Localizado a 33 km da sede do Município do Crato, o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto fica entre os distritos de Monte Alverne e Dom Quintino. FOTO: Antonio Rodrigues |
Tudo
começou em 2016, quando a Associação Tamadi Voyages Solidaires, instituição
francesa, entrou em contato com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST),
que apontou o Estado do Ceará para ser o primeiro a realizar o turismo
comunitário sustentável. Com isso, três assentamentos foram escolhidos: 10 de
Abril, em Crato; Palmares, em Crateús; e Barra das Moitas, no Município de
Amontada.
Em
cada um destes locais, dois acompanhantes foram escolhidos e capacitados para
receber os turistas, que realizaram um roteiro de 15 dias, nos três municípios,
em janeiro e outubro do ano passado, na companhia de um tradutor. Os visitantes
foram recebidos nas casas dos próprios moradores, se alimentando da comida
local e conhecendo as atrações de cada comunidade.
No
caso do Assentamento 10 de Abril, em Crato, eles ficaram por quatro dias, sob o
acompanhamento do técnico agropecuário José Antonio Norberto de Carvalho.
"Toda parte acolhedora e as orientações já tinham sido feitas com as
famílias. O objetivo não é comercial. O intuito é conviver com a comunidade,
trocar experiências", afirma.
Segundo
a agricultora Maria das Dores Duarte, que recebeu duas mulheres, a experiência
de conviver com as estrangeiras foi tranquila, mas sempre recebia alguém para
ajudar na comunicação. "Eles não reclamaram de nada. Tudo que fazíamos,
eles achavam bom. Eu os receberia de novo. É uma iniciativa bacana, porque eles
ficam conhecendo nossa história e o assentamento não morre tão fácil",
garante.
O
roteiro incluía visitas ao Centro Cultural, à rádio comunitária, à capela, ao
campo de futebol, às hortas, à Casa Digital, ao grupo de artesanato. Vizinho do
Assentamento 10 de Abril, o grupo também conheceu o Caldeirão da Santa Cruz.
"Explicamos um pouco da história de lá", conta José Antonio. À noite,
realizamos um luau com fogueira, músicas tradicionais e apresentação de teatro
do grupo Raízes e Frutos do Caldeirão, formado por jovens da comunidade. Além
disso, o Sítio Chico Gomes, também no Crato, foi local de trilha entre as
nascentes e sua mata nativa.
Referência
"Nós
já recebemos turmas de universidade. Agora, através desse turismo comunitário,
queremos colocar nossa comunidade como referência para levar, acompanhar e
contar a história do Caldeirão e do Assentamento. De certa forma, foi o local
que resgatou a história do Caldeirão. Lá era abandonado, a capela estava já
caindo", completa José Antonio.
A
comunidade do Assentamento 10 de Abril, no distrito de Monte Alverne, surgiu a
partir da ocupação do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, na data que a
batizou, no ano de 1991. No total, 250 famílias de sete municípios diferentes
passaram 21 dias no local na luta pelo direito à terra. No mesmo ano,
conseguiram ser reassentadas na sua atual localização. (Diário do Nordeste)
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