No trecho do Canal da Integração, em Morada Nova, onde
mais de 400 pipeiros captam a água para o Sertão Central,
todos estão parados. FOTO: Kid Júnior
|
À
medida que os dias vão passando a crise vai aumentando. Essa é a amarga
expectativa dos proprietários dos carros-pipa cadastrados no programa
emergencial de abastecimento d'água do Governo Federal, a Operação Pipa, no
Ceará. Os pipeiros, como são conhecidos, só pretendem retornar às atividades
quando o Ministério da Integração Nacional assegurar o atendimento das
reivindicações da categoria. Mais de 1.600 deles continuam de braços cruzados,
garantem representantes da categoria.
No
segundo dia de paralisação, que já contou com o protesto de moradores da zona
rural de Boa Viagem, no Sertão Central, bloqueando a BR-020 por algumas horas
justamente pela falta d'água nas cisternas das suas moradias, a pauta de
reivindicações aumentou. Além da imediata substituição do sistema de
monitoramento, os pipeiros reclamam de atraso no pagamento, alguns até de um
ano após os serviços prestados. Também se queixam do valor do quilometro rodado
não reajustado desde 2012.
O
Ministério da Integração informou que a Secretaria Nacional de Proteção e
Defesa Civil (Sedec) é o seu órgão subordinado responsável pela Operação Pipa e
constantemente busca aprimorar o Sistema de Monitoramento de Carros-Pipa em função
do desenvolvimento dos serviços e solicitações dos pipeiros. Qualquer possível
inconsistência operacional apontada é imediatamente apurada juntamente com o
Exército Brasileiro, executor e responsável pelo monitoramento, acrescenta.
Sobre
o atraso nos pagamentos das rotas realizadas, o Ministério da Integração
contesta as reclamações dos prestadores do serviço. Alega não haver pendências.
Os repasses e pagamentos no Estado do Ceará estão em dia, acrescenta,
reconhecendo ser um serviço fundamental para a população e que será normalizado
o mais rápido possível para continuar o atendimento com a regularidade que tem
sido mantida nos últimos anos.
"A
operação é executada por meio de uma cooperação técnica e financeira entre o
Ministério da Integração Nacional e o Ministério da Defesa. Os recursos para o
programa são do Ministério da Integração, mas sua execução, o que inclui
contratação, seleção, fiscalização e pagamento dos pipeiros, é de
responsabilidade do Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro
(Coter). Sendo assim, o Comando poderá fornecer mais informações sobre o
tema", justifica o Ministério.
Repasse
Ainda
conforme o órgão federal responsável pelas obras contra as secas e de
infraestrutura hídrica, o último repasse dos cofres da União para a Operação
Pipa no Ceará, foi de R$ 21,2 milhões, respectivo ao mês de setembro, atendendo
867.200 habitantes da zona rural em 128 dos 184 municípios cearenses. No ano,
os valores já chegam a R$ 181 milhões. A média mensal de moradores assistidos é
de 800 mil. A reportagem também manteve contato com o Consórcio TBK, fornecedor
e operador do sistema de monitoramento instalado nos carros-pipa. Um técnico
chegou a atender as ligações e informou caber à direção da empresa os
esclarecimentos dos problemas apontados no Ceará, a qual manteria contato em
seguida. Todavia, até a conclusão desta edição não apresentou respostas às
acusações.
Mesmo
sem a menor estrutura, a maioria dos pipeiros pretende permanecer acampada ao
lado dos seus caminhões, às margens dos mananciais, como é o caso do Canal da
Integração em Morada Nova. Mais de 400 pipeiros captam a água para dezenas de
comunidades do Sertão Central de lá. Muitos permanecem com os carros-pipa
estacionados no pátio de abastecimento.
Insatisfação
As
lideranças do Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece) ficaram
indignadas com a resposta do Ministério da Integração acerca dos problemas.
Para eles, a revolta dos moradores que necessitam da água vai aumentar nos
próximos dias provocando um efeito cascata por todo o Estado, afetando outros
segmentos econômicos e principalmente as prefeituras, instituição pública mais
próxima da população. Mas sem poder pagarem o combustível, o posto não fornece;
se o pneu furar o borracheiro não vai remendar fiado.
Quanto
ao bloqueio das rodovias com os carros-pipa, a maioria dos pipeiros considerou
não ser a medida adequada para chamar a atenção dos governantes. Esse tipo de
ação vai afetar o direito de ir e vir de quem não tem responsabilidade sobre o
problema e causar transtornos para outros milhares de cearenses. O sofrimento
da sede já é o pior deles e até um ato desumano, desabafa o pipeiro Leônidas de
Araújo, conhecido como "Leosom". Ele é um dos líderes da paralisação.
Na
avaliação do diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará
(Fetraece) no Sertão Central, José Militão, o desabastecimento só não vai se
tornar mais grave em razão da proximidade das chuvas de fim de ano. Ele
acrescenta que a maioria das moradias rurais tem cisternas, de 16 mil litros
cada, mas nem todas recebem a água dos carros-pipa. Em razão da estiagem essa
água não é utilizada apenas para o consumo e quando falta acaba causando
desconforto para os moradores.
(Diário do Nordeste)
Postar um comentário