Com o objetivo de compreender aspectos ambientais característicos de Brejo Santo, a Universidade Federal do Cariri (UFCA) instalará uma estação meteorológica no município, por meio da atuação dos projetos “Estação Meteorológica: Interdisciplinaridade articulando universidade, escola e comunidade” e “Análise estatística de variáveis ambientais como proposta de formação docente interdisciplinar”, promovidos pelo Programa de Integração Ensino e Extensão (PEEX) e pela Pró-reitoria de Extensão (PROEX).

As atividades dos projetos estão sendo desenvolvidas no Instituto de Formação de Educadores (IFE), no campus da UFCA em Brejo Santo, com a coordenação dos professores Edicarlos Pereira de Sousa, Francineide Amorim Costa Santos, Letícia Caetano da Silva e Laura Hévila I. Leite. O professor Thiago Santiago, do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) do campus Juazeiro do Norte, também colabora com o desenvolvimento de dispositivos para a coleta de variáveis na estação meteorológica. 

A intenção é disponibilizar os resultados da pesquisa para a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMA) e a Secretaria de Educação do Município (SEDUB). Além da coleta de dados sobre o clima, os projetos preveem a elaboração de uma coletânea de informações sobre variáveis ambientais, realização de oficinas para orientação em educação ambiental e encontros temáticos, agregando os conteúdos de Ciências Naturais (Física, Química e Biologia) e Matemática para a comunidade escolar do município e  para a comunidade local. O grupo também pretende que, no próximo ano, os projetos se tornem um programa permanente de conscientização ambiental.

“A estação meteorológica nos permitirá ter acesso a dados atmosféricos próprios de nossa região, que servirão de base para estudos mais aprofundados sobre o clima”, explica José Thiago Nascimento Pereira, estudante do 3º semestre do curso de Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e Matemática.

De acordo com um dos coordenadores, professor Edicarlos Pereira, o grupo de Meteorologia do IFE surgiu da preocupação com a questão ambiental, buscando unir o que já estava sendo estudado no curso pelos discentes a partir das pesquisas desenvolvidas pelos professores. Os pesquisadores observaram, por exemplo, o interesse de agricultores locais em fazer registros meteorológicos, a fim de identificar os melhores e piores períodos para o plantio e cultivo de seus produtos. Segundo os docentes que coordenam os projetos, o município não possui nenhum dado histórico oficial sobre algumas variáveis meteorológicas, o que acaba dificultando as pesquisas científicas nessa área. 


Brejo Santo

Brejo Santo está localizado na região do Cariri, próximo à Chapada do Araripe, região do semiárido brasileiro, com vegetação diversificada e população média de menos de 50 mil habitantes. O município está sofrendo uma explosão imobiliária intensa, ocasionada pela transposição do rio São Francisco, através do Cinturão das Águas, e a construção da Ferrovia Transnordestina, que visa ligar o porto do Pecém, no Ceará, ao porto de Suape, em Pernambuco e ao município de Eliseu Martins, no Piauí.

O município, de acordo com os professores, não possui dados oficiais de órgãos federais e/ou estaduais para monitoração dos diversos parâmetros ambientais essenciais ao cotidiano, tais como temperatura, precipitação, umidade relativa, velocidade do vento, pressão atmosférica e radiação solar. A existência de um banco de dados dessa natureza é importante para estudos ambientais e, a longo prazo, para análise de possíveis alterações decorrentes das ações humanas.

“A FUNCEME [Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos] é o órgão estadual responsável por armazenar informações dos municípios, no entanto foi verificado no estudo que, para Brejo Santo, o órgão apresenta apenas dados de pluviometria [chuva]”, relata Edicarlos Pereira. 

Além disso, possui características climáticas peculiares que precisam ser observadas. “Lá é um local que a umidade relativa do ar é muito baixa e muitos aplicativos [de celular], por exemplo, mostram valores em torno de 11%, o que já é considerado, segundo parâmetros meteorológicos, como muito abaixo do mínimo aceitável; é estado de alerta”, comenta a professora Francineide Amorim, uma das coordenadoras do projeto. 


Estação Meteorológica

A estação meteorológica será montada a partir de placas de arduino, as quais utilizam sensores de baixo custo usados para exibir informações meteorológicas, como temperatura, umidade e pressão. Os sensores estão sendo desenvolvidos pelo professor Thiago Santiago, do Centro de Ciências e Tecnologia da UFCA. 

Os sensores, que ainda estão em fase de desenvolvimento, têm instalação prevista para meados de agosto deste ano, na E.E.F.M Professor José Teles de Carvalho Liceu, em Brejo Santo. Para a instalação da placa, é necessária uma condição de tempo e localização favoráveis. A escola foi escolhida para a montagem da estação meteorológica devido à localização no município. 

Para a montagem do abrigo meteorológico dos sensores, foram utilizadas janelas, tipo venezianas, que seriam descartadas. Os organizadores do projeto explicam ainda que estão desenvolvendo com a Diretoria de Tecnologia da Informação (DTI) a possibilidade de instalação de rádios na escola para que os dados coletados pelos sensores sejam enviados instantaneamente via wifi. 


“Isso é algo interessante para a educação, porque os alunos estarão vendo algo que é da região deles e, ao mesmo tempo, também vamos disponibilizar esses dados para a comunidade local, em particular, para os agricultores”, afirma Francineide.

Agricultores


No dia 30 de junho de 2017, o grupo de meteorologia do IFE realizou um evento no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brejo Santo, pensando conscientizar a comunidade sobre questões ambientais e efetivar a parceria com agricultores. O evento marcou o início das atividades com a comunidade e contou com a presença de 35 trabalhadores rurais das comunidades de base dos sítios de Brejo Santo. 

Além de promover essa aproximação inicial, o encontro objetivou conscientizar a comunidade sobre questões ambientais e efetivar a parceria através da doação de pluviômetros a serem utilizados pelos agricultores em suas propriedades. Os estudantes do projeto deram instruções de uso para a instalação dos equipamentos, seguindo medidas da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

As informações coletadas servirão para compor uma base de dados a serem trabalhados futuramente com os estudantes da Educação Básica e Superior da região. As atividades foram executadas pelos bolsistas de extensão e contou com a participação e apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e representantes docentes da rede municipal.

Foram discutidos assuntos sobre cada área das Ciências Naturais e Matemática, na busca por conscientizar os agricultores na preservação do meio ambiente, como a importância de não gerar queimadas ou poluir, pois são fatores que interferem na formação das nuvens e, consequentemente, das chuvas. Apresentaram também dados estatísticos e históricos sobre o comportamento pluviométrico durante o período de 1974 a 2016 em Brejo Santo, além de informações sobre a interferência da vegetação para a temperatura e umidade relativa do ar. Na ocasião, também foram apresentadas imagens de satélites que sugerem possíveis alterações de variáveis biofísicas da região, nos últimos 10 anos.

Participação dos agricultores

Os coordenadores dos projetos afirmam que muitos agricultores já possuem o hábito de registrar a quantidade de chuva, a partir de pluviômetros, em suas propriedades. Com essa prática, puderam verificar semelhanças entre seus registros e os dados oficiais da FUNCEME, conseguindo identificar os períodos mais chuvosos e menos chuvosos da região através dos gráficos apresentados. Já foi possível perceber, com o estudo, que o nível de decréscimo do registro das chuvas é evidente. 

Com isso, os pesquisadores viram a necessidade de desenvolver um questionário de etnometeorologia, unindo o conhecimento popular ao conhecimento científico. “Queremos que os estudantes visitem os sítios para saber o que os agricultores veem ocorrer para prever que vai chover. Temos interesse em investigar quais as diferenças percebidas pelo agricultor das diferentes localidades do município e associá-las às condições atmosféricas que explicam essas ocorrências. Buscaremos entender o que está acontecendo na atmosfera, cientificamente, que leva os agricultores a perceberem pequenas diferenças na natureza”, explica a professora Francineide. 

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