Vencer o medo do câncer de mama é a primeira batalha que as mulheres precisam empreender no Brasil. O tabu que envolve a doença que mais mata brasileiras faz com que o diagnóstico precoce não aconteça para mais da metade das pacientes. No Ceará, conforme o mastologista do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), Ércio Ferreira Gomes, a cobertura de mamografia devia atingir 70% das mulheres saudáveis acima de 40 anos. No entanto, apenas 25% realiza o principal exame de diagnóstico dessa enfermidade.

"O mais preocupante hoje é que ainda há um medo. Ainda há esse tabu que o câncer é um sentença de morte. Ainda há aquela cultura de 'quem procura acha'. Diagnosticar precocemente é salvar vida, é se curar. Não é fácil passar esse conceito de cura", aponta o médico que afirma que é preciso conscientizar também os profissionais de saúde.

O mastologista aponta que, apesar do aumento dos mamógrafos e da descentralização dos equipamentos no Estado, os médicos dos postos de saúde e do Programa Saúde da Família (PSF) não estão prescrevendo o exame como deveriam. "Hoje não temos problema de acesso. Temos as policlínicas com mamógrafos. A maior parte está concentrada na Capital. Mas, na verdade, os aparelhos estão funcionando bem abaixo de sua capacidade. O que acontece é que nem o médico nem a mulher pede", critica.

A incidência da patologia vem crescendo no País entre 5% e 10% nos últimos 10 anos, resultado do aumento progressivo da expectativa de vida do brasileiros e de um somatório de fatores. "A mulher tem atrasado bastante a maternidade e esse é um fato. Só 34% da população pratica alguma atividade física e o sedentarismo contribui para o aparecimento. Cerca de 53% das nossas mulheres estão com sobrepeso ou obesas. Além de fatores ambientes, como radiação, inclusive do celular, produtos agrotóxicos, químico, estresse", aponta o médico.

Progressão
De acordo com levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2017, serão  57.960 novos casos no Brasil. No Ceará, essa soma chega      a    2.160 e, na Capital, o número de novos diagnósticos é de 860. Esses dados mostram também um aumento dos casos mais graves. "Temos curvas crescentes de incidência e de mortalidade. Temos dados do ICC que mostram que 50% dos casos hoje são no estágio 3 e 4. Ou seja, em nível grave. O ideal seria encontrar em estágio 1, com menos chance de mortalidade", explica Ércio.

Outra característica que vem aparecendo é a incidência de câncer de mama em mulheres jovens. Como o indicado é se fazer a mamografia só após os 40 anos, é comum identificar o problema em estágios mais avançados, o que causa uma chance de cura menor. Quem reverteu essas expectativas foi a técnica em segurança do trabalho, Virgínia Maia, 45 anos. Ela descobriu, após o autoexame de mamas, um câncer de mama aos 29 anos. Hoje, 16 anos após a mastectomia, ela comemora a cura.

Virgínia alerta que é preciso enfrentar o "fantasma do câncer" de frente e sem medo. "Se você faz acompanhamento, o dano será menor. Eu tive com 29. Uma amiga teve com 24. Não tem isso de idade. A gente só escuta falar da prevenção em outubro. É preciso falar o ano todo. É um câncer que mata. E essa morte não é literal. As vezes mata porque destrói você".


Desde o diagnóstico até o tratamento e cirurgia de reparação, com implante de prótese de silicone, tudo foi feito pelo Sistema Único de Saúde. Virgínia diz que, quando chegou ao ICC, entrou no paraíso. "Fiz 6 sessões de quimioterapia, 28 de radioterapia e 5 anos hormonioterapia", elenca. Hoje, ela olha com cuidado a filha Mel, 21 anos. "De seis em seis meses ela faz prevenção, e anualmente faz ultrassom de mama". Não pode deixar espaço para o câncer.                 (Diário do Nordeste)

Post a Comment