O
Ceará é um dos estados do Brasil em que mais beneficiários do Bolsa Família
conquistaram medalhas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas
Públicas (Obmep). Um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)
aponta que, em sete edições, alunos cearenses beneficiários do programa foram
premiados com 123 medalhas de ouro, prata e bronze da competição. Junto com
Minas Gerais e São Paulo, foram 576 das 1.288 medalhas alcançadas no Brasil, ou
seja, 45% do total.
Os
números são vistos por professores e especialistas como um avanço na
oportunidade de educação principalmente para as famílias mais pobres. Os dados,
que apontam essa transformação, são também histórias de vida. Natural de uma
localidade da zona rural de Cariré (distante 282,2 km de Fortaleza), Tiago Mota
Crispim, 17, começou a se interessar pela matemática por causa do sistema solar
e dos corpos celestes. "Sempre gostei dos estudos de
astronomia".
Sem
computador em casa, ele costuma assistir a documentários sobre o assunto pelo
celular.
Vencedor
de medalhas nos anos de 2016 e 2017, o garoto cursa o 3º ano do ensino médio na
Escola Dona Marieta Cals, em Cariré. Tiago acumula ainda menções honrosas e
outras sete medalhas em olimpíadas de Física e Astronomia. "Meus maiores
incentivos são meu pais, que são semianalfabetos, mas sempre perceberam que
nosso estudo era o mais importante". O "nosso" na frase diz
respeito a ele e ao irmão, que foi a primeira pessoa da família a cursar o
ensino superior. Outra inspiração é o professor de Matemática e Física Fagner
Aguiar, que o apoia a continuar.
"É
muito importante esse programa porque minha família não tem muitas condições de
bancar financeiramente meus estudos com material escolar. Tudo isso sempre foi
do Bolsa Família", atesta Tiago Crispim.
Para
Mário Viana, 31, professor do projeto Obmep no Adauto, realizado na Escola de
Ensino Médio Adauto Bezerra, em Fortaleza, a renda do programa é um
incentivador à permanência escolar.
Conforme
o MDS, para a realização do estudo foram cruzadas a base de dados do Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal, no qual os beneficiários do
Bolsa Família estão inseridos, com a de medalhistas e menções honrosas da Obmep
nas edições de 2011 a 2017. Nesse período, o Ceará recebeu 11 medalhas de ouro,
30 de prata, 82 de bronze e 55 menções honrosas. Desde 2011, já foram
distribuídas 45 mil medalhas em todo o Brasil.
"O
maior resultado não são as medalhas. É mostrar que todo estudante de escola
pública pode ter um bom relacionamento com a disciplina de Matemática",
avalia Mário Viana.
Adriana
Eufrásio Braga, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do
Ceará (UFC), analisa que as políticas públicas têm forte impacto na educação
básica, combatendo a evasão escolar e atuado na redução da vulnerabilidade.
"Elas dão oportunidade para que esse alunado tenha a porta aberta para que
possa pleitear essas competições".
Em
Cariré, a realidade já não é mais a mesma para Tiago, que com o potencial que
tem e o apoio da família e da escola, escolheu ser professor de Física. Diante
da trajetória, o sonho do estudante parece uma linha de chegada cada vez mais
próxima. (O Povo)
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