Apesar de o verde predominar no Semiárido, ainda há sinais em vermelho, secos ou áreas degradadas, descobertas por vegetação. FOTO: Alex Pimentel |
Os
cearenses podem comemorar, pois estão no Estado do Semiárido brasileiro onde a
Caatinga alcançou maior nível de recuperação e desenvolvimento nos últimos
meses. Isso ocorreu em função do volume de chuvas na região, durante o período
de fevereiro a maio, tendo o mês de abril sido o mais chuvoso de 2018 no
Estado.
Pela
imagem de satélite desta semana, representada no quadro, é possível observar,
em poucos segundos, praticamente todo o Ceará verde, ou seja, a cor demonstra a
grande quantidade e vigor da vegetação da Caatinga no Estado, em resposta às
condições climáticas favoráveis.
O
mapa foi produzido de acordo com o Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI), realizado com técnicas de sensoriamento remoto, que permite
a representação e a análise da condição da cobertura vegetal de uma determinada
área ou região, sem que seja necessário o contato direto com ela. Ou seja, as
informações são coletadas remotamente, por intermédio de satélites, cujos
sensores são capazes de identificar se as folhas estão verdes, secas ou sob
estresse hídrico moderado.
Esses
dados de satélites são importantes para auxiliar no planejamento da agricultura
familiar, atividade econômica predominante no Ceará, pois quando associados a
informações de previsão climática, é possível identificar tendências e realizar
prognósticos favoráveis ou não à produção agrícola.
Caatinga
sem sinais de seca
As
outras imagens de satélites no quadro comparam como estava a vegetação da
Caatinga no início de março de 2018, e as mudanças ocorridas recentemente, no
fim de abril. É possível identificar que, no mês de março, ainda havia pontos
na cor vermelha ou laranja no mapa do Ceará, ou seja, existência,
respectivamente, de seca ou situação de baixa umidade do solo.
O
mapa de abril de 2018, obtido por imagem do satélite Meteosat-10, mostra poucas
áreas secas na região. Vale destacar que, na parte Setentrional (Ceará, Rio
Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba), os pontos em vermelho não representam
seca, mas territórios em processo de desertificação.
No
Maranhão, as áreas em vermelho correspondem aos Lençóis maranhenses. Na região
oeste do Nordeste, consistem em cicatrizes das queimadas. Já no Semiárido de
Alagoas, Sergipe e grande parte da Bahia, os sinais em vermelho ainda são
predominantemente de seca, mas existem também respostas de áreas degradadas e
áreas descobertas por vegetação em montanhas (solos expostos).
Sendo
assim, o monitoramento por satélite realizado pelo Lapis mostra que, na última
semana de abril, a resposta da vegetação à seca diminuiu consideravelmente em
relação aos meses anteriores, com destaque à parte Setentrional do Nordeste,
aonde os sinais de seca na vegetação praticamente não existem.
No
livro "Um século de secas: por que as políticas hídricas não transformaram
o Semiárido brasileiro?" (http://www.letrasambientais.com.br/sobre-livro),
eu, Catarina de Oliveira Buriti e Humberto Alves Barbosa, aplicamos o NDVI ao
monitoramento da maior "seca do século", ocorrida no período
2010-2016, no Semiárido brasileiro.
As
informações obtidas e o mapeamento por satélite do extremo climático na região,
com identificação da abrangência, severidade e duração, ano após ano, permitiu
analisar criticamente as políticas hídricas implementadas pelos governos
brasileiros, como capacidade de resposta governamental à seca.
Previsão
climática
Segundo
o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), a
previsão climática para o mês de maio, no Ceará, é de um cenário extremamente
chuvoso, em praticamente todo o território do Estado.
As
chuvas no Ceará ocorrem em função da La Niña, um fenômeno caracterizado pelo
resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico. Sua ocorrência gera uma
série de mudanças significativas no regime de chuvas e temperaturas ao redor do
mundo, com impactos diferentes para cada região.
No
Ceará, assim como em todo o Nordeste Setentrional, o La Niña influencia na
posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que provoca chuvas intensas
no Estado.
Os
primeiros efeitos da atual La Niña começaram a ser detectados em novembro do
ano passado, com temperatura do Pacífico abaixo da normal. O fenômeno de
intensidade fraca se manifestou por alguns meses deste ano e a previsão é de
que, em junho, irá desaparecer.
Pesquisadores
da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) e do Instituto
Internacional de Pesquisa em Clima e Sociedade (IRI), dos Estados Unidos, bem
como de agências brasileiras, confirmaram o encerramento da La Niña, no Oceano
Pacífico, no fim deste outono (junho). Os modelos climáticos também indicaram
período de neutralidade de fenômenos La Niña ou El Niño, para o inverno de
2018, ou seja, para o período de junho a setembro.
A
partir de setembro, as previsões ainda não foram definidas, estando ainda
incerto o que realmente irá ocorrer (El Niño, La Niña ou neutralidade), embora
haja uma tendência maior de a La Niña retornar. Vamos ter que esperar mais um
pouco pela resposta dos oceanos Pacífico e Atlântico, pois os meteorologistas
somente conseguem prever, com até quatro meses de antecedência, o aparecimento
de algum desses fenômenos. Até então, os cearenses poderão usufruir da condição
de viver no Estado do Semiárido com Caatinga mais verde.
*
Catarina de Oliveira Buriti é jornalista, doutora em História, assessora de
Imprensa do Instituto Nacional do Semiárido (Insa) e co-autora do livro "Um
século de secas: por que as políticas hídricas não transformaram o Semiárido
brasileiro?".
(Diário do Nordeste)
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