Fortaleza. General Sampaio, na região Norte do Ceará, está entre os municípios de até cem mil habitantes com a maior proporção de suspeitas de chikungunya no País. Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, a cidade, de cerca de seis mil habitantes, teve 346 casos suspeitos de 1º de janeiro até o dia 13 de maio - os dados mais recentes disponíveis. Isso representa uma taxa de cerca de cinco mil casos para cada cem mil habitantes, medida utilizada pelo documento. O valor é o dobro do segundo colocado, São Raimundo das Mangabeiras, no Maranhão, que, apesar de 476 suspeitas, tem um total maior, tem uma taxa pouco mais de dois mil casos para cada cem mil habitantes.
A cidade também assistiu a um aumento de suas taxas quando se compara os meses de março e abril, os dois últimos com informações sobre toda sua extensão. Em abril, General Sampaio teve cerca de 3,8 mil casos para cada cem mil habitantes. O número representa mais de 26 vezes a taxa de março, de pouco mais de 146 casos para cada cem mil habitantes.
Outros dois municípios cearenses são listados pelo Ministério no ranking de até cem mil habitantes. Acarape teve 357 casos até o dia 13 de maio, com uma taxa de 2,1 mil casos para cada cem mil habitantes. Já Reriutaba teve 359 casos suspeitos, com uma 1,9 mil casos para cada cem mil habitantes.
Nos municípios entre cem e 500 mil habitantes, também há três representantes cearenses entre os com maiores taxas de suspeitas. A maior taxa é em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Lá, o boletim já registra cerca de 3,9 mil suspeitas, com um taxa de aproximadamente mil casos, mais que Maranguape, com pouco mais de mil casos e taxa de 876 casos para cada cem mil habitantes; e Iguatu, com 482 suspeitas e 472,5 casos para cada cem mil habitantes. Nesse grupo, porém, a liderança não é alencarina: o município mineiro de Governador Valadares lidera, com mais de 10 mil casos suspeitos acumulados e uma taxa de 3,6 mil casos para cada cem mil habitantes.
Fortaleza, entretanto, encabeça o ranking das maiores cidades brasileiras. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a capital tem a maior taxa acumulada de suspeitas entre os municípios com mais de um milhão de habitantes. São mais de 17 mil casos acumulados e uma taxa de 680 casos para cada cem mil moradores. Isso representa mais de 28 vezes a taxa da segunda colocada, Belém (PA), com 23,7 casos para cada cem mil munícipes e 343 suspeitas. O Rio de Janeiro completa o inglório pódio. Apesar de ter um total de suspeitas de mais de mil casos - muito maior, portanto, do que Belém -, a Cidade Maravilhosa tem uma taxa de 15,5 casos para cada cem mil habitantes.
Questionamento
A Prefeitura de General Sampaio, por nota, questionou a metodologia do Ministério da Saúde. Segundo o texto, os números referem-se a todos os casos notificados. Entretanto, apenas 11 casos teriam sido confirmados na cidade. A Prefeitura também afirma que os números são especialmente altos em razão do número de habitantes da cidade, pouco mais de seis mil habitantes. "Quanto menor o município, maior o coeficiente de incidência, a depender do número de notificações", argumenta.
A Secretaria de Saúde de Iguatu também se manifestou por nota. De acordo com a Pasta, os números expressos incluem também cidadãos de municípios vizinhos que procuraram sua rede de Saúde. "Houve um aumento no número de notificações devido à quadra chuvosa e ao grande fluxo de pessoas doentes vindas de municípios vizinhos, possibilitando assim o aumento da transmissão através do mosquito", diz. Entretanto, a cidade garante que os números estão sendo revertidos graças, especialmente, a ações educativas.
Reriutaba também se manifestou. Segundo Jailson Moreira, coordenador da Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde, a taxa de infestação expressiva da cidade acontece não em virtude de casos que aconteceriam em excesso na cidade, mas por subnotificação nas cidades da redondeza. "Quando começamos a alimentar sistema responsável, o que se viu foi que os outros municípios que tinham, historicamente, um perfil epidemiológico semelhante quase não tinham notificação", diz. Mesmo assim, ele admite a existência de um surto da doença. E afirma que há um esforço da administração municipal em reverter isso, fazendo uso de controles químico e biológico, contratando-se mais agentes de endemias e realizando visitas domiciliares. "Sei que a situação epidemiológica é ruim, mas estamos correndo atrás", declara.
A Secretaria de Saúde de Caucaia reconheceu que a cidade enfrentou um surto. "Isso aconteceu. Não há como negar", declara Adriano de Souza, coordenador de Vigilância de Saúde da Pasta. Entretanto, de acordo com ele, esses números já começaram a ser revertidos.
A Secretaria de Saúde de Maranguape também admitiu ter enfrentado uma epidemia da arbovirose neste ano. "Não temos nenhum intuito de mascarar a realidade", declara Valderi Andrade, diretor de Vigilância à Saúde da Pasta. Entretanto, assim como em Caucaia, esses números estariam decrescendo, graças à contratação de mais agentes de controle de endemias e campanhas educativas.
Procurada por telefone, a secretária de Saúde de Fortaleza, Joana Maciel, não atendeu às ligações da reportagem. Em maio, em palestra na Câmara Municipal, ela disse que as ações de prevenção eram a prioridade da administração. A gestora também disse que já havia sido criado um comitê permanente para debater políticas contra a doença. O colegiado envolve diversos órgãos do poder público que podem contribuir no enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti.
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) informou que não comentaria o boletim do Ministério da Saúde. A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Acarape, mas as ligações para o telefone disponibilizado no site não foram completadas.            (Diário do Nordeste)

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