Todo ano a casa, que é conduzida pelas próprias
crianças, passa por um ritual de renovação para celebrar
o seu aniversário.FOTO: André Costa
Criada em 1992, com o objetivo de proporcionar a crianças e jovens e seus familiares, formação social e cultural, a Organização Não-Governamental (ONG) Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri completa nesta segunda-feira, 24 anos de existência. A celebração da data, no entanto, já começa hoje, com uma vasta programação, que inclui rodas de conversas, palestras e shows culturais com cinco bandas de Nova Olinda e do Rio de Janeiro.

A programação se estende até a próxima segunda-feira, quando acontece a tradicional renovação na Fundação Casa Grande. "A Renovação marca o dia de renovar a ligação com o Sagrado Coração de Jesus", pontua Alemberg Quindins, presidente da Fundação.

Para celebrar o aniversário, a sala de entrada da Casa, com a parede revista de imagens que retratam o Sagrado e transmitem a proteção aos moradores, numa espécie de santuário, foi completamente restaurada, a exemplo de toda a sede.

Além dos cantos, rezas e pedidos com devoção os quais singularizam a festa, o dia 19 terá ainda a apresentação artística de grupos de folclore popular do Cariri, como a Banda Cabaçal Irmãos Aniceto, que marcam presença na festança desde o primeiro ano de renovação da Casa.

O secretário de Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos Piuba, lançará, à noite, edital do Governo intitulado "Cultura da Infância".

Peso histórico

A ONG é considerada, atualmente, uma das mais importantes do País no que se refere ao protagonismo infanto-juvenil. Em 24 anos, mais de 600 já foram atendidas pela Fundação dentro dos seus cinco programas: Educação Infantil; Profissionalização de Jovens; Empreendedorismo Social; Geração de Renda Familiar e Sustentabilidade Institucional. O hino da Fundação, inclusive, trás à tona seu protagonismo umbilical.

Composto pelo cantor Moraes Moreira, exalta a importância da sede que por si só já carrega um peso histórico. A ONG está situada na casa que deu origem à cidade de Nova Olinda, município com pouco mais de 14 mil habitantes, na região do Cariri.

"Essa casa é tão bonita; quanto a gente que habita; desde a rua até a porta; e da sala de visita; até o fundo do quintal; todo mundo acredita; num objetivo igual", inicia o hino.

Protagonismo

A Casa à qual o músico e compositor baiano faz referência em sua letra é onde as crianças e adolescentes passam a maior parte do dia envolvidas em diversos projetos. São elas que assumem o protagonismo da Fundação desde cedo, conforme conta Júnior dos Santos, um dos diretores da ONG.

Os milhares de turistas que visitam a Casa Grande anualmente se deparam com guias sui generis. São as próprias crianças, com idade entre 5 e 14 anos, que os conduzem pelos cômodos da sede e narram, com autoridade, a história do povo que habitou a Região do Cariri no passado. A estatura ainda pequenina de Maria Valentia, jovem de apenas 7 anos, não faz jus ao seu agigantado talento com as palavras.

Assim como todas as crianças que ingressam na casa, ela iniciou como recepcionista e foi conquistando espaços. Hoje é uma das guias do Memorial, que tem direção da também jovem Yasmim Pereira, de 11 anos. "Cheguei aqui na Fundação quase recém-nascida. Aprendi muita coisa e, há três anos, estou na direção do Museu", conta toda orgulhosa.

As duas integram a equipe mirim dos jovens que conduzem, também, a rádio comunitária da Casa. Juntos, os pequenos participam da DVDteca, biblioteca, gibiteca e discoteca. Todo material que compõe esses espaços na Casa são selecionados, segundo Alemberg, para formação cultural das crianças que também são ensinadas a manusear equipamentos mais sofisticados, como os que compõem o laboratório de informática, TV e rádio. Esses projetos, inclusive, estão integrados à Fundação há mais de duas décadas.

Pioneirismo

Um dos primeiros cinegrafistas profissionais do interior cearense foi também um dos que primeiro integraram o quadro de professores voluntários da ONG de Nova Olinda. Laerto Xenofonte, 48, relembra, com saudosismo, a época em que ensinou audiovisual para um grupo de nove jovens, todos com menos de 10 anos de idade.

"Logo após a criação da Casa Grande, o Alemberg conseguiu um equipamento completo de TV, com ilha de edição, câmeras e iluminação. Então ele decidiu criar um curso nessa área e eu fui o primeiro professor. Para mim foi e sempre será uma honra, pois eu ajudei na formação daqueles jovens que hoje desempenham papéis importantes na sociedade", conta.

"Naquela época, já era fácil notar que todas tinham muito talento e vontade de aprender. Mas acredito que, se não fosse o apoio da Casa Grande, algumas poderiam ter desperdiçado o talento. A Fundação sempre ofereceu excelente suporte, acolhe muito bem as crianças, tem professores capacitados e os jovens participam de várias atividades extras, como os intercâmbios. Muito do sucesso de hoje dessas pessoas, deve-se à Fundação", finaliza Xenofonte.

Projetos

Ao longo dos 24 anos, diversos projetos foram desenvolvidos, a exemplo da Agência de Turismo Comunitário, cujo objetivo é impulsionar o segmento na cidade e gerar renda às famílias. Júnior, que coordena o projeto, explica que a atividade começou voluntariamente em meados de 1998 e, ao passo em que cresceu a demanda, surgiu a necessidade de "organização e estruturação do lar". "Só em 2009 a Fundação Casa Grande passou a instituir o Turismo de Base Comunitária", pontuou. Anualmente, mais de 400 turistas são recebidos pela Agência. Eles são acomodados em um dos 16 leitos instalados em dez casas, sendo oito delas na zona urbana da cidade, a um raio de 5 minutos até a Fundação, no Centro.

De acordo com Alemberg Quindins, além de proporcionar um turismo segmentado, o projeto promove a inclusão social e gera incremento na renda das famílias que estão direta e indiretamente envolvidas. Por ano, o projeto pioneiro chega a movimentar mais de R$ 40 mil e passou a servir de exemplo para outras comunidades que começaram a investir neste estilo de turismo, muito procurado.

Cada diária custa o valor único de R$ 70, inclusos café da manhã, almoço e jantar. Os quartos seguem um padrão e são equipados com televisão, cama, rede, ventilador, banheiro e estante de livros, tudo adquirido com recursos da Fundação. "A renda da diária visa ajudar, sobretudo, as famílias dos meninos e meninas que fazem parte da Fundação, para evitar que eles tenham que deixar as atividades na Casa Grande para trabalhar e ajudar no complemento financeiro da família", explica Júnior dos Santos, ao acrescentar que o objetivo do projeto é também integrar o visitante à cultura local.

Reconhecimento

Diante tantos projetos, a Fundação acumula, ao longo dos anos, prêmios em reconhecimento ao importante serviço prestado à região. Um dos mais relevantes, a ordem do Mérito Cultural, maior comenda do Ministério da Cultura, foi entregue durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mais informações:

Fundação Casa Grande
Endereço: Jeremias Pereira, 444 - Centro - Nova Olinda
Telefone: (88) 3546.1333            
Site: www.fundacaocasagrande.org.br                          
 (Diário do Nordeste)

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