A escritora Maria Djanira Alves Feitosa nasceu na localidade de Flamengo, zona rural de Saboeiro, em 1937 e diz que teve o apoio e o entusiasmo dos filhos para publicar o livro. FOTO: Honório Barbosa |
Acopiara.
Depois de escrever 13 cordéis sobre temáticas variadas, a escritora Djanira
Feitosa resolveu transpor para a prosa muitas de suas poesias e publicou o
livro 'Minhas Histórias de Trancoso... Era uma vez'. A ideia foi resgatar as
narrativas da literatura cordelista publicadas individualmente nos últimos seis
anos e deixar uma obra para que netos e outros leitores pudessem conhecer em um
só volume.
"Eu
tinha esse desejo há mais de 50 anos, muitas histórias guardadas, contatadas
por minha irmã, Maristela, na nossa infância", justificou Djanira Feitosa.
No sítio Cacimba dos Noés, no distrito de Trussu, zona rural de Acopiara, a
escritora viveu com nove irmãos e desde cedo revelou aptidão para memorizar
versos, quadras, fazer dramas domésticos e as primeiras poesias.
Em
um caderno, Djanira Feitosa escrevia suas primeiras ideias, copiava fielmente
histórias e versos ouvidos de terceiros em estilo de repentistas e trovadores
sertanejos. "Quanto mais fazia, mais surgiam novos versos e
inspiração", revelou.
Aos
80 anos, a fonte de motivação literária parece inesgotável. "Quero
continuar fazendo cordéis, na verdade, já tenho três prontos. Vou escrever até
quando Deus permitir".
Djanira
Feitosa achou interessante a experiência de transformar em contos, as histórias
narradas poeticamente. "Tive o apoio e o entusiasmo dos meus filhos,
professores, Nabucodonosor e Nabupolasar, que fizeram revisão dos textos",
revelou.
A
obra foi dedicada a eles dois e às duas filhas: Elisa Paraguaçu e Cleópatra,
além de cinco netos, cujos nomes seguem a tradição familiar de batizar os
rebentos com nomes de inspiração bíblica e de personagens mitológicos.
A
obra apresenta um conjunto de 48 histórias. O destaque é para a irmã da
escritora, Maristela, que a inspirou bastante. A diferença de idade entre as
duas era de seis anos. Mais velha, Maristela fazia muitas danações no sítio, no
armazém da família e para obter a cumplicidade da irmã sempre prometia contar
uma 'história de trancoso'.
Djanira
tornou-se cúmplice e reafirmava as versões nem sempre verdadeiras da irmã
perante os pais. "Ela me comprava o silêncio, prometendo contar uma
história". A primeira narrada no livro recebe o título 'Presepadas de
Maristela', mas a obra traz pelo menos mais quatro contos atribuídos à danação
da irmã.
Outras
foram ouvidas no colo do pai. A obra reúne uma coletânea de contos que se
relacionam com narrativas comuns no sertão nordestino, com suas variantes de
tempo e de lugar, recolhidas da tradição oral e dos registros escritos.
É
marcante a presença da irmã mais velha, Maristela, na vida e na inspiração
literária de Djanira Feitosa. "Um dias nós entramos no armazém para
Maristela tirar um pedaço de fumo para fazer um cigarro. Queria fumar
escondido. Ela subiu na prateleira e eu pequena deixei a vela queimar um pano,
quase acontecia um incêndio, mas ela apagou o fogo e escondeu o tecido. Ficou o
cheiro de queimado. Papai percebeu, mas eu havia jurado de joelhos para ela que
não contaria a verdade, e disse que ninguém entrou na loja".
Uma
das histórias tem o título de 'Verdelim', cuja narrativa fala de um pássaro que
toda noite visita uma moça e, ao chegar à casa dela, se transforma em um belo
rapaz, que é um príncipe. A tradição das narrativas orais, hoje denominadas de
contação de histórias, contribuiu sobremaneira para se manter viva as histórias
ditas de trancoso.
Em
suas narrativas, Djanira Feitosa mantém os elementos do encantamento, da magia,
das fábulas, dos heróis, da alegria das crianças sertanejas. As histórias
contidas na obra podem ser lidas separadamente, sem seguir ordem. O prefácio do
livro é dos filhos, professores, Nabupolasar e Nabucodonosor Alves Feitosa. O
último conto tem um título curioso: 'A mulher que namorava três padres'.
O
primeiro cordel produzido por Djanira Feitosa foi uma encomenda do ex-prefeito
de Acopiara, Antônio Gaspar do Vale, e narra o crescimento da cidade durante a
gestão dele. A autora também gravou um CD com cordéis cantados.
Dentre os
títulos poéticos destacam-se: "A vida do turco ou a traição de Edileusa
pelo amor de Aragão"; "A princesa do sítio de Laranjeira";
"O ermitão de muquém"; "100 anos de seca - 1915 - 2015'; "A
catitinha que matou o Izato"; "A história da mulher bonita e o
sofrimento de Ritinha"; "A história do reino da água azul";
"A vida de Luiz Gonzaga", uma homenagem ao rei do baião pelo
transcurso do centenário de vida.
Comerciante
Maria
Djanira Alves Feitosa nasceu na localidade de Flamengo, zona rural de Saboeiro,
em 1937. Casou-se com Francisco Alves Batista, comerciante, e morou com os pais
em Fortaleza e depois com o marido em São Paulo. É técnica em Contabilidade e
tem cursos de Taquigrafia e Relações Humanas. Foi professora, diretora escolar
e promotora de eventos culturais.
Ao
lado dos filhos, a escritora está trabalhando na produção de um livro que trata
das expressões usadas em letras de músicas cantadas por Luiz Gonzaga. "O
objetivo é esclarecer certas palavras, frases, segundo o costume
nordestino", adiantou. "Enquanto não caducar, com apoio de meus
filhos e se Deus quiser vou continuar escrevendo as histórias que tanto ouvi e
que tenho inspiração".
(Diário do Nordeste)
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