Greve dos caminhoneiros que paralisou o País por 11 dias deve puxar
resultados da indústria para baixo nos meses de maio e junho.
FOTO: Cid Barbosa

O crescimento econômico do Estado do Ceará em 2018 deve estar fortemente baseado na atividade da indústria de transformação, mesmo diante das incertezas econômicas e dos prejuízos sofridos pela cadeia produtiva durante os dias em que as rodovias ficaram bloqueadas pelo movimento dos caminhoneiros. No Estado, a expectativa é que a atividade industrial cresça cerca de 3,5% e o Produto Interno Bruto (PIB), cerca de 2,5%. 

De acordo com a avaliação de Guilherme Muchale, economista da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), os resultados do Ceará devem ficar um pouco acima da média nacional, cujas perspectivas caíram muito, de 3% a cerca de 2% de variação do PIB, devido ao impacto da greve dos caminhoneiros e de um cenário externo que talvez leve à necessidade de os juros brasileiros fecharem um ano um pouco acima do que era previsto inicialmente. 

Ele avalia que os reflexos da greve dos caminhoneiros ainda é uma incógnita para os resultados do primeiro semestre. “Ela possivelmente vai puxar os resultados da produção de maio e de junho para baixo devido a uma série de férias coletivas que foram concedidas, uma vez que houve paralisação da produção das indústrias locais por conta da dificuldade em expedir os estoques de produtos finais e também em obter matérias primas”, aponta o economista. 

Alívio
Guilherme Muchale explica que, no primeiro trimestre, a indústria apresentou um crescimento de cerca de 3%, que trouxe um certo alívio para o segmento após sucessivas quedas. 

“O resultado também foi positivo para a geração de empregos, a indústria gerou mais de quatro mil vagas de trabalho formais, sobretudo pelo crescimento do setor de calçados e de têxtil e vestuário. No mesmo período, o Ceará como um todo criou duas mil”, ressalta o economista da Fiec. 

Construção civil 
Por outro lado, o economista pondera que a construção civil possa puxar o crescimento do Estado um pouco para baixo. “Esse setor tem tido dificuldades quanto à venda de imóveis a pessoas físicas, tendo em vista que ainda não há uma recuperação muito forte na confiança do consumidor e também pelo fato de os programas habitacionais do governo federal não terem recuperado o valor de investimento comparado ao período anterior à crise”. 

A avaliação, entretanto, é oposta à previsão de André Montenegro, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Ceará (Sinduscon-CE). Ele aponta que o segmento quer crescer cerca de 30% a 40% em 2018 em relação ao ano passado, cuja base de comparação é muito baixa, e prevê encerrar o ano reduzindo o estoque atual de 8,5 mil unidades habitacionais para 3,5 mil a 4 mil unidades. 

“No segundo semestre, temos esperança que o mercado melhore mais ainda para haver lançamentos, que praticamente não existiram no primeiro semestre, como era esperado. O estoque diminuiu em torno de 15% no primeiro semestre, conseguimos vender cerca de duas mil unidades. Com o feirão do Sinduscon, no fim de agosto ou começo de setembro, queremos vender bem mais”, aponta Montenegro. 

Varejo 
Para o comércio, a realidade das vendas já não vinha alcançando as perspectivas de recuperação que se tinha no início do ano. De acordo com Freitas Cordeiro, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL), o resultado do primeiro semestre foi surpreendentemente abaixo do que se esperava. “A primeira data relevante para o varejo no ano é o Dia das Mães, e (o resultado) não foi bom”, aponta. 

Ele avalia que a movimentação dos caminhoneiros foi como um terremoto e que o setor ainda está atônito, tentando compreender os impactos do bloqueio das estradas e das medidas tomadas pelo governo federal. “A bomba ainda não foi desarmada. Há uns detonadores que podem explodir com qualquer coisa, como o próprio modal rodoviário. A solução não está no preço dos combustíveis, é algo muito mais complexo”, ressalta o presidente. 

Com essa nebulosidade, Freitas Cordeiro avalia ser difícil prever como o setor se comportará até o fim do ano. “Numa economia que já vinha fraca, essa movimentação dos caminhoneiros acabou por agravar a situação. O ano eleitoral, com essa indefinição, não contribui para uma perspectiva melhor e vem ainda uma Copa do Mundo, que beneficia alguns segmentos, mas não a maioria”, reflete. 

Festas e férias
Para os próximos meses, o presidente destaca as festas juninas e as férias como pontos de alívio para o varejo, principalmente na época do Fortal, no fim de julho, que atrai maior quantidade de turistas à Capital, mas ressalta que os varejistas vão precisar construir um fim de ano mais atrativo. “Dentro desse cenário, temos que ser realistas. Temos logo que ultrapassar este ano e, se terminar igual a 2017, já está bom”, avalia Freitas. 

Mais chuvas 
Para o setor agropecuário, o primeiro semestre foi o melhor desde 2012 em termos de chuvas no Estado, o que também proporcionou uma safra maior que no ano passado, aponta Flávio Saboya, presidente da Federação da Agropecuária do Estado do Ceará (Faec). “A safra foi melhor e houve uma relativa recuperação da disponibilidade hídrica, mas ainda estamos nessa dependência da transposição de águas do Rio São Francisco. Isso é muito importante para a fruticultura, principalmente da região do Apodi”, ressalta. 

Já o segundo semestre, caracterizado pela ausência de chuvas, não é tão movimentado para a agricultura, à exceção da irrigada. A preocupação do segmento se dá justamente pela decisão da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) em suspender ou não oferta de água para a agricultura de irrigação para preservar o consumo da população no próximo semestre, como aconteceu em 2017. 

“Continuamos com essa interrogação face à disponibilidade hídrica”, aponta Flávio Saboya. De acordo com a SRH, a oferta de água para a agricultura irrigada será discutida pelos Comitês de Bacias Hidrográficas no próximo dia 28 de junho, que devem decidir sobre o assunto. 

Os colegiados são formados por representantes do poder público municipal (20%) e estadual (20%), usuários (30%) e sociedade civil (30%). 

Outro ponto nebuloso para o setor trata-se da Medida Provisória editada pelo governo federal em atendimento às demandas dos caminhoneiros que tabelamento os preços dos fretes. O presidente aponta que a medida, ainda em discussão, eleva os custos para os produtores e encarecerá a atividade do setor, o que deverá refletir nos resultados das empresas do segmento.                (Diário do Nordeste)

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