Mãos e pés inchados e dormentes, caroços nos cotovelos ou no corpo, dores ou choques em nervos dos braços e pernas, lesão ou área de pele com alteração de sensibilidade, orelhas infiltradas, nariz infiltrado e entupido (sem secreção nasal), sobrancelhas infiltradas e com queda de pelos. Esses são alguns dos sintomas da hanseníase, doença infecciosa de evolução lenta e que se manifesta por meio de lesões cutâneas ou neurais. Ontem foi o Dia Mundial de Luta Contra a Hanseníase, e o alerta para a população é sobre a importância do diagnóstico precoce para evitar sequelas.
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa/CE), já foram notificados seis novos casos da doença somente no primeiro mês deste ano. Em 2016, o total foi de 1.538, sendo maior incidência entre crianças menores de 15 anos, com 87 casos. O Estado tem seis municípios de atenção prioritária, que são Fortaleza, Crato, Icó, Iguatu, Juazeiro do Norte e Sobral, ambos representam 45,3% das notificações, com taxa de detecção de 17,27 por 100 mil habitantes.
Segundo a articuladora estadual do Programa Hanseníase da Sesa, Gerlânia Martins, os bairros da Regional V, em Fortaleza, são os que apresentam maior incidência. No entanto, ressalta que o aumento de casos é relativo e o número de notificação depende do trabalho de investigação e detecção por parte dos agentes de saúde. “Onde se busca, surge novos casos”, disse. Ainda de acordo com Gerlânia, a meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é eliminar a hanseníase até 2020.
O Brasil é o segundo país com o maior número de pacientes, são 30 mil novos casos diagnosticados por ano e, em média, 7% desse total são diagnosticados com alguma sequela. As crianças e os adolescentes são os maiores acometidos pela hanseníase, cerca de dois mil pacientes (6%). Na avaliação da articuladora, o aumento de casos em menores de 15 anos é preocupante. “A hanseníase não tem preferência por idade, raça, condição social. Raramente é para adoecer pessoas com menos de 15 anos, mesmo assim estão sendo registrados casos nessa faixa etária, e isso preocupa. O que precisamos é tirar o bacilo de circulação”, afirmou.
Segundo o coordenador do Departamento de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Egon Daxbacher, a transmissão do M. leprae se dá através de contato próximo e contínuo com o paciente não tratado. “Apesar de ser uma doença da pele, é transmitida através de gotículas que saem do nariz, ou através da saliva do paciente. Afeta primordialmente a pele, mas pode afetar também os olhos, os nervos periféricos e, eventualmente, outros órgãos. Ao penetrar no organismo, a bactéria inicia uma luta com o sistema imunológico do paciente. O período em que a bactéria fica escondida ou adormecida no organismo é prolongado, e pode variar de dois a sete anos”, explica o médico.
A articuladora estadual do Programa Hanseníase, Gerlânia Martins, tranquiliza a população, afirmando que a doença tem cura e salienta que é preciso acabar com o preconceito. Portanto, durante todo o mês de janeiro, conhecido como “Janeiro Roxo”, várias palestras e atividades informativas são realizadas para que a população se conscientize da doença. O Dia Mundial de Luta Contra a Hanseníase é comemorado sempre no último domingo de janeiro.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce ajuda a promover o tratamento correto, aumentando as possibilidades de cura sem sequelas. Pode ser feito na atenção primária e envolve a avaliação clínica do paciente, com aplicação de testes de sensibilidade, palpação de nervos, avaliação da força motora.
Se o médico desconfiar de alguma mancha ou caroço no corpo, será solicitada uma biopsia ou exame laboratorial para medir a quantidade de bacilos. O exame laboratorial irá identificar se a hanseníase é paucibacilar, com pouco ou nenhum bacilo, ou multibacilar, com muitos bacilos. De acordo com Gerlânia, o tratamento varia de seis a 12 meses. “Quanto mais precoce o diagnóstico, mais rápido será o tratamento, que é totalmente gratuito”, destacou.
A recomendação, no entanto, é que familiares ou pessoas próximas a um doente com o diagnóstico procurem um médico para uma avaliação e indica imunizar-se com a vacina BCG. A Sesa também alerta que a investigação é obrigatória e a notificação é compulsória em todo país.
Sequelas
A hanseníase pode provocar graves incapacidades físicas se o diagnóstico demorar ou se o tratamento for inadequado. Gerlânia destaca que se o tratamento não for feito corretamente ou a descoberta ter sido tarde, as sequelas podem ser, ainda, a perda de sobrancelha, deformidade, nariz abalado. “A gente quer diagnosticar de início aquela mancha que não coça, não incomoda, e que pode ser hanseníase”, disse.
Atendimento
Na rede pública estadual, há o Centro de Dermatologia Sanitária Dona Libânia que é referência em atendimento a pacientes com hanseníase. O Dona Libânia fica na Rua Pedro I, 1033, Centro, e atende de segunda a sexta-feira, das 7 às 17 horas. Para pacientes com hanseníase, a demanda é espontânea, ou seja, a primeira consulta não precisa de encaminhamento.

(O Estado CE)                                   Ceará

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