O trânsito leva a óbito, em média, mais de 2,2 mil pessoas por ano no Ceará, uma a cada quatro horas, e deixa outras 11 mil feridas, com lesões graves ou invalidez permanente. Os custos, que chegam a pouco mais de R$ 3.1 bilhões anuais, de acordo com estimativas do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), vão além das perdas, traumas causados às vítimas e familiares, não passíveis de mensuração monetária, e representam elevados custos para os cofres públicos, crescente demanda de leitos hospitalares, no tratamento e recuperação da vítima, indenizações, processos judiciais, previdenciários ou danos à propriedade de terceiros e vias da cidade. O estudo, com dados referentes a 2015, leva em conta os gastos per capita. Nesse caso, o Estado desembolsou R$ 251,22 por vítima, o segundo do Nordeste. O Piauí é o primeiro, com R$ 495, 23 por pessoa. Em 2008, o Ceará já gastava R$ 1.5 bilhão.

No Brasil, os recursos despendidos com acidentes de trânsito chegam a R$ 45 bilhões/ano somente computados os que ocorrem nas rodovias. O que daria, em comparação feita pelo ONSV, para construir 28 mil escolas a um custo de R$ 2 milhões cada unidade, assim cada Estado poderia receber 1.037 escolas. Ou seria possível construir 1.8 mil novos hospitais custando R$ 30 milhões cada, sendo 66 hospitais novos para cada Estado, incluindo o Distrito Federal.


Segundo números relativos ao Seguro DPVAT, entre janeiro de 2017 e igual período deste ano, o Estado registrou o maior aumento percentual de indenizações pagas por despesas médicas do País, com 118% em 12 meses, passando de 105 para 229. Também houve aumento de 12,4% em relação ao seguro pago por óbitos (de 169 para 190), maior do que o índice brasileiro, que ficou em 10% nesse intervalo de tempo. O boletim ainda indica que, seguindo a mesma tendência dos anos anteriores, a motocicleta representou a maior parte das indenizações, 76%,apesar de representar apenas 27% da frota total.

O mais preocupante, apontam especialistas, é que até 2020, o Brasil, assim como o Ceará, tem como meta reduzir os acidentes de trânsito com mortes pela metade. O compromisso, assinado com a Organização das Nações Unidas (ONU), integra a Década Mundial de Segurança Viária, iniciada em 2010, e é um dos desafios mais duros e complicados para o País.

Nesse sentido, Fortaleza vem conseguindo alcançar o objetivo, com atenuação dos números de mortes nos últimos três anos e, pela primeira em 15 anos, com números abaixo dos 300 anuais. Foram 281 em 2016 e estimativa de que esse número será menor quando as estatísticas do ano passado forem fechadas. No entanto, as despesas decorrentes dos acidentes de trânsito são consideradas altíssimas e chegam a R$ 730 milhões/ano, considerando apenas o resultado do acidente em si. "A Capital tem um plano de ações em desenvolvimento de sucesso para reduzir os acidentes. Mesmo assim, ainda temos um longo caminho a seguir, mas sem apoio da sociedade é mais complicado", reconhece o coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg para a Segurança Viária no Município, Dante Rosado.

Entre as ações desenvolvidas, crescimento em 200% da infraestrutura cicloviária entre 2013 e 2017, agora com 218,8Km; faixas exclusivas para ônibus; binários; áreas de trânsito calmo; faixas elevadas e em diagonal para pedestres e fiscalização estão entre principais estratégias apontadas pelo superintendente da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), Arcelino Lima.

"É cedo para comemorar porque os números ainda são altos. É como perder um Boeing cheio de passageiros por ano. Não podemos achar normal e se acomodar", frisa.

Na visão do gerente técnico do Observatório, Renato Campestrini, de forma geral, o País ainda carece de uma ação governamental para tratar da redução dos acidentes de trânsito. "Algo que seja um plano do País, que não esteja vinculado ao grupo "a" ou "b", mas comprometido com a sociedade. Tais ações podem ser realizadas nas três esferas, o que é necessário é o comprometimento do gestor para essa questão", diz.

De forma independente à Década Mundial, destaca, o Brasil passou a ter, no fim de 2017, o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), criado pela Lei Nº 13.614/2018. "Esse plano, assim como a década, estabelece um novo período de dez anos para o País reduzir o número de mortos e feridos no trânsito", comenta.

A maior dos atendimentos realizados pelo Instituto José Frota, em torno de 58%, segundo dados de julho de 2017, com vítimas de acidentes de trânsito, é de pessoas que ingeriram bebida alcoólica antes de dirigir ou pilotar motos. Somente no primeiro semestre do ano passado, pouco mais de 7.4 mil, entre motociclistas, motoristas, pedestres e ciclistas foram atendidos pelo Frotão. O total do ano ainda não foi fechado.

O motociclista José Fábio Muniz, 22, é um exemplo de comportamento quase suicida no trânsito. Em 2015, sofreu acidente, fraturou perna, teve complicações e perdeu a namorada que vinha de carona. "Cometi o maior erro de minha vida, pilotar em alta velocidade, ultrapassando no limite e dei de cara com um caminhão. Vai fazer três anos que tento me recuperar, mas é muito difícil", emociona-se.                     (Diário do Nordeste)

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