Até dezembro, 1.797 transplantes de órgãos aconteceram no Ceará. FOTO: Raquel Oliveira |
Desde que nasceu, Ariely ficou internada na UTI do Hospital de Messejana Carlos Alberto Studart Gomes (HM), de onde saiu segunda-feira (19). Natural de Paraú, no Rio Grande do Norte, a bebê foi transferida para o Ceará um dia após o parto quando foi diagnosticada a cardiopatia. A irmã gêmea dela, Adriely, nasceu sem complicações de saúde e ficou sob os cuidados de uma tia, do pai e do irmão de 9 anos na cidade natal. Mirian deixou em casa os filhos pequenos, o marido, vidas e planos visando buscar a esperança para a filha mais nova em Fortaleza. Encontrou muito mais. "Eu mudei muito este ano, a partir do problema da minha filha. Eu pensava que sentia dor pelo próximo. Eu não sentia. Sei hoje. Sou muito mais humilde e mais solidária. Minha fé aumentou e eu me sinto muito mais forte", confessa Mirian, que também ganhou o apoio da enteada Kezia Herculano, 26.
As duas não tinham uma relação próxima. Kézia mora em Fortaleza. Mirian, no Rio Grande do Norte. E foi a doença de Ariely que fez com que elas encurtassem as distâncias. "Ela se apaixonou pela menina assim que a viu na UTI. Fez tudo o que podia e hoje estamos morando na casa dela", conta a madrasta, que já planeja trazer os filhos para o fim de ano juntos em Fortaleza. É a saudade que não saiu do peito da mãe.
Para a irmã mais velha de Ariely, 2016 foi um ano de mudança de planos. "Mudou tudo. Eu tinha planos de terminar minha faculdade de Geografia, morar fora e ter filhos. Agora, eu adiei pra poder cuidar mais dela. Ela vai ficar morando aqui comigo pelo menos por um ano, que é o tempo em que os médicos pedem para acompanhar de perto", conta a irmã.
O que mudou também é que a família do pequeno milagre também passou a entender um pouco mais sobre o universo da cardiopatia e da doação de órgãos. "Hoje, a gente entende o quanto isso é importante. Na nossa necessidade, eu decidi me tornar doadora de órgãos", reflete Kézia, que é também uma entusiasta da doação.
Procedimento
Na primeira tentativa de transplante de Ariely, a família desistiu de doar os órgãos e a menina quase morreu. Não havia mais tempo. Até que apareceu um novo doador. "É preciso que as pessoas entendam que a dor delas pode se transformar em vida", catequiza a jovem. Outras pessoas entenderam e, por isso, o Ceará, em 2016, bateu o recorde em transplantes de coração da história. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), foram realizados 32. Já são 367 procedimentos desde 1998, quando foi implantada a Central de Transplantes.
Até o dia 21 de dezembro, haviam sido realizados 1.797 transplantes de órgãos sólidos, células e tecidos no Ceará. Foram 1.235 transplantes de córnea, 91 de medulas (Autólogo e Alogênico), 239 de rins, 188 de fígados e cinco de pulmão, de acordo com levantamento da Sesa. Os números mostram que o movimento da doação de órgãos é crescente e que o Estado se tornou uma referência no País no assunto. O grande desafio em 2017 é diminuir a recusa das famílias e também efetivar as doações. "Sou muito grata a Deus e à família que proporcionou a doação do coração da minha filha. Os médicos disseram que era muito difícil conseguir um coração compatível e deu certo. Era Deus agindo o tempo inteiro", conta emocionada Mirian.
Promovida pela Fundação Edson Queiroz visando incentivar a doação voluntária de órgãos, a campanha "Doe de Coração" chegou, em 2016, aos 14 anos de existência. O movimento tem atuado na disseminação de informações e na conscientização da sociedade sobre a importância de se tornar doador de órgãos e, assim, salvar outras vidas.
A iniciativa acontece tradicionalmente no mês de setembro, por meio de veiculação publicitária em jornal, TV aberta e fechada, distribuição de cartilhas, cartazes e camisetas, além da promoção de eventos. (Diário do Nordeste)
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