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Aids continua matando. É o que revela a planilha com atualização semanal das
Doenças de Notificação Compulsória, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). O
Ceará já registrou 66 óbitos por Aids — o que significa uma morte a cada três
dias, entre janeiro e julho de 2018.
Em
2017, de janeiro a novembro, 882 pessoas tiveram o diagnóstico de soro positivo.
Dessas, 544 portadoras de Aids. Os óbitos causados pela patologia, no ano
passado, foram 222. Já em 2018, os dados continuam alarmantes, tendo em vista
toda a discussão realizada no País, desde o primeiro registro de Aids, há mais
de três décadas. Neste ano, 560 pessoas foram diagnosticadas com o vírus HIV;
desse total 352 manifestaram a doença. Fortaleza aparece em primeiro lugar no
Estado. Entre as centenas de infectados, 292 moram na Capital. Em relação aos
óbitos, dos 66 totalizados no Estado, 29 foram registrados na Capital.
De
acordo com o infectologista e ex-presidente da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI), Érico Arruda, dois motivos podem ser listados como
predominantes para a grande taxa de óbitos por Aids. O primeiro é a não
valorização dos sintomas que aparecem: quando o indivíduo descobre a doença,
ela já está avançada. O segundo é o abandono da terapia. “Muitas pessoas
abandonam o tratamento, mesmo recebendo a medicação. Eles veem melhora, tem a
carga viral em queda para patamares indetectáveis, mas alguns, com o passar do
tempo vão perdendo a disciplina. Isso faz com que a doença volte e pode ser até
que venha mais agressiva”, afirma Érico.
O
infectologista revela, ainda, que entre a exposição sexual com a pessoa
infectada e o início dos sintomas, pode decorrer uma década. Por isso, o
indicado é fazer o teste de HIV assim como outros exames regulares, pelo menos
uma vez ao ano, para todos que têm ou já tiveram uma vida sexual ativa.
O
Brasil é um dos países que tem destaque por oferecer gratuitamente medicações
retrovirais, conforme relatou o ex-presidente da SBI. Esses medicamentos estão
disponíveis no SUS. Ao ser diagnosticada com Aids, a pessoa deve iniciar o
tratamento em alguma unidade de saúde que tenha assistência para portadores da
patologia. No Ceará, existem 30 Serviços de Atenção Especializada em HIV/AIDS.
Essas unidades se concentram em maioria na capital, mas municípios como Crato,
Quixadá e Sobral também contam com assistência. Os casos mais graves, contudo,
precisam de internação, feitas exclusivamente no Hospital São José de Doenças
Infecciosas (HSJ), localizado no bairro Amadeu Furtado, em Fortaleza.
Sintomas
Os
sintomas da fase aguda da Aids, que podem variar semanas ou até cinco anos após
a contração do vírus, são febre, dor de cabeça, sudorese excessiva, episódios
recorrentes de diarreia e perda de peso não motivada, segundo Érico. Sendo
assim, a patologia não apresenta sintomas específicos, se assemelhando com
outras doenças, como dengue e chikungunya. “Por isso, é necessário atenção do
paciente e do profissional da Saúde para manifestações iniciais. O ideal é que
fosse descoberta antes da manifestação”, aconselha.
Para
quem descobre tardiamente, os efeitos podem ser irreversíveis, como paralisia
do corpo. Anne Jackeline Santos, 44, aposentada por invalidez, conhece essa
realidade. Diagnosticada com Aids aos 26 anos, a mulher contraiu o vírus de seu
ex-namorado, e, até saber que estava com a doença, teve AVC, pneumonia, e
chegou a não conseguir andar, se alimentar ou se movimentar. Hoje, tomando 12
medicamentos por dia e com a Aids estabilizada, o reflexo do diagnóstico tardio
ainda é presente. Jackeline tem paralisia leve do lado esquerdo do corpo, visão
periférica facetada e dificuldade na dicção.
Contudo,
a patologia não a abateu: há 14 anos se relaciona com um homem também
soropositivo e se considera muito feliz. “As pessoas me perguntam se eu tenho
uma vida normal, eu digo que é normalíssima. Elas que me veem diferente. O
problema da minha vida nunca foi o HIV e sim o preconceito, mas não iria me
sentir bem escondendo isso”, revela a aposentada. Jackeline conta, ainda, que
atualmente se cuida bastante, mas nem sempre foi assim. Durante muito tempo, a
aposentada fumou e bebeu bastante. (Diário do Nordeste)
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