Petrobras e a Wintershall foram as únicas a arrematarem
blocos no Ceará. FOTO: Thiago Gaspar
A realização da 15ª rodada de concessões de petróleo e gás frustrou as expectativas cearenses, que esperavam movimentar ao menos R$ 54 milhões com o leilão de 12 blocos localizados na Bacia Ceará. Com a venda de apenas dois - uma na Bacia Potiguar (em águas do Ceará) para a Petrobras e outro na Bacia Ceará para a alemã Wintershall -, a movimentação foi de apenas R$ 14,13 milhões, segundo informou na tarde de ontem a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustível (ANP).

"Na 15ª Rodada de Licitações da ANP, foram oferecidos 18 blocos localizados total ou parcialmente no litoral cearense, sendo 12 na Bacia do Ceará e seis na Bacia Potiguar", detalhou a ANP, responsável pela realização do certame. A Agência informou ainda que os blocos localizados no litoral cearense são classificados como "Nova Fronteira", os quais "possuem áreas geologicamente pouco conhecidas e barreiras tecnológicas ou do conhecimento a serem vencidas".

Indicador de atratividade para as companhias que disputaram os 68 blocos em 12 setores de sete bacias sedimentares brasileiras, a produção no Ceará somente em janeiro contabilizou 4.927 barris de petróleo e 72 mil metros cúbicos de gás natural por dia por meio de seis campos produtores.

Petroleira alemã
Sem nunca antes ter explorado petróleo no Estado, a Wintershall arrematou, além da Bacia Ceará, mais seis áreas na 15ª rodada da ANP, sendo um bloco na Bacia de Santos, dois na Bacia de Campos e três na Bacia de Potiguar. Após o leilão, o gerente-geral e representante da empresa no Brasil, Gerhard Haase, afirmou ao jornal Valor Econômico que há a possibilidade de fechar mais negócios de aquisições de mais áreas petrolíferas, nas chamadas operações "farm-in", ou seja diretamente com os ativos já leiloados.

"Vamos ter investimentos no longo prazo. Estamos bem preparados para fazer esses investimentos (nos blocos arrematados hoje) no futuro. Vai haver muitos leilões e possibilidades de 'farm-in' (aquisições)", disse o executivo ao Valor.

ANP: leilão foi um sucesso
Com 13 ofertantes, dos quais 11 estrangeiros, bônus de R$ 8,014 bilhões e ágio total de 622%, o leilão da 15ª rodada foi considerado um sucesso pelo O secretário de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Félix e pelo diretor-geral da ANP, Décio Oddone. "Três dos cinco blocos mais caros na história dos leilões da ANP saíram nessa Rodada. Ela mostra o potencial que o Brasil tem de arrecadar recursos quando faz as coisas certas", resumiu o diretor-geral da ANP na coletiva de balanço do leilão.

Ele ainda afirmou que o leilão é "espetacular e mostra o potencial que temos no Brasil para atrair investimento e gerar arrecadação e riqueza quando fazemos as coisas certas". "A grande notícia do ponto de vista de interesse das companhias é a diversidade de operadores e o interesse pela Bacia de Campos", afirmou, observando a participação de gigantes do setor como ExxonMobil, a Shell, a Repsol e a Statoil.

Oddone disse acreditar que possa manter a expectativa de arrecadação de R$ 3,5 bilhões nos dois leilões previstos para esse ano - a 15ª Rodada, ontem (28), e a 4ª Rodada do Pré-sal, prevista para junho.

Oferta permanente
Oddone ainda defendeu a possibilidade de ofertar permanentemente blocos que estejam localizados no polígono do pré-sal e já tenham sido ofertados em leilão.

Atualmente, esses blocos não podem ser disponibilizados em oferta permanente, e a mudança necessitaria de aprovação do Conselho Nacional de Política Energética. Para Oddone, essa possibilidade aceleraria a retomada na Bacia de Campos, que era considerada uma área em declínio.

Retirada
O secretário de petróleo e gás do MME avaliou que a arrecadação da 15ª Rodada da ANP em bônus de concessão poderia ter superado o que foi pago por Libra, caso o Tribunal de Contas da União (TCU) não tivesse determinado na quarta-feira, 28, a retirada de duas áreas. Já o diretor-geral da ANP disse, pouco antes da abertura da 15ª rodada, que a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de retirar duas áreas do certame é uma "pena", mas não será suficiente para tirar o brilho do leilão.

"É uma pena. Queríamos que o bloco estivesse na rodada. Por isso colocamos. Esse leilão vai mostrar que estamos no caminho certo. Já estamos vendo os primeiros sinais de retomada do setor", afirmou.

Segundo Oddone, oito companhias haviam depositado garantias pelas duas áreas retiradas pelo TCU. Para ele, o desinteresse pelas ofertas em terra não diminui o sucesso do leilão. Os blocos em terra, avalia, concorrem com os desinvestimentos que a Petrobras está fazendo, com áreas já em produção. Segundo ele, estão inscritos 17 participantes, todos investidores tradicionais do setor.

Na segunda-feira, ANP e MME se reunirão com TCU para avaliar o que precisa ser feito para recolocar as duas áreas à venda. Uma das possibilidades é que sejam enquadradas como áreas de partilha em reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) já em abril.

"Vamos dormir lá se necessário para sair com um entendimento. Temos uma proposta boa para isso", disse o secretário, para quem o Brasil "vive um processo de transição, com um nova institucionalidade e papéis bem definidos do ministério, da ANP e da Petrobras".

Opinião do especialista
'Subestimaram o potencial do Estado'
Considerando que os campos localizados no Ceará oferecem potencialidade razoável, acredito que o leilão não foi bom porque mostrou pouco interesse dos investidores. Há de se levar em consideração também o baixo valor apurado. Isso é subestimar a potencialidade dos blocos cearenses. As duas empresas, Petrobras e Wintershall , saíram no lucro, não tenho dúvida, pois arremataram campos de alto potencial petrolífero em águas semiprofundas.

Essa petrolífera alemã, inclusive, não tem grande expressão mundial. Aqui, no Brasil, será a grande experiência dela no mundo. Não estou a par do know how, mas com certeza não é o mesmo da Petrobras, que permite exploração em águas profundas tranquilamente, sem dificuldade. Mas a participação da Wintershall sinaliza uma única coisa: realmente existem potencialidades ainda que não são exploradas no Brasil. Isso dá uma sinalização positiva de mercado.

O leilão teve realmente um preço aviltado. Já na fase de exploração, deveremos ter notícias alvissareiras da existência de petróleo que serão explorados pelas empresas. Esses dois campos são decepcionantes, mas para os 16 restantes acredito que os resultados serão significativos e isso traz benefício muito grande para a indústria coordenada pela ANP. Não está confirmado, mas acredito que deve haver mais uma ou até duas rodadas de concessão, porque é imprescindível contarmos com esses 18 campos em um momento de descoberta de petróleo off shore, aproveitando a área do pré-sal e as demais de semiprofundidade.

Já nossos campos terrestres estão na fase que denominamos de poços maduros, que já não oferecem mais produção satisfatório a nível econômico. Os do Ceará, a Petrobras já quer abrir mão deles, mas mesmo na mão de terceiros seria interessante tê-los. Porém, o baixo interesse e a baixa taxa de sucesso na exploração desses campos dificulta.

Bruno Iughetti
Consultor de Petróleo e Gás                      (Diário do Nordeste)

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