Em 2014 e 2015, houve mortandade elevada de pescado; em 2016, o cenário permaneceu difícil; e, em 2017, as gaiolas foram abandonadas. FOTO: HONÓRIO BARBOSA |
Orós. Redução do
nível de água no Açude Orós, o segundo maior reservatório do Ceará, e
mortandade anual de tilápias produzidas em tanques-redes têm afetado
severamente cerca de 700 famílias produtoras do pescado. Quem ainda insistia em
manter as gaiolas povoadas registrou mais uma vez prejuízo. Somente em uma área
de produção, foram atingidas mais de 500 gaiolas com a perda de 70 toneladas,
equivalentes a mais de R$ 500 mil.
Segundo
estimativa do setor, a queda na produção é superior a 95%, em toda a bacia do
reservatório, que abrange parte dos municípios de Iguatu, Orós e Quixelô. “Aqui
agora praticamente acabou tudo e teremos de encontrar forças para recomeçar”,
disse o produtor, Antônio Neto Lavor. “Tive que enterrar todo o pescado morto e
demitir os trabalhadores”.
Desolação
O
clima é de desolação entre os piscicultores da região. Desde 2012 que o
reservatório vem reduzindo o seu volume de água acumulado. Em 2014 e em 2015,
houve mortandade elevada de pescado em várias comunidades nos municípios de
Orós e de Quixelô. Em 2016, o cenário permaneceu desfavorável. No ano passado,
sem condições de manter os criatórios, as gaiolas foram encostadas nas margens
do açude.
O
ciclo produtivo de tilápia, que trouxe renda e trabalho para milhares de
moradores, agravou-se em 2017 e, agora em 2018, quando o Açude Orós acumula
cerca de 9,4% de sua capacidade, caminha para o seu fim.
“Não
há mais condições de produzir em gaiolas, de forma intensiva, porque o volume
de água tende a cair nos próximos meses e essa última mortandade afetou a
capacidade econômica dos criadores”, avaliou o veterinário Paulo Landim.
O
governo do Estado, entretanto, não sinalizou até o momento com nenhuma ação de
apoio aos piscicultores de Orós. A atividade torna-se inviável por causa de
dívidas acumuladas em bancos e o reduzido volume que o reservatório apresenta.
“O
quadro, que já foi de geração de emprego e renda, com mudança significativa na
vida de antigos agricultores, que viviam da produção de grãos para
subsistência, agora é de preocupação e empobrecimento”, pontuou. “O desemprego
é crescente na bacia do reservatório”.
No
Açude Orós, a produção de tilápia em tanques-rede prosperou nos últimos dez
anos, chegando a 140 toneladas por mês. Em 2015, caiu para 50%, mas, no fim da
quadra chuvosa de 2018, sem recarga significativa do reservatório, não há
condições de recomeçar a atividade. “O pior de tudo são as dívidas com os
bancos e a falta de capital para pagamento das parcelas”, explicou o produtor
Francisco de Assis.
“Temos
enfrentado dias difíceis, sem trabalho e renda, com dívida nos bancos de
custeio para compra de ração e alevinos e de investimento para aquisição de
gaiolas”, disse a piscicultora e presidente da Associação de Produtores de
Tilápia do Sítio Jardim, Auricélia Custódio Caetano. “Não temos condição de
quitar esses débitos sem a ajuda do governo”.
Falta de
apoio
Os
produtores de tilápia lamentam o comportamento do governo do Estado. “Para o
Castanhão, que tem muitos empresários, chegou a dar uma ajuda, mas, para o
Orós, que só tem produtor familiar, não deu atenção”, disse José Pereira. Um
dos problemas que ainda persistem na Bacia do Orós é a produção de tilápia em
gaiolas, sem a devida outorga de produção, isto é, a falta de autorização
legal.
Há
dois anos, cerca de 100 famílias, das localidades de Jardim, Brejinho e Baixas
suspenderam totalmente a produção. Após sucessivas mortandades de peixe, não
houve como continuar com a atividade. “As áreas que permitem a criação estão
muito distantes, próximas da parede do reservatório”, explicou Landim. “O custo
aumentou”, acrescentou.
A
produção de peixe em gaiolas no Orós fez antigos agricultores, que moravam em
casas de taipa, sonharem, acreditarem na melhoria de qualidade de vida. De
fato, houve mudanças significativas. O padrão de vida mudou, houve
transformação. As famílias construíram casas de alvenaria e adquiriram
eletrodomésticos e transporte próprio (motocicletas e automóveis). “Houve uma
mudança de vida estrondosa”, disse Auricélia.
Castanhão
No
Açude Castanhão, o maior do Ceará, a produção de tilápia, peixe que conquistou
os consumidores, caiu também mais de 90%. O reservatório está com 8,4%. No
início deste ano, acumulava 2,5%. O aumento trouxe esperança para um grupo de
piscicultores, mas é preciso capital para retomar a atividade.
O
Ceará já importa da Bahia, Pernambuco e Piauí tilápia e curimatã. Caminhões
trazem o pescado e distribuem para cidades do Interior e para Fortaleza. A
produção local não atende a demanda. O Estado passou de segundo maior produtor
de tilápia do Brasil para a 20ª colocação, entre 2013 e 2017. (Diário do Nordeste)
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