12 fanfarras participaram do desfile cívico-militar que celebra a Independência. FOTO: Antonio Rodrigues |
Juazeiro
do Norte. Sob
sol forte, um mar na cor vinho se forma na Rua São Pedro em um dos momentos
mais esperados da manhã do 7 de setembro: a participação da Fanfarra Moreira de
Sousa (Fanmosa), a mais antiga da cidade. Na última sexta-feira, 12 fanfarras
participaram do desfile cívico-militar que celebra a Independência do Brasil,
somando mais de 800 componentes. O número mostra que a tradição dos grupos tem
se renovado e crescido a cada ano.
Há
alguns anos, apenas duas escolas apresentavam suas fanfarras nos desfiles:
Moreira de Sousa e Ginásio Municipal Antônio Xavier de Oliveira. Esta última,
que foi extinta, abriu espaço para uma renovação que culminou em 15 grupos
ativos. Os componentes vão desde crianças de pouco mais de três anos de idade
até adultos com mais de 20 anos de atuação.
Outros
eventos
Há
22 anos, o comerciário Everaldo Dantas coordena a Fanfarra do Moreira de Sousa,
que possui 208 componentes e 23 coordenadores. Durante as apresentações, todos
usam ponto eletrônico para evitar falhas.
O
participante paga pelo fardamento e o restante é investido em instrumentos,
adereços e acessórios. "Quando assumi, em 1995, a gente procurou
diferenciar. As fanfarras ensaiavam somente para 7 de setembro. Nós procuramos
ir até o público em procissões, desfiles de bairros", explica.
Antes
de coordenar o grupo, Everaldo se apaixonou pela Fanmosa, em 1987, quando
assistiu seu primeiro desfile cívico-militar em Juazeiro do Norte. "Logo,
eu pensei em participar. Hoje, realizo o sonho de coordenar", orgulha-se.
Para o comerciário, as fanfarras passaram por grandes mudanças como a inclusão
de vários gêneros musicais. "Antes, tocavam só 'dobrados'. Hoje em dia, é
de tudo um pouco. Tem homenagem ao País por meio de suas personalidades como
Luiz Gonzaga, Gilberto Gil", acrescenta.
Torneios
Seu
rival, o diretor-geral da Fanfarra Juventude Independente, Alander Rodrigues,
acredita que, no Cariri cearense, tem crescido o número de bandas marciais e
fanfarras, inclusive, que são convidadas para apresentações fora da região,
participando de torneios. No dia 21 de julho, por exemplo, Juazeiro do Norte
promove uma competição entre os grupos, no dia de emancipação do Município.
A
Fanfarra Juventude Independente surgiu em 2009 a partir da extinção do popular
Colégio Municipal, que possuía um dos principais grupos da Terra do Padre
Cícero. Hoje, com 106 componentes, os ensaios acontecem na Escola Estadual José
Bezerra, aos sábados, domingos e feriados. "Passamos nove meses fazendo o
trabalho para o desfile, mas, dá continuidade. A gente viaja para outras
cidades e mobiliza, entre si, rifa, bingo, para se manter. Fazemos manutenção
de instrumento e adquirimos fardamento por conta própria. Todo ano, fardamento
novo, estandarte, comissão de frente", descreve Alander.
Projeto
social
Com
o fechamento da escola, as portas se abriram para novas fanfarras, como a
"Baby Disney", que é uma extensão da Juventude Independente, dando
aulas de instrumentos para crianças menores. "Neste ano, vamos inaugurar o
Centro Educacional Juventude que pretende englobar todos tipos de cultura e
estilos da Cidade", garante Damião Keltoson, diretor administrativo e
regente do grupo. "É um projeto social que mantém aluno na escola de
domingo a domingo", explica.
Neste
processo de renovação, está o estudante Geilson Mascarenhas que há dois anos
fundou sua própria fanfarra: a Nossa Senhora de Fátima. Apesar de não ter um
número tão significativo como os conjuntos anteriores, ela acolhe adolescentes
de todos os locais de Juazeiro do Norte. "A gente foi fundado com intuito
de tirar jovens da margem da sociedade e promover a cultura, no caso, a música.
No lugar de fazer coisas erradas, estão nas escolas aprendendo", destaca.
Nostalgia
Normalmente,
o ingresso nas fanfarras começa pelo estudante dentro própria instituição
promotora da música. Além de vestir o blusão, as cores da instituição são
adotadas como um time de futebol. Vibrantes, eles entram na rua e encaram o desfile
como uma final de Copa do Mundo. Vibram, sorriem, dançam e choram. O resultado
de noites e noites de ensaio: acabam tonando-se uma grande família. No
estandarte, carregam, com orgulho, o escudo do colégio.
Há
dois anos, a professora Shirley Santil deixou a Fanfarra Moreira de Sousa,
depois de mais de dez anos como componente. Mesmo assim, acompanhou o desfile
para reencontrar amigos que fez ao longo dessa jornada. Natural de Fortaleza,
quando ela desembarcou em Juazeiro do Norte e conheceu o grupo, logo se
apaixonou. "Eu comecei com prato e depois passei nove anos nos
surdos", conta.
De
toda essa dedicação, fez da Fanmosa seu segundo lar. "É uma coisa
espontânea. Uma família de coragem, amizade. Hoje, a gente vem com aquela
expectativa. É o amor pelo vinho", finaliza. (Diário do Nordeste)
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