Em Crato, a história de Zé Barbeiro revela o passado e o presente da profissão

O encontro de Zé Barbeiro, 92 anos, e Tiago Leite, 29. FOTO: Alana Soares

O imóvel nº 41 no Calçadão do Crato revela o interessante contraste da passagem do tempo. A loja que por anos a fio foi templo do trabalho de Zé Barbeiro, hoje abriga uma moderna barbearia com ar condicionado, toques rústicos, mesas feitas em barril e geladeira de cerveja. 

Enquanto o empresário Tiago Leite, 29, cuida dos negócios na Barbearia Don Baron Social Club, o senhor José João Alves, o Zé Barbeiro, 92, vê o tempo passar sentado na Praça Siqueira Campos. O velho e o novo se encontram. Da antiga loja, restou a parede de azulejo, um pedido do Zé, e as cadeiras originais Steel 881 da Lider Murad que foram restauradas para compor a atmosfera cool desse antro de masculinidade.

Mais de 60 anos da vida de Zé foram dedicados à barbearia. Não tinha como ter um destino diferente. Este filho de agricultor quis morar na cidade, assistindo dedicadamente os movimentos rápidos das mãos dos mestres na antiga arapuca. Quando arriscou pegar a tesoura de cortar pano da avó, percebeu que poderia aprender uma profissão para conquistar a independência.

Durante as décadas de Ouro da barbearia, Zé foi rei. Salão cheio de seis da manhã até tarde da noite. Ensinou os macetes para irmãos, primos e filhos. Cortou cabelo e fez barba do presidente militar Humberto de Alencar Castelo Branco, em passagem pelo Crato, sem falar de Luiz Gonzaga, que com frequência exigia seu serviço. A lembrança desses momentos faz brilhar os olhos do homem.

Se aquela barbearia foi a vida inteira de Zé, agora passou a ser uma filial do empreendimento de Tiago, administrador por formação, que entrou no ramo dos cuidados com a beleza masculina nos últimos anos.

Para os dois, no entanto, o processo foi natural. "Tem que mudar mesmo", considera o aposentado. "Achei tudo uma beleza", completa. Para Tiago: "não dá certo ficar parado no tempo".   (Site Miséria)