A pesquisa realizada por estudantes de Agronomia
da UFCA tem servido tanto para identificar raças
melhor adaptadas ao nosso clima quanto formas de
garantir mais conforto térmico e produtividade.
FOTO: André Costa
Barbalha. Uma pesquisa realizada por cinco estudantes universitários, com auxílio de um professor, tem mudado a rotina de uma grande fazenda deste Município e pode ser a alternativa para alavancar a produção de leite e a reprodução bovina. Diante das altas temperaturas na maior parte do ano no interior cearense, o grupo identificou que o calor afeta diretamente os animais, causa desconforto e traz problemas de saúde, sobretudo às raças europeias, acostumadas a baixas temperaturas.
Com essa constatação, acadêmicos do curso de Agronomia, da Universidade Federal do Cariri (UFCA), passaram a medir a temperatura do rebanho para identificar o tipo de raça mais apropriada à região do Cariri e identificar alternativas para reduzir a temperatura corpórea dos bichos. A pesquisa "Termografia de Infravermelho como Alternativa na Análise da Adaptabilidade de Bovinos de Leite no Semiárido" é desenvolvida há cerca de dois anos e, antes de ser concluída, o que deve ocorrer no fim deste semestre, já teve resultados satisfatórios.
Segundo o professor universitário Antônio Nélson da Costa, por meio de parâmetros climáticos, coletados por câmera termográfica de infravermelho, seus alunos identificaram que, do gado Girolanda, o grupo racial 3/4 é o mais apropriado para ser criado nas condições climáticas da região. "Com o levantamento de informações relacionadas à temperatura retal, frequências cardíaca e respiratória e exames de sangue que detectam os índices de estresse térmico, chegamos à conclusão que esse grupo racial é o mais resistente", explica.
Metodologia
Todos os dias, os alunos realizam duas medições no rebanho da Fazenda Mata dos Araçás. A primeira às 4h e a segunda às 13h. A pesquisa estuda 40 bovinos leiteiros da raça Girolando, espécie de bovino mestiço que o resulta do cruzamento das raças Holandesa e Gir. Divididos em dois grupos de 20 fêmeas com porcentagens diferentes de mistura das raças cruzadas, os acadêmicos analisaram qual dos grupos consegue se adaptar melhor ao clima tropical Semiárido. "O grupo racial 7/8 apresentou menos resistência ao clima, em consequência, menor produção de leite", pondera o aluno Marcondes Pinho de Brito Filho.
Conforme Nélson, doutor em Zootecnia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) com doutorado sanduíche na Universidade da Florida (EUA), a redução da produtividade e do desenvolvimento do bovino está relacionada ao estresse térmico, quando o animal fica exposto a altas temperaturas sem o tratamento adequado para adaptação. Os dados fornecidos pela câmera termográfica, também chamada de termovisor, permitem analisar, segundo o acadêmico Walison Tavares Limaor, o desenvolvimento do animal com mais precisão. "Além de saber quais raças sofrem mais com o calor, o equipamento pode nos indicar algumas doenças ou inflamações, pois a região do corpo afetada apresenta grande variação de temperatura", acrescenta.
O equipamento chega a custar R$ 15 mil. "Esse é mais complexo, por isso o preço alto. Mas existem equipamentos semelhantes, com a mesma função, que custam bem menos, até três mil reais", ressalta Nélson. Segundo o professor, apesar de o preço ser acessível para muitos produtores e criadores, há a necessidade de, junto ao termovisor, a supervisão de alguém capacitado, para interpretar os dados. "É necessário um treinamento, mas nada complexo. É uma pesquisa acessível", diz.
Avanços
Após identificar o grupo racial com melhor adaptabilidade ao clima Semiárido, os pesquisadores atuaram na melhoria estrutural da fazenda, para garantir conforto climático ao rebanho. A universitária Sabrina Martins Lacerda explica que, com mudanças pontuais, a fazenda tem conseguido resultados satisfatórios. "Sugerimos a instalação de ventiladores na área de ordenha e de um sistema de banho para resfriar a vaca antes de ser retirado o leite, que agora acontece de forma mecânica", conta.
Para o zootecnista responsável pela fazenda, George Rodrigues, os resultados já são expressivos. "Mudamos nosso manejo, possibilitamos mais conforto à vaca e o resultado foi o crescimento na produção leiteira. É incrível como essas mudanças surtem efeito e são visível até para quem não entende do assunto. Nos dias em que acontece algum problema com os ventiladores ou com o sistema de banho, as vacas ficam mais agitadas, mais estressadas e a produção cai", relata.
Ainda segundo Rodrigues, a produção, por vaca, que antes era de 9,5 l/dia, saltou para 14 l/dia, o que representa aumento de 47%. A fazenda investiu apenas R$ 4 mil. "É um valor que eu considero pequeno, tendo em vista o benefício", acrescenta Rodrigues. O professor universitário ressalta que as mudanças na fazenda não são tidas como "modelo", mas estão dentro da realidade da maioria dos criadores. "Há adequações mais incrementadas, com custos maiores, no entanto, nosso objetivo também é mostrar que, com pouco investimento, o proprietário pode fazer mudanças com resultados". A fazenda Mata dos Araçás possui 208 animais e a produção abastece Juazeiro do Norte.
Futuro
Segundo Antônio Nélson, o objetivo é disseminar e aplicar em outras fazendas do Semiárido os resultados da pesquisa, realizada pela primeira vez na região do Cariri. "As perspectivas para o futuro são bem otimistas, com a divulgação e difusão de uma nova tecnologia para diagnosticar os animais em estresse térmico, com um método não invasivo e preciso". Ele acrescenta que, além de alavancar a produção de leite, conseguir baixa a temperatura do animal representa melhor e maior reprodução bovina.

Enquete

Qual a importância do projeto?
"O projeto é importante pois nos dá conhecimento que vai além da sala de aula. Identificar quais raças são mais resistentes ao clima e poder auxiliar o produtor a alavancar a produção de leite é enriquecedor"
Maria Ângela de Souza
Estudante
"O mais interessante é a não utilização de métodos invasivos; conhecer diversas raças, suas particularidades e identificar meios de adaptá-las ao clima Semiárido, bem diferente dos seus países de origem"
Moisés Saraiva
Estudante                  (Diário do Nordeste)                      Cariri

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