanço

Apesar dos números ainda altos e da recorrência da doença no estado, existem, sim, motivos para se comemorar, pois a quantidade de mortes por Acidente Vascular cerebral vem diminuindo nos últimos anos: em 2013, o número de óbitos foi de 4.598; em 2014, foram 4.424 e em 2015 um total de 4.716.

A explicação é que há um acompanhamento maior de doenças relacionadas aos fatores de risco, como diabetes e hipertensão. "O Programa Nacional de Medicamentos ajudou bastante e fez com que esses remédios cheguem à população", avalia o neurologista. Outro ponto é a mudança de comportamento por uma rotina mais saudável.                  (Diário do Nordeste)

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