A
produção de frutas em cultivo orgânico, certificado, ainda é restrita no sertão
cearense. No Vale do Jaguaribe, um exemplo vem de um grupo de 20 produtores do
Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas que há sete anos começou a implantar uma
área de 28 hectares de cultivo acerola. Apesar da crise hídrica que se abate
sobre o projeto, os resultados são considerados satisfatórios. Em 2017, foram
colhidas mais de 800 toneladas da fruta, gerando uma receita bruta de R$ 1,2
milhão.
"Acho
que nós somos o único grupo de produção de acerola orgânica no Vale do
Jaguaribe", observou o produtor Iran Arcino. "Temos a garantia de
comercialização, e a demanda por fruta produzida sem agrotóxico é crescente nos
mercados interno e externo". Reunidos na Associação Optar Orgânicos, os
integrantes já pensam em formar uma cooperativa.
A
área de cultivo da acerola é de 28 hectares, variável entre dois e dez hectares
para os 20 produtores. O incentivo inicial partiu de uma empresa de exportação
da fruta processada, localizada em Tianguá, na Serra da Ibiapaba. Os
agricultores participaram de treinamento, receberam mudas e decidiram investir
na atividade.
Lairton
Régis cultiva uma área de cinco hectares. "Queria produzir qualquer coisa,
como mamão, goiaba, e veio a oportunidade de participar do grupo há cinco
anos", contou. "Estou satisfeito, apesar das dificuldades com a
escassez de água, que obriga passar vários dias sem irrigar a plantação".
A
acerola é uma planta resistente e suporta dias sem irrigação, favorecendo os
produtores a enfrentar a crise hídrica, que castiga o Perímetro Irrigado
Tabuleiro de Russas. "O curioso de nossa história é que, quando começamos
a produzir teve início a dificuldade por água", lembrou Lairton Régis.
A
associação Optar Orgânicos tem a certificação do IBD - Inspeções e
Certificações Agropecuárias Alimentícias, com credenciamento internacional.
"Tivemos apoio do Sebrae, por meio do escritório de Limoeiro do Norte, e
do consultor técnico, Valdeci Queiroz", disse Iran Arcino. "Estou
satisfeito e, se houvesse disponibilidade de água, iria duplicar a minha
área".
Em
dois hectares, em 2017, Iran Arcino produziu 80 mil quilos de acerola e obteve
uma renda bruta de R$ 140 mil. Com formação em técnico agrícola, Arcino já foi
bancário, trabalhou com transportadora e morou dez anos fora do Ceará. De
volta, implantou uma pequena indústria de produtos de limpeza, em Morada Nova.
Arcino decidiu, em novembro de 2011, ingressar no grupo de produtores orgânicos
de acerola. A primeira safra veio em 2013. A planta dá oito ciclos de colheita
por ano, permitindo o produtor ter uma renda mensal.
Sem
inverno
Apesar
das dificuldades de água, os produtores estão satisfeitos com o cultivo
orgânico e acreditam que, neste ano, a safra vai repetir o obtido em 2017, ou
seja, mais de 800 toneladas. "Depois que plantamos não tivemos mais
inverno. Dificuldades existem para serem enfrentadas".
No
início, havia a falta de estrutura do grupo, que adquiriu sede com sala de
reunião, escritório e implantou uma câmara fria, que custou R$ 140 mil.
"Em 2016, perdemos dez mil quilos de acerola por falta de condições de
estocagem e recusa da indústria em receber os frutos porque uma máquina da
linha de processamento quebrou", diz Arcino. A produção é comercializada
para uma empresa, em Aracati, de processamento de frutas para produção de
polpas líquidas e em pó e sucos engarrafados. A associação vende na roça o
quilo da acerola madura por R$ 2,10 e a verde por R$ 3,40. (Diário do Nordeste)
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