Pacientes que esperam na fila por uma cirurgia bariátrica protestaram e esperam mais agilidade dos hospitais públicos. FOTO: Thiago Gadelha |
Mais
de 700 pessoas estão na fila de espera para realizar a cirurgia bariátrica pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), 244 aptas (sem contar as que estão na fase
pré-operatória) no Hospital Geral Dr. Cesar Cals (HGCC) e 453 no Hospital
Universitário Walter Cantídio (HUWC). A intervenção, que consiste na redução do
estômago do paciente é uma questão de saúde pública e, por ela, diversas
pessoas no Estado têm esperado há meses.
A
Unidade de Cirurgia Bariátrica do Cesar Cals, referência no procedimento desde
que foi criada em 24 de janeiro de 2001, esteve sem realizar a redução de
outubro de 2017 a maio deste ano, de acordo com denúncias de fontes que não
quiseram se identificar. O Hospital negou a informação, e assegurou que estão
sendo realizadas, atualmente, duas cirurgias por semana e que já realizou 855
procedimentos desde 2001.
A
Instituição destacou ainda que o tempo médio de espera para um paciente é
justamente de 8 meses, visto que o acompanhamento é feito por muitos
profissionais. Quem precisa da cirurgia deve passar por consultas com
endocrinologista, psicólogo e nutricionista, além de terem sido submetidos a
uma série de exames necessários na chamada "fase de avaliação".
A
técnica de Enfermagem Sandra Marta, 44, no entanto, espera há quatro anos pela
cirurgia. Alagoana, ela veio para Fortaleza especificamente pela referência que
o HGCC começava a ser. Todos os seus exames do pré-operatório já se venceram.
Agora comemora a pequena vitória de ter conseguido remarcar a primeira consulta
novamente com um endocrinologista. Porém, para outubro.
Sandra
relata que a própria equipe do Hospital Cesar Cals se impressiona com seu caso.
"Não sabemos mais nem onde esses médicos de quatro anos atrás estão
trabalhando", dizem alguns deles. Entre requerimentos, laudos e ordens
judiciais, a paciente se sente cansada, frustrada e angustiada com a demora.
Esperança
"Minha
situação é muito deprimente. Eu não durmo à noite, porque eu não sei se eu vou
acordar. Os maiores óbitos por obesidade ocorrem justamente na hora do sono.
Eu, que sou profissional da saúde, agora dependo dos meus colegas, quase sem
esperança. Eu nunca imaginei passar por isso", desabafa.
A
técnica passou a receber um benefício do INSS por ter tido um problema no
joelho, por conta da obesidade. O benefício já foi bloqueado, porque nem mesmo
o INSS acredita mais que a espera dure quatro anos. Sandra toma 13 remédios por
dia e só se locomove com ajuda.
"Sinto
que sou porta-voz de quem sofre como eu, porque muitos não querem aparecer por
medo ou vergonha. Mas sinto também que um presidiário tem mais direito que eu.
O que eu espero, na verdade, é um transplante, porque é um vida nova que eu vou
receber. Mas até lá todo dia é uma derrota diferente. Eu tento me sentir
vitoriosa mas não consigo", lamenta.
Assim
como ela, o cozinheiro Enes Melito de Campos, 52, foi à promotoria de Justiça
de Defesa da Saúde Pública do Ceará, mas representando coletivamente quem
partilha do mesmo drama. Ele está na fila há mais de 2 anos. Segundo ele, os
próprios funcionários do Hospital relatam a falta de material cirúrgico no
equipamento. Luvas, curativos, tocas e máscaras. Tudo estaria faltando.
Enes
é de Russas, a 165 km da Capital cearense, e já esperou pela cirurgia também no
Walter Cantídio. "Várias vezes eu saí de casa às 2h para conseguir um
exame. Somente para que meu município marcasse minha visita ao cirurgião
bariátrico, foi 1 ano e 11 meses de espera. É um descaso com a saúde pública,
falta de cuidado com o povo", enumera o cozinheiro.
Ao
todo, quase 20 profissionais fazem parte da equipe da Linha de Cuidado da
Obesidade no HUWC, que pensa e organiza de forma lógica, eficiente e eficaz a
distribuição de serviços ofertados. De quatro a seis cirurgias são realizadas
no órgão a cada mês.
"A
oferta do Estado é muito pequena. É preciso suprir essa demanda. Para o próximo
dia 27 de junho, convocamos o secretário de saúde a assinar um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) em que ele se compromete, sob pena de uma multa
diária, a regularizar o abastecimento de material durante um ano", explica
Dra. Ana Cláudia Uchoa, promotora que atendeu o procedimento de Enes, na
Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública.
A
advogada de defesa de Sandra Marta Oliveira, Ana Barros, revela que o próximo
passo da luta é solicitar uma aposentadoria por invalidez à cliente:
"Ainda não fiz isso porque ela mesma não quis. Ela não quer depender do
Estado, ela quer trabalhar". Dona Sandra segue sempre dando segundas
chances de a vida a surpreender com uma boa notícia. "Eu quero ser operada
e ter minha saúde de volta. Eu tenho medo de morrer, eu não quero
morrer!", completa.
Estruturação
Segundo
o Hospital Walter Cantídio, com a estruturação da Linha de Cuidado da Obesidade
no HUWC, foi possível quase triplicar o número de cirurgias bariátricas
realizadas no hospital, passando de 21 procedimentos em 2015 para 57 em 2017.
O
HUWCT destaca ainda que hoje, o Programa de Cirurgia Bariátrica, que faz parte
da Linha de Cuidado da Obesidade, tem 373 pacientes na fase de pré-operatório e
80 na fila qualificada, que são aqueles aptos a realizar a cirurgia depois de
cumprir os requisitos da fase pré-operatória. Nessa fase, os pacientes devem
ter feitos consultas com endocrinologista (nº de consultas depende de cada
paciente), psicólogo (4 consultas) e nutricionista (3 consultas), além de terem
sido submetidos a uma série de exames necessários nessa fase de avaliação.
O
Hospital disse ainda que segue as diretrizes da Resolução 1942/2010 do Conselho
Federal de Medicina, do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica para o estabelecimento de critérios de
definição de pacientes aptos à cirurgia.
(Diário do Nordeste)
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