As mudanças na legislação, instituídas pela Reforma Trabalhista - que passou a vigorar em novembro de 2017 -, já começaram a surtir efeito na Justiça Estadual. Desde que a nova lei passou a vigora até julho deste ano, o Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT-CE) registrou uma queda de quase um terço no número de novas ações trabalhistas recebidas, em comparação com igual período do ano anterior (novembro de 2016 a julho de 2017). Ao todo, entre novembro de 2017 e julho de 2018, chegaram 36.749 novos processos no TRT-CE, contra 51.524 durante o período anterior. Os valores representam uma diminuição de 28,68%.

Na comparação anual, considerando apenas o intervalo de janeiro a julho dos anos de 2018 e 2017, a redução é ainda maior. Segundos dados repassados pelo TRT-CE, neste ano, foram recebidas 27.896 novas ações trabalhistas, enquanto que, em igual período de 2017, haviam sido contabilizadas 41.786 ações. A diferença representa uma redução de 33,24%.

Para o presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará, o desembargador Plauto Porto, essa queda nos números de processos recebidos representa apenas o período de adaptação da nova lei trabalhista, com dois pontos principais sendo apontados como foco da diminuição. O primeiro, segundo Porto, está relacionado ao trabalho analítico feito pelos advogados trabalhistas sobre a jurisprudência da nova lei e dos casos que já estão sendo julgados.

O segundo ponto mencionado pelo desembargador foi o fato de que, com a Reforma, quem perde uma ação trabalhista tem de arcar com os gastos dos advogados de ambas as partes. "Tem surgido vários livros e artigos sobre essas alterações que foram feitas sobre essa nova lei trabalhista e essas discussões vão se consolidando aos poucos, com as pessoas entendendo melhor a jurisprudência nos tribunais regionais até chegar ao STF, por exemplo. Mas isso é um processo lento", disse Porto.

O presidente do TRT-CE ainda comentou que, apesar da queda registrada desde que a nova lei passou a vigorar, o Tribunal vem registrando uma tendência de leve desaceleração da queda no número de processos recebidos. Segundo ele, é um movimento gradual e que deve ser notado de forma clara nos próximos anos. "É uma tendência muito tênue, mas é assim mesmo. A diminuição da queda não é instantânea, ela será lenta, até porque teremos advogados entendendo melhor a jurisprudência nos tribunais", ponderou Porto.

Perspectiva
No entanto, segundo Erle Mesquita, coordenador de Estudos e Análises de Mercado do Instituto do Desenvolvimento do Trabalho (IDT), essa diminuição no número de processos pode representar um desequilíbrio de forças - laboral e patronal -, causado pela mais recente Reforma nas leis trabalhistas. "Muitos termos dessa mudança parecem mais uma reforma patronal. E, claro, a crise de emprego pode ter afetado também, porque o trabalhador vê que está sem outras alternativas e acaba se mantendo no mesmo emprego, tolerando situações de abuso e assédio, por exemplo. Essas mudanças sempre são acompanhadas de momentos de crise", disse.          (Diário do Nordeste)

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