Os passeios noturnos têm reunido mais praticantes em Juazeiro. Seja por lazer ou por saúde, eles acreditam que essa seja a forma mais segura. FOTO: Antonio Rodrigues |
Juazeiro
do Norte. Antes
de o relógio badalar, as primeiras bicicletas começam a chegar à Praça Padre
Cícero. O local ganha o colorido das roupas dos ciclistas, que se reúnem no
ponto de encontro. Às 19h, o grupo parte para o Sítio Leite, passando pela
Palmeirinha e pelo Açude dos Carneiros. Com o retorno, o trajeto é de 30
quilômetros. Mas esse é apenas o primeiro pedal da semana. Até quinta-feira,
centenas de pessoas praticam o ciclismo como atividade esportiva de lazer,
saúde e interação, atividade que só cresce em Juazeiro do Norte.
Um
dos organizadores destes pedais é o mototaxista Josevaldo Oliveira, conhecido
como Jó, que começou a pedalar por orientação médica, há três anos. Na época,
pesava 120Kg e estava com problemas na pressão arterial e colesterol. Hoje,
pedalando cinco vezes por semana, ele atingiu 80Kg. No início, se reunia com
mais dois amigos. O grupo foi crescendo e atualmente conta com 256 pessoas. No
entanto, a cada dia, cerca de 40 a 50 pessoas fazem os trajetos, variando os
participantes. Mas o recorde, em um só passeio, chegou a levar 173 ciclistas.
"A
gente não deixa ninguém para trás. Iniciante ou experiente. Se furou pneu,
conserta, quebrou a corrente, ajeita. É isso aí. Mas toda semana é uma rota
diferente. Tem uma que a gente vai até o Arajara e passa pelo Crato. São 47Km.
Eu organizo somente na boa vontade de ajudar o próximo, pois, no ciclismo,
somos todos iguais", conta Jó.
O
grupo reúne, na maioria, pessoas adultas. Há médicos, engenheiros, policiais,
donas de casa. Cada um leva sua água de casa, mas, durante o dia, já faz a
hidratação, enquanto Jó leva a rapadura para repor as energias durante o
passeio. No trajeto, os ciclistas adotam comportamentos diferentes. Alguns
gostam de conversar, outros focam mais no percurso e em manter o ritmo.
A
comerciante Leila Menezes conta que sempre gostou de pedalar junto com o
marido, mas achava perigoso os dois sozinhos e encontrou no grupo uma
segurança. Há mais de um ano se juntou a eles. "Foi ótimo, maravilhoso! No
trajeto, vou conversando com o pessoal quando não é muito puxado. Com o grupo,
me sinto tranquila. Mas, quando vão dois, três, não me sinto segura",
conta Leila.
A
agente de trânsito Adjanir do Nascimento sempre gostou de pedalar, mas optou
pela atividade por causa da saúde. Sua família tem histórico hipertensão e
obesidade, então adotou a bicicleta por precaução e também por prazer. "Os
locais de caminhada, às vezes, têm muita poluição. Com a bicicleta a gente pode
percorrer trilhas mais rurais, longe da poluição e dos perigos do
trânsito", garante.
Trânsito
Juazeiro
do Norte tem a segunda maior frota de veículos do Ceará, com cerca de 106.768
registrados no Município, segundo o Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran). As ruas ficam lotadas e os ciclistas disputam os espaços com
carros, motos, caminhões, entre outros.
Segundo
o empresário João Almeida, que todo dia vai ao trabalho de bicicleta, a cidade
não oferece ainda as condições de acomodar esse modelo de transporte. "É
complicado, é uma aventura. Como é o mais sensível, ele fica mais vulnerável a
colisões. Já sofri uns 'tricas', fui ao chão. Os motoristas até respeitam, mas
não tem estrutura, as ruas são desniveladas, tem esgoto. Em pleno Centro tem
esgoto a céu aberto! Não é culpa das pessoas, é das gestões públicas. O esgoto
na Rua São Pedro toma largura de 80cm de cada lado. Ali são espaços ociosos e
poderia se criar uma ciclofaixa. Ganharíamos esse espaço sem prejudicar",
opina João Almeida.
A
agente de trânsito Adjanir do Nascimento acredita que Juazeiro do Norte tem
estrutura boa para a bicicleta, mas que os pedestres e condutores de veículos
têm pouco respeito pelos ciclistas. "A cidade tem espaço para comportar as
bicicletas, como tem para as carroças que provocam um problema muito maior no
trânsito, mas o pessoal está acostumado e virou tradição. Mas vejo uma certa
antipatia com os ciclistas", aponta.
Obras
Algumas
obras de mobilidade urbana impulsionaram a atividade de ciclismo na região. A
primeira foi a ciclofaixa na Avenida Ailton Gomes, construída em 2016. Já em
agosto deste ano, o Governo do Estado do Ceará inaugurou a ciclovia que liga
Juazeiro, Crato e Barbalha, com um total de 17Km. Outra ciclovia foi construída
junto com o Anel Viário.
Segundo
Josevaldo Oliveira, as ciclovias e ciclofaixas foram conquistas dos ciclistas
locais que foram às câmaras municipais de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha
pleitear essas construções. Enquanto João Almeida, acredita que foi um marco,
pois mostrou que é possível tomar um espaço ocioso, como o canteiro central, e
transformar em um lugar habitável.
"O
grande ganho dessas ciclovias, intangível, é mostrar para as outras pessoas que
existe um modelo de transporte que precisa ser respeitado. Investir em ciclovia
pode reduzir o aumento no número de carros em circulação. Nossa geração vai
continuar lutando por mais ciclovias e ciclofaixas em nossa cidade",
afirma o empresário.
No
entanto, Adjanir do Nascimento aponta que a ciclovia que liga os três
municípios beneficia, principalmente, aqueles que usam a bicicleta como
transporte para o trabalho, pois não comporta muitos ciclistas e ainda concorre
com o espaço dos pedestres que fazem caminhada e corrida. "Não é adequada
para a prática esportiva, pois a gente que tende a desenvolver um ritmo maior.
É insegura para iniciantes. Se cai ali, está cercado por duas faixas de
ultrapassagem. A trepidação no asfalto é grande, principalmente para quem anda
na modalidade speed", explica a agente.
Mountain
Bike
A
modalidade é outra que ganhou destaque no Cariri nos últimos anos. Atualmente
são realizadas, em média, seis competições por ano na região, como o Desafio 6
horas MTB, que chega à 16ª edição em dezembro deste ano. O local preferido para
a prática é a Chapada do Araripe, que possui diversas trilhas exploradas pelo
Turismo Ecológico e que, nos fins de semana, são ocupadas por ciclistas.
Segundo
o advogado Raimundo Soares Filho, praticante de MTB, a modalidade ainda é pouco
divulgada. "Os lojistas investem quase nada e os gestores públicos
praticamente ignoram o esporte. São raros os casos em que os prefeitos apoiam a
competições ou passeios ciclísticos em seus municípios", coloca. (Diário do Nordeste)
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