Seu Chaguinha, tradição e amor pelo o que faz. FOTO: Alana Soares

Na Praça Siqueira Campos, em Crato, Francisco Amorim Damasceno, o “Chaguinha”, exerce uma das profissões mais raras de se encontrar nas cidades modernas. Popular e carismático engraxate, ele infla o peito para afirmar ser o único profissional do lustre de sapatos a resistir às imposições do tempo.

Em maio último, completou 65 anos de trabalho. Lembra dia, mês e ano em que começou: 11 de maio de 1953. Tinha 10 anos de idade. Uma criança. “Eram outros tempos e eu tive a ‘precisão’ de trabalhar”, justifica. Chaguinha perdeu o pai tão cedo quanto conheceu o mundo duro do trabalho.

Aprendeu assistindo os outros e não precisou de muito para se tornar um artista da graxa. Por seus movimentos precisos se destacou das dezenas de engraxates que disputavam pares de sapatos nas praças do Crato décadas atrás.

Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves e o presidente militar Castelo Branco foram alguns que sentaram na cadeira azul de Chaguinha. Sobre as ilustres personalidades, ele pondera: “Orgulho é uma coisa besta”.

“Orgulho eu não tenho. Eu me acho feliz”, declara o homem baixo, de pele bronzeada, mãos calosas e bigode prateado pela idade.

O segredo da profissão, que está à beira do desaparecimento, ele dá em três dicas: “tenha amor por o que você faz”, “trabalhe para mostrar sua arte” e “sempre use produtos de qualidade”. Seu olhar carinhoso e a paixão com a qual fala sobre a profissão deixa claro sua crença no que diz.

Se há 40 anos engraxava 60 pares de sapato, hoje em dia se faz 15 pares é lucro na certa. “Mas acho melhor do que no passado, acredita? Faço com calma”.

Chaguinha e seu kit de engraxate aceitam sapatos de couro marrom e pretos. “Quando estou de bom humor também pego os brancos”, revela. “É que dá muito trabalho”.

“Só não me venha com camurça ou esses de couro falso”, avisa logo.   (Site Miséria)

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