Tradição de família: Dona Ana e a irmã Maria José, as mãos por traz dos deliciosos dindins de Barbalha. FOTO: Alana Maria

Não há um barbalhense sequer que se preze e que ouse desconhecer o tradicional dindim das irmãs Ana e Mazé. Manga, goiaba, cajá, tamarindo, maracujá, banana, coco e os novos de amendoim, biscoito e baunilha são os sabores que atraem e satisfazem compradores calorentos há mais de 60 anos. De tão desejado que é, o dindim das irmãs já foi degustado em Fortaleza, Recife, São Paulo e até Rio de Janeiro – feito por encomenda, congelado e transportado com cuidado para não perder o sabor. As cidades vizinhas não ficam para trás quando o assunto é adoração dessa sobremesa tão popular entre os nordestinos. Há quem vá de Crato e Juazeiro até à Avenida Coronel João Coelho, no centro de Barbalha, em busca do doce gelado.

A tradição iniciada pela mãe Domitila, quando a família ainda morava na Rua Princesa Isabel, se deu ao acaso. “Ela gostava muito de trabalhar, principalmente cozinhando doces, então calhou bem de fazer os dindins e ter essa renda extra para a casa”, lembra a irmã mais nova, Maria José da Silva, 84 anos. Além do dindim feito de frutas, a mãe também produzia potes de doces de leite, goiaba e banana – todos deliciosos, pelo que conta a memória coletiva popular.

“Fazer doce é um dom e minha mãe tinha isso dentro de si. Não tem como ensinar a ter dom”, afirma Dona Mazé. “O nosso é bom e gostoso demais, mas o dela era especial…”, declara sentimental. Foi para ajudar a mãe no trabalho pesado, que as irmãs, querendo ou não, começaram a tomar jeito na cozinha. A mais velha, Ana, foi primeiro, tomando as rédeas da produção quando a mãe faleceu e o dindim passou a ter seu nome na boca do povo. O dindim de dona Domitila passou a ser o dindim de Dona Ana…

Agora com 87 anos, Dona Ana, em tom de cômico desabafo, se diz cansada e enjoada de tanto dindim em sua vida. Nem comer mais do próprio doce ela come. “Eu tô velha e cansada. Quero mais é ver o tempo passar”, solta no ar. Com a desistência da irmã, Dona Mazé toca sozinha a produção. “É trabalhoso, mas pra mim é uma terapia. Além disso, gosto demais de dindim”, rebate a irmã Mazé, enfermeira aposentada, que toda manhã põe em prática a antiga receita da mãe – muito leite, frutas frescas, açúcar e outros ingredientes – na produção da sobremesa.

O segredo da receita ela não divide. “São gostosos assim porque são feitos com amor”, diz Mazé e Ana concorda.  Mesmo insistindo em saber qual toque, movimento ou ingrediente faz o dindim de Barbalha ser tão apetitoso, as irmãs guardam a informação em confidência para si.

Por R$ 1,00 a unidade, preço popular e acessível, os dindins praticamente se vendem. Com o cardápio colado na porta da casa das irmãs, basta o cliente anunciar sua chegada e pedido. Amendoim, goiaba, coco e biscoito são os mais procurados. Vendem-se, em média, 150 unidades diárias nos dias amenos. Sendo o sol seu grande aliado, a “venda boa”, como diz Dona Mazé, acontece nos dias de muito calor.

Mesmo com o carinho dos clientes e o retorno financeiro, o tradicional dindim das irmãs pode acabar. O motivo é geracional. Não há quem tome de conta da tradição quando a idade pesar mais sobre Dona Mazé, que ainda não pensa em parar, mas já sente a pressão. Enquanto esse tempo fica para o futuro, os barbalhenses continuam saboreando da sua iguaria, seja “contrabandeando” dindins para os pacientes e enfermeiros do Hospital São Vicente, seja matando o calor chupando um belo dindim de goiaba no banco da praça da Igreja ao lado de alguém.                (Cariri Revista)

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