O acervo arqueológico foi documentado
há dois anos pela doutora em Arqueologia
Rosiane Limaverde. No ano seguinte, Paulo
Eduardo Rolim atualizou a catalogação e
constatou o desaparecimento de peças.
FOTO: André Costa - Giovanna Duarte.
Crato. O Museu Histórico deste município já possuiu um dos mais importante acervos do Cariri, com cerca de mil peças que contavam a história da cidade e de boa parte da região, a começar pela arte dos índios Cariri, que deixaram importantes marcas de sua civilização. Entretanto, as memórias preservadas no Museu, que remontam o século XIX, traduzidas em peças históricas, correm o risco de se apagar devido aos sucessivos desaparecimentos de peças.
Criado pelo Instituto Cultural do Cariri, em 1958, com o nome de Itaytera, o Museu Histórico do Crato, foi instalado oficialmente em 21 de junho de 1970, após o escritor e historiador José Alves de Figueiredo Filho ter doado à Prefeitura as peças que mantinha em sua residência.
"O material em exposição era formado por doações de familiares de personagens da história da região, que confiavam pertences de seus antepassados à credibilidade pessoal do historiador e do Instituto Cultural do Cariri, criado por meu avô", relembra Flamínio Figueiredo de Alencar Araripe, neto de José Alves de Figueiredo.
De acordo com o geógrafo Paulo Eduardo Rolim Campos, a instituição já recebeu os nomes de Museu de Crato, Museu Itaytera e Museu Histórico J. De Figueiredo Filho. Em 1970, foi incorporado pela Prefeitura, passando a ser um equipamento público, com a denominação atual.
Desaparecimento
Todo o acervo arqueológico foi documentado há dois anos pela doutora em Arqueologia Rosiane Limaverde. No ano seguinte, Paulo Eduardo Rolim atualizou a catalogação e constatou o desaparecimento de algumas peças. Conforme relata Flamínio, "desde 1970, ao longo da gestão de diversos prefeitos, desapareceram peças do acervo de Arqueologia e outras".
No exame dos registros da Prefeitura, Paulo Eduardo percebeu as notificações do desaparecimento de louça de índio em barro e de um cachimbo com característica da arte inca, recolhido em escavações numa ladeira perto de Exu (PE). Também sumiu um colar de Jadeite que, "por ter sido confeccionado com pedra preciosa, acabou atraindo a cobiça e sendo motivo de furto", afirma o geógrafo.
Ainda segundo ele, também sumiram a igaçada, mãos de pilão esculpidas, armas de pedra polida e cachimbo Cariri Inxú, conforme relatório de 2013 da administração do Museu. "Essa coleção está atualmente incompleta e há indícios de furto de peças", afirmou Rosiane Limaverde. Flamínio acrescenta que "notou a ausência da espada, algumas condecorações, quadros e outros objetos, um visível esvaziamento do que constituía o acervo original".
Até mesmo o nome de José Alves de Figueiredo Filho, doador das peças e cujo nome estava estampado na parede do Museu, foi apagado com uma nova pintura na gestão anterior. "Causa estupefação. Meu avô dedicou anos de sua vida e um espaço da sua residência para formar o museu", lamenta Flamínio.
O secretário de Cultura, José Wilton Soares e Silva, não respondeu diretamente as acusações de que o acervo estaria desaparecendo, mas pontuou que "já está sendo providenciado um catálogo atualizado do acervo para identificar todas essas questões". Wilton Dedé, como é conhecido, explica que já foi feito um inventário do local e destaca que a documentação, bem como a escritura do Museu, já foi regularizada junto ao cartório.
"Era uma questão que impossibilitava toda e qualquer verba externa, por exemplo, do Ministério da Cultura. Com tudo resolvido, vamos levantar a situação do Museu, que terá um novo presidente nomeado nos próximos dias, e, a partir de então, promoveremos melhorias", assegura.
Parceria
Paulo Eduardo sugere que seja estabelecida uma parceria entre o Museu Histórico do Crato e o Instituto de Arqueologia do Cariri (ICA), órgão da Universidade Regional do Cariri (Urca), criado em parceria com a Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a Universidade de Coimbra.
O ICA está localizado no município de Nova Olinda e conta, além do museu/memorial, com laboratório e reserva técnica. Segundo o geógrafo, a organização não tem poupado esforços no sentindo de desenvolver um trabalho de valorização da pré-história do homem Kariri. "A instituição é a única voltada para o Ensino Superior no âmbito da Arqueologia em todo o Estado do Ceará", acrescenta, ao destacar que "o ICA desenvolve uma arqueologia social inclusiva, por meio de atividades de educação patrimonial voltada para conservação e preservação de sítios arqueológicos da região".
Mais informações:
Secretaria de Cultura do Crato
Telefone: (88) 3521-9600
Instituto de Arqueologia do Cariri
Rua Jeremias Pereira, 470
Telefone: (88) 3546-1333                      (Diário do Nordeste)

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