Na região do Cariri cearense, o último fotopintor
em atividade mora em Juazeiro do Norte. Preste
a completar 67 anos de idade, Abdon Alves criou
toda sua família a partir desse trabalho.
FOTO: Diário do Nordeste
Processo inventado pelo francês André Adolphe Eugène Disdéri, em torno do ano 1863, a fotopintura é obtida a partir de uma base fotográfica sobre a qual o artista aplica as tintas de sua preferência sobre a tela.

Na região do Cariri cearense, a prática resiste ao tempo através do trabalho do último fotopintor em atividade. Prestes a completar 67 anos de idade e morando em Juazeiro do Norte, Abdon Alves criou toda sua família a partir desse trabalho. Aliás, os cinco filhos e sua esposa Gorete Alves aprenderam com Abdon a arte da fotopintura e o ajudaram nesses 50 anos de pincel.

Aos 17 anos de idade, Abdon começou na fotopintura. Mas, antes disso, foi desenvolvendo o talento por meio do desenho. "Desde pequeno eu já desenhava. Gostava muito de desenhar. Fui caprichando e, quando estava ficando rapazinho, me dediquei a fazer caricaturas", lembra o fotopintor.

No estúdio de revelar fotografias em Juazeiro do Norte, a Foto São José, onde trabalhou na adolescência, Abdon começou a usar o ampliador e a colorir suas primeiras fotos. Com o tempo, a prática popularizou-se na região e ele tornou-se referência.

No auge da sua carreira, o fotopintor vendia cerca de 500 telas por mês e teve seu trabalho alcançando e celebrado em todo o Nordeste, por meio de romeiros e vendedores. Foram décadas de muito trabalho e reconhecimento estampado nas paredes do Cariri. Entretanto, com o passar dos anos e o desenvolvimento da tecnologia, a fotopintura perdeu espaço. Abdon teve que se reinventar. O ´mouse´ de computador tomou o lugar dos pincéis. Ele aprendeu com seus filhos a usar os programas de edição de imagem para dar continuidade ao serviço. "Aos poucos, eu aprendi. É até mais fácil no computador. Pintado é mais difícil", explica.

Hoje, Abdon Alves só trabalha com pequenas encomendas de amigos e sua tela custa R$ 200. Segundo ele, a demanda não é a mesma após a chegada do computador. "Alguns aparecem. O manual ninguém prefere, faço mais no computador. Trabalho pouco", completa.

No entanto, suas fotopinturas ficaram marcadas em galerias de arte no Peru e Itália e nos seus filhos, que aprenderam outras técnicas de pintura a partir das noites de trabalho entre a câmara escura e o pincel.

(Diário do Nordeste)                               
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