Em
oito anos, o Ceará perdeu 920 leitos hospitalares destinados a pacientes do
Sistema Único de Saúde (SUS). Destes, 904 foram apenas em Fortaleza, a segunda
capital brasileira com a maior redução de vagas de internação entre 2010 e
2018, atrás apenas do Rio de Janeiro. Os dados fazem parte de um levantamento
divulgado ontem (12) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), com base em
números do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). As
estatísticas também mostraram que, enquanto o SUS apresentou retração, a rede
privada ganhou 553 leitos no período.
No
Ceará, a quantidade de leitos para atendimento pelo SUS passou de 14.775, em
2010, para 13.855, em 2018. Ao todo, 98% dos leitos perdidos estavam situados
em Fortaleza, onde o número de vagas caiu de 6.096 para 5.191 nos oito anos.
O
conselheiro federal do CFM no Ceará, Lúcio Gonzaga Silva, destaca que a redução
da oferta de leitos do SUS é resultado da queda de investimentos na saúde
pública, tendência que, segundo ele, vem se fortalecendo de 2010 para cá.
Tabela
defasada
Nesse
cenário, Gonzaga afirma que um dos fatores de maior influência é a defasagem dos
valores repassados pelo Ministério da Saúde a hospitais particulares que
atendem pelo SUS por meio de convênios. "Hoje, os valores pagos por
cirurgias, consultas e outros procedimentos inviabilizam que esses hospitais
tenham convênio com o SUS. Muitos hospitais estão diminuindo os convênios e os
públicos não conseguem aumentar o número de leitos", diz o médico.
Em
nota, o Ministério da Saúde afirmou que, com os avanços médicos e tecnológicos,
existe uma tendência mundial de "desospitalização". "Tratamentos
que exigiam internação "passaram a ser feitos no âmbito ambulatorial ou
domiciliar", argumentou o órgão.
O
conselheiro do CFM, contudo, explica que as falhas na atenção básica da rede
pública brasileira não permitem que o País reduza o número de internações.
"É uma tendência mundial para países que já tinham um nível ideal de
leitos e que têm um bom Sistema de Atenção Básica, como o Canadá e a
Inglaterra, que gastam 80% do orçamento em saúde pública", defende. (Diário do Nordeste)
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