Jacinto Neto Rodrigues disse que as ruínas despertaram muitas memórias. FOTO: Willian Ferreira |
Orós. O
segundo maior açude do Ceará, o Orós, oficialmente denominado de Juscelino
Kubitschek, acumula cerca de 6% de sua capacidade. A cada semana, o
reservatório perde volume. Ilhotas, bancos de areia, troncos de árvores e
antigos canais que estavam encobertos ressurgem.
O
baixo volume registrado no Açude Orós reflete na paralisação da atividade de
turismo e na queda drástica dos setores de pesca e comércio, afetando a
economia local. O trimestre - dezembro, janeiro e fevereiro - é um período
favorável à atração de visitantes em férias na região, mas, em decorrência do
açude seco, os barcos estão parados na margem do reservatório e os comerciantes
amargam prejuízos.
Atualmente,
o Orós acumula apenas 6%, equivalente a 160 milhões de metros cúbicos. O açude
continua liberando pelo menos três metros cúbicos de água por segundo para
atender demanda da Bacia do Médio Jaguaribe. Nos próximos quatro meses, senão
houver recarga, durante a quadra chuvosa que se aproxima, o açude deverá secar.
Sem
atração turística, o segmento de serviço (passeio de barco) e comércio (bares e
restaurante especializado em venda de peixe), no entorno do açude está
praticamente paralisado. Nessa época do ano, em 2017, os negócios tinham caído
cerca de 80%, mas agora a queda ultrapassa 90%.
Neste
período do ano, nos fins de semana, costumava haver uma maior movimentação de
visitantes, oriundos da região e de municípios mais distantes, e aumento nas vendas
em barracas, na balsa-bar flutuante, na margem, e em restaurantes localizados
em ilhas no açude, cujo acesso é feito por barco. "No ano passado demiti
quatro garçons. Estou trabalhando só com a família, mas não tem movimento. O
cenário atual é de tristeza", lamenta o empresário Fransualdo Andrade.
Redução
do nível
O
nível do Açude Orós vem caindo desde 2012 quando começou o atual ciclo de
chuvas abaixo da média. Há um ano, estava em 17%. Agora despencou para 6%.
"A Cogerh afirmava que estaria em 9% nessa época, mas estão liberando
muita água que não chega a Jaguaretama por causa de desvio no leito do
rio", reclama o integrante do Comitê de Bacia do Alto Jaguaribe, Paulo
Landim. "Se o inverno não ajudar, o Orós vai secar".
Os
moradores trazem na memória o ano de 1993 quando o Orós secou por causa da
transferência total de água para o Canal do Trabalhador para evitar colapso de
água em Fortaleza. Em 2016, houve operação de liberação de água para o
Castanhão com o mesmo objetivo. "A gente achava que, depois do Castanhão,
o Orós não iria secar nunca mais, mas está aí, o açude agonizando", frisou
o produtor rural Ésio Barros.
O
barqueiro Luzimar Bezerra que ainda insiste em permanecer nos fins de semana à
espera de clientes para um passeio de barco, é incisivo. "O fim de ano foi
amargo e este começo de janeiro também está ruim. O Carnaval, que sempre trouxe
muita gente, deve ser fraco porque ninguém vem ver um açude seco como
está".
O
barqueiro Pedro Targino afirma que, aos domingos, aparece, no máximo, meia dúzia
de famílias para visitar o açude. "Alguns dão meia volta. Não tem o que
ver e o que fazer", lamenta. Os barcos são mais usados por moradores das
ilhas e, mesmo assim, os barqueiros já reclamam do elevado risco de acidente:
atrito com barrancos, galhos de árvores submersos e pedras. "É preciso
conhecer bem as rotas de navegação. É comum a quebra de hélice do motor",
frisa José Pereira.
Riscos à
navegação
Ilhas,
barrancos, pedras e galerias já aparecem em vários pontos do açude. Para se
chegar à Ilha do Paraíso, onde há um restaurante, agora é preciso redobrar a
atenção e o barco tem de ancorar um pouco antes. O empresário Maésio Vieira
lamenta a queda nas vendas. "O atrativo é o açude, o banho, mas, do jeito
que está, poucas pessoas vêm para cá. O movimento caiu mais de 80%",
queixa-se.
Quem
pretende frequentar a Ilha do Paraíso pode ir de barco até determinado ponto e
em seguida segue de carro (há um fusca antigo que faz a travessia) sobre a
bacia do Orós. "Aqui está praticamente parado", diz a empresária
Lourdes Cândido.
Sem
movimentação no açude, o comércio local é afetado. Na cidade, muitos lamentam a
queda no varejo. "A criação de peixe impulsionou a economia local, houve
maior circulação de dinheiro nas lojas, mas agora há retração nas vendas",
destaca o comerciário Luís Custódio.
Produção
de peixes
A
atividade de produção de tilápia em tanques redes caiu consideravelmente.
Centenas produtores estão parados. A renda familiar despencou, com sérios
reflexos no comércio local. Mais de 700 famílias foram afetadas. No pico, a
produção do pescado chegou a 150 toneladas por mês. Há ainda algumas gaiolas no
leito do Rio Jaguaribe e próximo à parede do reservatório, mas em número
reduzido. "Sem renda, as pessoas compram menos, priorizam o
essencial", ressalta o empresário Luís Souza. (Diário do Nordeste)
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