Aos 53 anos, Tarcísio Felix sonha em cursar
fonoaudiologia. FOTO: Arquivo pessoal
Tarcísio Felix trabalhava em Juazeiro do Norte, no Ceará, consertando aparelhos eletrônicos. Em 2007, foi diagnosticado com 70% de perda auditiva e com mal de Parkinson, doença neurológica que compromete os movimentos do paciente e traz tremores nas mãos. Precisou parar de trabalhar e entrou em depressão. Do médico, ouviu que precisava de alguma terapia, de algo que lhe trouxesse prazer. Aos 51 anos, decidiu que queria entrar na faculdade.
Ele havia trabalhado na roça desde os 6 anos, sem frequentar a escola, treinando leitura e escrita em casa. Aos 14, mudou-se para a cidade e cursou o terceiro e o quarto ano do ensino fundamental. Depois, não conseguiu conciliar mais o trabalho com os estudos. Casou-se e viu dois de seus três filhos na faculdade. Não imaginava que poderia ter um diploma também.
Testando aparelhos eletrônicos, Tarcísio ficava exposto a sons muito altos, que contribuíram para que sua audição ficasse comprometida. Na mesma época, começou a tomar os medicamentos para o mal de Parkinson. “Mas a depressão começou a aparecer. O médico disse que eu precisava desenhar, fazer algo de interesse. Com incentivo da minha esposa, voltei a estudar”, diz.
Tarcísio se matriculou em um Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) de Juazeiro do Norte, em 2015, para dar o primeiro passo: concluir o ensino fundamental. Desde 2016, ele cursa o equivalente ao ensino médio. Nesse ano, ele prestará o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela segunda vez, para pleitear uma vaga na faculdade.
“Minha intenção é conseguir uma bolsa no Prouni. Acredito que vá dar certo. Há alguns anos, quando descobri meus problemas de saúde, vi as coisas mais distantes. Passava na porta da faculdade e ficava sonhando. Hoje é uma realidade que posso buscar”, afirma.
“Passava na porta da faculdade e ficava sonhando. Hoje é uma realidade que posso buscar”
No preparo para o exame, Tarcísio descobriu o aplicativo G1 Enem, jogo de perguntas e respostas, com vídeos de conteúdo que cai na prova. “Nas horas em que estou tranquilo, fico brincando com o jogo. Não só serve como ajuda para os estudos, como também tem função terapêutica: melhora minha autoestima e me distrai”, diz o cearense. Atualmente, ele ocupa o segundo lugar do ranking de candidatos ao curso de fonoaudiologia no app.
No ano passado, quando experimentou fazer o Enem, tirou 580 pontos na redação. “Achei que me saí bem. Foi minha primeira prova. Pode não ser muita coisa para quem estuda há muito tempo, mas me orgulhei disso”, diz Tarcísio.
Ele teve uma hora a mais para fazer a prova, por causa de seus problemas de saúde. Mas não quis solicitar auxílio para transcrição da redação. “Escrever é difícil. Não cheguei ainda ao estado de rigidez das mãos, mas o tremor do Parkinson atrapalha. Mesmo assim, quero tentar de novo nesse ano, sem ajuda”, afirma.
Escolha do curso
Tarcísio decidiu que quer buscar uma vaga em fonoaudiologia. “Como profissão, fica complicado, não sei se conseguirei seguir depois de me formar. Mas quando a gente passa por um problema, quer entender como tudo funciona. Quero compreender mais sobre a perda auditiva”, afirma Tarcísio.
De acordo com o cearense, não há cursos de fonoaudiologia na região em que ele mora. “Se eu conseguir uma bolsa de estudos e precisar me deslocar, não vai ser fácil. Mas nem que eu precise morar do outro lado do país, vou atrás”, diz.                     (G1 CE)                    Cariri

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