A Lira Nordestina, referência em xilogravura e
cordel no País. FOTO: Jornal do Cariri
A Lira Nordestina, criada no início do século XX, em Juazeiro do Norte, chegou a ser uma das editoras mais importantes do Brasil no ramo da literatura de cordel. Reconhecido pelo Ministério da Cultura como Ponto de Cultura, o equipamento, criado por José Bernardo da Silva, atualmente passa por uma nova fase. Entidades comprometidas com a cultura local unem forças para garantir o retorno das atividades da gráfica e a retomada de sua importância como instrumento da cultura popular.

José Lourenço Gonzaga, que integra a atual direção artística da Lira Nordestina, vê com bons olhos a movimentação em prol do equipamento. Recentemente, o “Seminário Lira Nordestina: Diagnósticos e Atualizações” reacendeu o debate acerca da preservação e manutenção contínua junto à comunidade, que é convidada a participar e se engajar em todo projeto. “Acho que esse seminário serviu como um alerta à comunidade para dizer que temos algo importante, enorme e praticamente desconhecido. Acho que é o momento da Lira sair do engasgo de todos esses anos”, enfatizou.

De acordo com José, o local conta com poucos funcionários e a maior parte dos serviços é feita por voluntários e bolsistas da Universidade Regional do Cariri (Urca), responsável pela Lira. Ele acredita que o ensinamento precisa ser repassado e, para isso, é necessário apoio por parte do poder público. Através de oficinas, a intenção é que mais pessoas aprendam não somente sobre a impressão, mas sobre tudo aquilo que o cordel e a xilogravura abrangem. “Hoje, a instituição tem que ser vista como uma escola, para que as pessoas aprendam. Que tenhamos oficina de xilogravura, de embalagem, de papel reciclado, de serigrafia, de tantas coisas fora da oficina de cordel. A gente tem várias coisas para oferecer à comunidade”, completa.

Conforme explicou a professora Arlene Pessoa, pró-reitora de extensão da Urca, o Seminário foi organizado para discutir novos rumos e perspectivas da Lira, com o objetivo de ouvir as pessoas que trabalham ou já trabalharam e fizeram pesquisas. “Ouvir e ver, na perspectiva delas, profissionais da xilogravura, da literatura de cordel e gestores, o que deve ser feito para que a Lira Nordestina recupere o espaço enquanto instrumento de cultura popular”. Com isso, foi criada uma Carta de Pactuação entre diferentes entidades, que está em fase de elaboração.

Entre os planos estão o de aproximar pessoas que trabalham xilogravura e cordel com a Lira Nordestina. Dentro do contexto, uma chamada pública foi aberta pela Pró-Reitoria de Extensão, recentemente, para que as pessoas encaminhassem propostas de oficinas que vão acontecer no âmbito do equipamento. “É uma forma de trazer para a Lira esses profissionais e fazer com que as pessoas passem a novamente frequentar a Lira Nordestina, para que haja essa renovação de ideias e de pessoas”.

Outro projeto que Arlene destaca é o de retomar a produção de cordéis clássicos que estão na guarda da Lira Nordestina, mas que deixaram de ser produzidos. Toda integração ocorre através da Associação dos Xilógrafos e Artesãos do Cariri (Axarca). A Urca pretende, ainda, realizar a segunda edição do Prêmio Urca Literatura de Cordel, que há dois anos, quando realizada a primeira edição, teve o engajamento da comunidade artística. Junto à Prefeitura de Juazeiro, reuniões estão sendo feitas para alavancar a Lira e seu potencial. O que se espera é que a xilogravura seja trabalhada em diferentes vertentes, com produtos que a tenham como o pano de fundo. “Vai dar uma alavancada muito interessante na questão da inovação e da economia solidária. Vai colocar a Lira em outro patamar e, junto a ela, os artesãos que permanecerem por lá e outros que queiram participar desse novo momento da Lira Nordestina”, finaliza.                       (Jornal do Cariri)

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