Localizado a 33 km da sede do Município do Crato, o
Caldeirão da Santa Cruz do Deserto fica entre os
distritos de Monte Alverne e Dom Quintino.
FOTO: Antonio Rodrigues
Crato. O turismo sustentável que está sendo desenvolvido no Assentamento 10 de Abril, distante 25 quilômetros da sede deste Município, no Cariri cearense, despertou o Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico Sustentável para coletar mais informações e catalogar a atividade. Na última semana, representantes visitaram a comunidade e se reuniram com os guias. Só em 2017, a localidade recebeu 14 viajantes franceses, divididos em dois grupos.

Tudo começou em 2016, quando a Associação Tamadi Voyages Solidaires, instituição francesa, entrou em contato com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que apontou o Estado do Ceará para ser o primeiro a realizar o turismo comunitário sustentável. Com isso, três assentamentos foram escolhidos: 10 de Abril, em Crato; Palmares, em Crateús; e Barra das Moitas, no Município de Amontada.

Em cada um destes locais, dois acompanhantes foram escolhidos e capacitados para receber os turistas, que realizaram um roteiro de 15 dias, nos três municípios, em janeiro e outubro do ano passado, na companhia de um tradutor. Os visitantes foram recebidos nas casas dos próprios moradores, se alimentando da comida local e conhecendo as atrações de cada comunidade.

No caso do Assentamento 10 de Abril, em Crato, eles ficaram por quatro dias, sob o acompanhamento do técnico agropecuário José Antonio Norberto de Carvalho. "Toda parte acolhedora e as orientações já tinham sido feitas com as famílias. O objetivo não é comercial. O intuito é conviver com a comunidade, trocar experiências", afirma.

Segundo a agricultora Maria das Dores Duarte, que recebeu duas mulheres, a experiência de conviver com as estrangeiras foi tranquila, mas sempre recebia alguém para ajudar na comunicação. "Eles não reclamaram de nada. Tudo que fazíamos, eles achavam bom. Eu os receberia de novo. É uma iniciativa bacana, porque eles ficam conhecendo nossa história e o assentamento não morre tão fácil", garante.

O roteiro incluía visitas ao Centro Cultural, à rádio comunitária, à capela, ao campo de futebol, às hortas, à Casa Digital, ao grupo de artesanato. Vizinho do Assentamento 10 de Abril, o grupo também conheceu o Caldeirão da Santa Cruz. "Explicamos um pouco da história de lá", conta José Antonio. À noite, realizamos um luau com fogueira, músicas tradicionais e apresentação de teatro do grupo Raízes e Frutos do Caldeirão, formado por jovens da comunidade. Além disso, o Sítio Chico Gomes, também no Crato, foi local de trilha entre as nascentes e sua mata nativa.

Referência
"Nós já recebemos turmas de universidade. Agora, através desse turismo comunitário, queremos colocar nossa comunidade como referência para levar, acompanhar e contar a história do Caldeirão e do Assentamento. De certa forma, foi o local que resgatou a história do Caldeirão. Lá era abandonado, a capela estava já caindo", completa José Antonio.

A comunidade do Assentamento 10 de Abril, no distrito de Monte Alverne, surgiu a partir da ocupação do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, na data que a batizou, no ano de 1991. No total, 250 famílias de sete municípios diferentes passaram 21 dias no local na luta pelo direito à terra. No mesmo ano, conseguiram ser reassentadas na sua atual localização.                  (Diário do Nordeste)

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