O
Brasil teve sete eleições desde a redemocratização. Dinheiro e tempo de tevê sempre
fizeram diferença nas campanhas eleitorais, embora os benefícios não sejam
suficientes para garantir as vitórias. Apenas em 1989 e em 2002, os candidatos
à Presidência da República que saíram na frente nestes quesitos não foram
eleitos. Ulysses Guimarães (MDB) perdeu para Fernando Collor (PRN) e, José
Serra (PSDB), para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), respectivamente, nestas
datas. Especialistas garantem que, com o grande número de candidatos na disputa
e as mudanças propostas pela reforma eleitoral sobre o financiamento de
campanha, o próximo pleito também pode surpreender.
O
apoio do centrão – grupo de partidos que engloba o PP, o DEM, o PR, o
Solidariedade e o PRB – ao pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) possibilitará
que o tucano tenha o maior tempo de televisão: 7,5 minutos por dia. De acordo
com especialistas, a internet será um fator fundamental na corrida eleitoral,
mas não substitui o peso dos meios tradicionais de comunicação. O tempo de
rádio e tevê deve chegar a cerca de duas horas por dia. “Somos um país pobre
com grande dificuldade de inserção na era digital. Uma parte dos brasileiros só
vai ver a propaganda pela televisão. Aí, claro, faz a diferença. Mas não dá
para bater o martelo ,porque várias pessoas militam pelos candidatos nas redes
sociais, como Lula e Bolsonaro. Essa eleição tem particularidades que ainda não
sabemos lidar direito”, conta o professor de Ciência Política da Universidade
Federal de Goiás (UFG), Cléber Barbosa.
Jair
Bolsonaro (PSL) e Guilherme Boulos (PCdoB) são os mais prejudicados nesta
seara. O primeiro, à frente nas pesquisas de intenção de voto, terá oito
segundos. “Essa é a situação de candidatos que vão com uma chapa única, o que
ocorre com Boulos e Bolsonaro. Sem alianças, eles simplesmente não conseguem
atingir as metas”, opina o professor. Marina Silva (Rede) também será uma das
afetadas pela falta de tempo na tevê.
Ivan
Ervolino, cientista política e sócio do Siga a Lei, uma startup de
monitoramento de contas públicas, declara que, assim como ocorreu em 1989 e em
2002, um candidato com menos tempo de televisão pode vencer a disputa pelo
Palácio do Planalto. Apesar disso, ele explica que os concorrentes com pouco
espaço nestes meios tendem a ter mais dificuldade de ganhar apoio popular
durante a campanha. “Não podemos subestimar que a internet possibilita muita
força para os candidatos. Ela terá um papel importante, mas também não podemos
negar a potência da televisão e do rádio, que são meios extremamente presentes
para grande parcela da sociedade. A internet é uma opção, mas não tem o peso
dos meios tradicionais. Neles, o candidato tem a possibilidade de contar as
propostas de campanha para mais gente”, avalia Ervolino.
Próprios
recursos
Além
do tempo de televisão, os recursos para a campanha eleitoral será fundamental
para os candidatos. Pela primeira vez, a eleição não terá participação volumosa
de dinheiro dos empresários. A proibição veio do Supremo Tribunal Federal (STF)
como resposta aos escândalos de corrupção e troca de favores apontados em
investigações de Polícia Federal (PF). Desta maneira, as cifras caíram
vertiginosamente em relação a 2014. Para se ter uma ideia, a campanha de Dilma
Rousseff (PT) à reeleição custou R$ 318 milhões. Atualmente, o teto para as
candidaturas presidenciais é de R$ 70 milhões.
O
custos das últimas eleições foi de R$ 5 bilhões. Hoje, o cenário mudou. Um
Fundo Eleitoral de R$ 1,7 bilhão foi disponibilizado pelo governo federal para
as campanhas. Além dele, os partidos poderão implementar vaquinhas e há,
também, a possibilidade de autofinanciamento, o que pode colocar Henrique
Meirelles (MDB) um passo à frente dos demais. “O partido já tem muito dinheiro
e, se o ministro injetar ainda mais, conseguirá fazer um trabalho mais
especializado e atingir todas as camadas de população”, explica Cléber Barbosa.
(Diário de Pernambuco)
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