Segundo o grupo de estudo, o valor histórico da caverna deve ser muito grande. FOTO: César U. V. Veríssimo |
Itatira/Madalena. A lenda de
uma princesa indígena fugida com um amante pertencente a outra tribo, há
dezenas de anos no Ceará, alimenta o imaginário de turistas e moradores na
região dos municípios de Itatira e Madalena. A residência do casal teria sido
uma gruta situada no limite entre as duas cidades, próxima à localidade de São
José dos Guerra, a 180Km de Fortaleza. A caverna, que remonta à Pré-História,
tornou-se o palácio da princesa, ou, como é conhecida pela população local
atualmente, a Casa de Pedra.
Um
grupo de pesquisadores do Departamento de Geologia (Degeo) da Universidade
Federal do Ceará (UFC) resolveu estudar a formação geológica e todos aspectos
culturais e mitológicos da gruta. O objetivo do grupo é mapear toda a Casa de
Pedra, desvendando seus segredos geológicos e, ao mesmo tempo, estimulando a
fortalecimento do vínculo cultural dos visitantes com o local, a partir dos
mitos que cercam a caverna.
Segundo
o grupo de estudo, estima-se que o valor histórico da caverna seja muito
grande. As gravuras de figuras humanas encontradas nas paredes de mármore,
apesar de não terem ainda uma datação concreta, podem ser os mais antigos
registros rupestres do Ceará. As marcas de água e a proximidade com cursos de
rios também indicam a presença de tribos pré-históricas, pela necessidade que
os antigos homens tinham de estar próximos a uma fonte hídrica.
Para
o professor Wellington Ferreira, integrante da pesquisa, é preciso haver um
modo de estudar a formação geológica sem destruir os mitos criados. "É
preciso ter sensibilidade. O recebedor (a população) do conhecimento científico
precisa assimilá-lo, mas equilibrar com seu conhecimento tradicional, pois são
as peculiaridades e as lendas que tornam o lugar atrativo", frisa.
Redirecionar
essa criação de vínculo, importante para os visitantes, também é um dos
objetivos do Degeo. O grupo espera, a partir do potencial educacional da
caverna, promover o uso ambiental e historicamente consciente do lugar.
"Há um valor científico, turístico e educacional, porque vislumbramos
aquilo como sala de aula, onde podemos mostrar aos agentes da comunidade como
disseminar essa preservação", diz o professor.
Além
de ter um grande potencial turístico, Wellington Ferreira aponta que o local é
uma espécie de cápsula do tempo. "A Casa de Pedra já está protegida pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Essa estrutura
se formou há centenas de milhares de anos atrás e são consequências de
episódios climáticos. Atualmente não temos algo correspondente no
Nordeste", acrescenta.
Os
habitantes das cidades próximas à gruta, tanto de Madalena quanto da vizinha
Itatira, já são conhecedores de algumas das peculiaridades do local. O chamado
quarto da princesa, por exemplo, é lugar de visitação comum: com o que parece
ser uma cama feita de pedra, o salão é um dos locais preferidos dos
frequentadores, pois permite um bom descanso e aproveitamento de ar fresco.
Outro
espaço, conhecido como o quarto escuro, guarda histórias que dialogam com o
terror. Segundo o imaginário popular, como se trata de uma região com pouca luz
nem mesmo velas se sustentam lá, e lanternas são incapazes de manter o foco.
Mas o que parece uma sala de infinito breu é, na verdade, apenas um pequeno
corredor: bastam alguns passos e quem entra lá alcança logo outro espaço da
caverna, bem mais iluminado.
Livro
Após
todo o trabalho topográfico, auxiliado até por drones, o laboratório publicará
um livro no qual será discutida não apenas a geodiversidade e as questões de
patrimônio da Casa de Pedra, mas também o processo de formação da caverna. A
ideia também é levar o mesmo tipo de estudo para outros locais do Ceará, onde
outras grutas são fonte de vínculo com a comunidade que as cerca. (Diário do Nordeste)
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