Brasil. Além de modificar os planos dos trabalhadores brasileiros, a Reforma da Previdência também deverá impactar sobremaneira o mercado de trabalho, sendo incerto se haverá espaço para todos. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o fechamento de postos de trabalho no País ocorreram mais acentuadamente nas faixas etárias a partir de 25 anos, com destaque à faixa de 50-64 anos, que perdeu mais de 330 mil vagas de janeiro a outubro de 2016. 
Na avaliação de Erle Mesquita, coordenador de Estudos e Análise de Mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), a proposta enviada pelo governo, embora leve em conta os efeitos do prolongamento da vida média do brasileiro, desconsidera as características do mercado de trabalho nacional. “É um mercado de forte rotatividade, em que as pessoas alternam períodos de trabalho e de desemprego”, pontua. 
Mesquita aponta que o tempo médio de permanência de uma pessoa em uma empresa é de apenas quatro anos, considerando trabalhadores com carteira assinada e também servidores públicos. “Com a regra de trabalhar até completar 49 anos de contribuição para requerer a aposentadoria integral, os trabalhadores terão que arranjar durante a vida, no mínimo, de dez a doze empregos”, pontua, 
Outro dado que reforça o caráter rotativo do mercado de trabalho é a dificuldade de recolocação em períodos de dificuldade econômica. Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), por exemplo, segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), os desempregados estão levando em média oito meses para conseguir se reinserir no mercado. 
“Mesmo que se consiga vários trabalhos, essas pessoas não vão conseguir se aposentar”, afirma o especialista, embasado nos dados coletados mensalmente pela pesquisa. 
Mais dificuldades 
Há também o aspecto de que, quanto maior a idade, principalmente após os 40 anos, mais difícil é de se recolocar. Só para se ter uma ideia, segundo dados do Caged de janeiro a outubro deste ano, o Brasil admitiu 12,2 milhões de pessoas, das quais apenas 2,5 milhões tinham mais de 40 anos, um percentual de 21%. Já nas demissões, que totalizaram em torno de 13 milhões, 3,2 milhões tinham mais de 40, o equivalente a 24,5% do total. 
Em relação ao saldo de empregos no País, Mesquita destacou que quatro em cada cinco demissões atingiram pessoas com mais de 40 anos. De cerca de 792 mil postos de trabalho que foram fechados de janeiro a outubro, 648 mil atingiram pessoas dessa faixa etária, o equivalente a 81% do total. Nesse período, apenas nas faixas de até 24 anos ainda houve um cenário positivo de criação de empregos. 
“Cada vez mais, a gente percebe que essa população com mais idade acaba tendo uma representação maior na quantidade de demissões”, alertou o coordenador. Ele explica que, provavelmente, são funcionários que acumularam promoções durante a carreira e, como a legislação não permite reduzir o vencimento, as empresas acabam demitindo esses profissionais e contratando pessoas mais jovens a salários mais baixos. 
“Com o aumento do tempo mínimo de contribuição de 15 para 25 anos, acaba sendo um ponto quase inatingível para grande parte da população”, alerta Mesquita. Ele avalia ainda que o governo não tem inovado em alternativas para assegurar a Previdência. 
“Na RMF, oito em cada dez autônomos não contribuem. Mesmo com alguns avanços, como a possibilidade de que microempreendedores contribuam, algumas pessoas não têm essa capacidade”. 
O economista Ediran Teixeira, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), acrescentou ainda que o mercado atual é excludente tanto aos mais jovens, por preconceito quanto à questão de experiência, quanto aos profissionais acima de 40 anos. “A exclusão vai continuar com a recuperação da economia, é a lógica do mercado”, pontua. 
Concorrência
Por outro lado, o analista de Mercado de Trabalho do IDT, Mardônio Costa avalia que as mudanças provocadas pela reforma terão como consequência o aumento da concorrência no mercado de trabalho. 
“Pessoas mais jovens, com menos escolaridade e até mesmo mulheres terão menos espaço por conta do preconceito do mercado, que favorece quem tem experiência”, analisa.
O especialista também aponta que redes de supermercados, por exemplo, tem valorizado profissionais com mais experiência e melhores relações interpessoais. “Como essas pessoas têm mais experiência, vai elevar a concorrência por um posto de trabalho, dificultando um inserção que já é difícil para o jovem”, aponta o analista.
O analista de mercado avalia ainda que o governo federal precisará implementar políticas públicas de trabalho para enfrentar tais problemas futuros e evitar um índice de desemprego ainda maior do que o atual. Costa acrescenta ainda que, para ter espaço para todo mundo no mercado de trabalho, a economia terá sempre de crescer em um ritmo cada vez mais intenso para gerar novas vagas.            (Diário do Nordeste)

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