Os caretas, que usam vestimentas artesanais coloridas, são oriundos principalmente de sítios próximos aos centros urbanos e da periferia. FOTO: Honório Barbosa |
Iguatu. Nos últimos
15 dias que antecedem a Páscoa, grupos de caretas, uma antiga tradição de
cultura popular, são mantidos em municípios do Interior. O sertão se renova com
as chuvas, apesar de reduzidas, e as manifestações folclóricas e de
religiosidade popular afloram. Nesta cidade, na região Centro-Sul do Ceará, nos
bairros e nas vilas rurais, os caretas quebram a rotina, fazem barulho, andam
em bando, pedem donativos para o Sábado de Aleluia e impõem medo às crianças.
Os
caretas usam vestimentas artesanais coloridas. São animados e a maior parte dos
grupos é oriunda de sítios próximos aos centros urbanos e de bairros da
periferia. É a tradição folclórica que é mantida durante a Semana Santa.
Vestidos
a caráter - rostos encobertos com capuz, máscaras, saiotes de tecidos com cores
variadas, chocalhos, música e muito barulho, os brincantes saem busca de
esmolas nas residências, entre os transeuntes e em lojas comerciais.
O
objetivo dos caretas é coletar gêneros alimentícios, bebida e dinheiro para
formar a tradicional brincadeira de malhação do Judas, na noite do próximo
Sábado de Aleluia, para a madrugada de Domingo de Páscoa, quando os católicos
celebram a Ressurreição de Jesus Cristo.
Desafio
Nas
áreas rurais, eles formam o chamado sítio, um espaço demarcado, onde as coletas
são guardadas no sábado à noite. Há o desafio de se tentar retirar qualquer
produto desse espaço. Os guardas perseguem os desafiadores até um determinado
ponto, tentando chicotear os que participam da brincadeira do furto de
alimentos.
Os
grupos formados por moradores da localidade de Tipis, no limite entre os
municípios de Iguatu e Acopiara, se destacam por se vestirem bem, com
chocalhos, e serem acompanhados por músicos, sanfoneiro e zabumbeiro.
Os
caretas trazem animação para as ruas da cidade e medo para as crianças. Os
brincantes contratam costureiras e também têm o apoio das mães para a confecção
das vestimentas, que são camisas e calças feitas a partir da montagem de peças
coloridas de retalhos. No dia a dia, quando não estão brincando, os caretas são
estudantes e jovens agricultores, que ajudam os pais na lavoura. Nessa época do
ano, formam os grupos que percorrem as ruas da cidade em busca de donativos.
Alguns viajam até 35 quilômetros para participarem da brincadeira anual.
Os
caretas mantêm viva a tradição das comemorações profanas, populares e festivas,
relacionada com a malhação do Judas, no fim da Semana Santa. Até a Sexta-Feira
Santa, os brincantes saem em busca de donativos para serem usados no Sábado de
Aleluia.
Redução
Em
Lavras da Mangabeira, os caretas estão diminuindo e a tradição perde força nos
últimos anos.
A
malhação do Judas no sábado de Aleluia aos poucos também está desaparecendo.
"Houve tempo em que era bem mais intenso", observa o agricultor
aposentado Manoel Correia.
Já
em Várzea Alegre, a tradição é mantida. Homens vestem roupas estranhas, muitas
vezes femininas, deixando o figurino bem diferente. Usam máscaras que
amedrontam as pessoas. Animados bela banda cabaçal, formada por pífanos,
zabumba e uma caixa de percussão, os caretas chamam a atenção por onde passam.
(Colaborou
Donizete de Souza)
Fique
por dentro
Origem
pode estar ligada às festas da colheita
A
presença dos caretas nas ruas e nas vilas rurais do Interior resiste ao tempo.
A tradição se mantém com características próprias em cada região cearense.
Fantasiados, com chicotes, chocalhos, rostos encobertos, os brincantes recolhem
donativos e, no Sábado de Aleluia, malham um espantalho que representa o
apóstolo Judas Iscariotes, o traidor de Cristo. Em Jardim, no extremo Sul do
Ceará, os primeiros registros da brincadeira são do século XIX.
Os agricultores
se reuniam, faziam as fantasias, usavam caretas, percorriam sítios, coletavam
donativos, confeccionavam o espantalho e faziam a festa do "Pai Vei"
ou "Vosso Pai". Houve a substituição pela figura representativa do
traidor de Jesus Cristo, o Judas. A festa estaria relacionada com a colheita
agrícola, que ocorre durante a Semana Santa, observam pesquisadores das
manifestações folclóricas.
(Diário do Nordeste)
Postar um comentário