Em
um cenário no qual o desemprego no Ceará e no País caminha para uma melhora a
passos consideravelmente lentos e nem sempre graduais, um modelo de organização
empresarial chama a atenção. Em 2017, o cooperativismo foi responsável por
colocar a comida na mesa de 9.316 trabalhadores no Estado, enquanto em 2016
eram 4.917 empregados no cooperativismo. O comparativo entre os números revela
um crescimento de 89,4% no quantitativo de pessoas empregadas em negócios que
se baseiam no cooperativismo para viver e prosperar ainda mais. Em 2018, o
setor no País não nega que tem "colhido os frutos azedos da crise
econômica no País", mas tem visto no cooperado o principal elemento que
possibilita atravessar as dificuldades.
Os
dados são do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Ceará
(Sescoop-CE), que faz parte do Sistema de Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB). Ainda de acordo com esses números de 2017, estão em
atividade, no Estado, 116 cooperativas que agregam um total de 57.443
associados, crescimento de 4,1% ante os 55,1 mil associados no ano de 2016. No
ano passado, as cooperativas registraram um faturamento da ordem de R$ 3
bilhões.
Entretanto,
quando se trata do número de negócios enraizados no cooperativismo, o total de
116 empresas representa uma queda ante as 132 cooperativas existentes há dois
anos atrás. O superintendente do Sistema OCB, Renato Nobile, avalia que o
cooperado é o principal elemento que possibilita ao setor atravessar as
dificuldades e minimizar os impactos negativos. "Os cenários político e
econômico do País têm interferido nos resultados de todos os setores e
segmentos econômicos e isso inclui as cooperativas. Entretanto, o
cooperativismo possui um elemento que possibilita passar pelas
dificuldades", destaca.
Apesar
dos efeitos da instabilidade, ele avalia que, com investimento forte, gestão
especializada e apoio do quadro social, as cooperativas conseguem se destacar.
"Desta forma, as cooperativas anteveem crises e, desta forma, aproveitam
as oportunidades, pois se lançam cada vez mais seguras em um mercado competitivo
e que exige resiliência de todos os envolvidos", detalha Nobile. No País,
estão ativas cerca de 6,6 mil cooperativas, totalizando 13,2 milhões de
cooperados e 378,2 mil empregos diretos.
Para
o presidente do Sistema OCB-Sescoop/CE, João Nicédio Alves Nogueira, o
cooperativismo no Estado é exemplo para outros países do mundo, mas ainda falta
envolvimento da nova geração e da academia para que o modelo de negócio ganhe
mais força e se popularize ainda mais como uma alternativa às empresas
convencionais.
"Nós
infelizmente ainda temos pouco envolvimento da academia, de um modo geral. Há
profissões nas quais o cidadão sai da universidade com poucas chances de ir
para o mercado e conseguir prosperar sozinho", diz Nicédio, citando como
exemplo o curso de Medicina. "A maioria dos médicos que sai da faculdade
tende a engajar-se em uma cooperativa voltada para a especialidade na qual
deseja atuar ou em uma operadora de planos de saúde, mas qual é o contato que
ele tem com esse modelo durante o curso?", questiona. "Eu sou
agrônomo e não me foi dada a oportunidade de ter contato com o cooperativismo
na faculdade. Aprendi no dia a dia".
Na
avaliação do presidente do Sistema OCB-Sescoop/CE, essa visão faz falta para o
negócio quando ele se depara com grandes grupos econômicos. "É preciso
preparar essa nova geração, buscando a garantia da perenidade do modelo de
negócio", frisa.
Princípios
De
acordo com o Sistema OCB, três conceitos dão identidade ao cooperativismo:
cooperação, transformação e equilíbrio. O modelo é regido por sete princípios,
que são a adesão voluntária e livre, a gestão democrática, a participação
econômica dos membros, a autonomia e independência da organização, a educação,
formação e informação, a intercooperação e o interesse pela comunidade.
Segurança
jurídica
Apesar
dos desafios que o modelo tem pela frente, algumas vitórias alcançadas ao longo
da história do cooperativismo no Brasil possibilitam o fortalecimento da ideia
no País, a exemplo da criação da Lei nº 12.690, que trata das cooperativas de
trabalho, sancionada em 2012. "As nossas vitórias na regulamentação do
cooperativismo reduziram muito a insegurança jurídica, com a Lei das
Cooperativas de Trabalho e o reconhecimento por parte de órgãos como o Banco
Central, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT)".
(Diário do Nordeste)
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