O dessalinizador, que foi criado como atividade
extracurricular de Luiz Gustado e amigos no Ensino Médio,
agora disputa patente internacional. FOTO: Alana Maria
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Sistemas
de dessalinização de água salina ou salobra não são novidades no campo das
tecnologias de convivência com a escassez hídrica. No entanto, equipamentos
como esses tendem a ser inacessíveis por alto custo, como os modelos
industriais utilizados na Austrália, Emirados Árabes e Arábia Saudita.
Imaginando
uma solução prática e de baixo custo que pudesse ser aplicada no semiárido
brasileiro, um grupo de estudantes de Juazeiro do Norte e Barbalha elaboraram
um modelo compacto de dessalinizador fototermofuncional, ou seja, que funciona
pela luz do sol.
O
protótipo do dessalinizador foi destaque no campo de Sustentabilidade da II
Mostra Científica do Cariri (Mocica) e tem passaporte garantido a maior feira
de ciências do Brasil, a FEBRACE,
em São Paulo e para a London
International Youth Science Forum, na Inglaterra, em agosto
desse ano.
O
dispositivo originalmente caririense está em processo de patenteamento e também
participa do programa de startups Corredores
Digitais, do Governo do Estado do Ceará, em parceria com
a Microsoft,
que visa transformar ideias em produtos ou serviços economicamente viáveis.
O
que é tanto um orgulho quanto uma surpresa para Luiz Gustavo Morgado, 16 anos,
nome à frente do projeto e que está iniciando a última etapa do Ensino Médio em
Juazeiro do Norte. Fascinado por tudo o que envolve física, química, matemática
e robótica, o futuro engenheiro mecatrônico (ou engenheiro de biotecnologia)
nunca imaginou que um dia estaria apresentando um protótipo inovador para
representantes da gigante da tecnologia Microsoft.
“Eu
queria estar em um projeto que fizesse a diferença para as pessoas e me
impulsionasse como futuro profissional”, relata. “Então procurei meus
professores e um deles, o Ricardo Fonseca, me aconselhou a olhar em volta e
procurar por um problema que precisasse urgentemente de uma solução”. E fez
bem-feito.
“Vivemos
em uma região que sofre com a escassez de água e a crise hídrica é uma
realidade não só aqui, mas no mundo. Esse sistema pode beneficiar quem mais
precisa e menos tem”, defende Luiz.
A
TÉCNICA DO DESSALINIZADOR
Com
auxílio dos ensinamentos da física e da química temperados com criatividade,
Luiz Gustavo e amigos construíram um sistema vertical de quase 2 metros que
comporta 24 entradas para depósitos de água apenas com canos de PVC e garrafas
pet.
Inspirados
na geometria das plantas, em especial do Pinheiro, cada encaixe está posicionado
a uma angulação de 45º por 120º para maximizar a incidência solar e evitar o
sombreamento dos depósitos de água (garrafas pet).
A
cada litro de água salina ou salobra inserida no sistema, 80% é reaproveitado como
água semi-destilada tipo A3, que pode ser consumida, mas sua ingestão em
excesso não é recomendada. O reaproveitamento da água pode ser utilizado
livremente em higienizações, limpezas da casa, no jardim ou na irrigação de
hortas.
“A
grande sacada é a simplicidade!”, afirma o professor João José Anselmo,
ex-membro do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Salgado, especialista em
gestão ambiental, sobre o dessalinizador vertical. “O dispositivo vai de
encontro à sustentabilidade, ao reaproveitamento e ao máximo aproveitamento dos
recursos. Ele é leve, compacto, barato, reproduzível, prático e sem custo de
energia, pois é fototermofuncional. É genial”, explica o professor que levou o
protótipo até a cidade onde ensina, Icó, para apresentar a ideia aos seus
alunos no ensino superior.
OUTRAS
INICIATIVAS
Nacionalmente,
o Programa Água Doce, desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente em
parcerias com estados e municípios, implantou 508 sistemas de dessalinização de
água no semiárido brasileiro, região que engloba os 9 estados do Nordeste e
parte de Minas Gerais, desde sua criação, em 2003.
Ao
custo médio de R$ 150 mil por sistema completo, o Governo Federal pretende
inaugurar outros 742 em 2018. O Ceará é o estado mais beneficiado pelo Programa
Água Doce, com total de 248 unidades em 40 municípios, onde a água
dessalinizada e beneficiada para consumo é vendida à R$ 1 por 20 litros.
Outro
exemplo é um modelo paraibano de sistema baseado na evaporação e condensação
pela luz solar. O projeto, desenvolvido pela Universidade Estadual da Paraíba,
foi destaque no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social de 2017.
Orçado em R$ 1.000 a unidade, o sistema, em fase de experimentação, é
construído com blocos pré-moldados fixos de cimento cobertos por vidro. (Portal da Revista Cariri)
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