Não há registro de incêndios, dessas proporções, já terem atingido a região. FOTO: Alex Pimentel |
Na
avaliação do chefe de Brigada de Pronto Emprego do Ceará, Talys Anderson Silva,
a devastação da flora e da fauna nos assentamentos Jacurutu e Lagoa Verde, a
cerca de 25Km da sede, não foi maior porque o Grupamento do Corpo de Bombeiros
no Município, com o auxílio de 60 moradores, agiu quando as chamas começaram a
se alastrar pela região. Apesar de não conhecerem as técnicas de controle de
incêndios florestais, a contribuição foi significativa.
Tanto
os brigadistas quanto os assentados lamentaram a demora da chegada do Prevfogo
no local dos focos. O presidente do Assentamento Jacurutu, Antônio Francisco
Bernardino, conhecido como "Antônio Mota", admitiu o atraso em
acionar a única equipe do Ibama no Estado. Ele desconhecia o serviço. Só ficou
aliviado quando eles isolaram os riscos, já que os pontos de fogo se multiplicaram.
Desde
a fundação do Assentamento, em 1995, nunca havia ocorrido um incêndio dessas
proporções. Parte dos moradores até produz carvão, mas por meio de plano de
manejo, garante. Como o período de estiagem começou, também estavam cortando
lenha, de forma sustentável, segundo suas informações. Tudo virou cinzas nos
últimos dias, lamentou, destacando o esforço dos bombeiros militares no
primeiro combate. Mas havia lugares aonde o caminhão-tanque não chegava. Apesar
de seca, a mata é muito fechada, principalmente quando se aproxima dos
serrotes.
Dificuldades
Esse
foi o principal obstáculo encontrado pelos 15 brigadistas do Prevfogo. Eles se
dividiram em equipes e, desde quarta-feira (29), após montarem acampamento no
Jacurutu, passaram a se reservar no isolamento dos focos. Trabalharam das 5h ao
meio-dia e das 15h seguindo noite adentro, quando é melhor de identificar os
pontos de risco. Nos caminhos, muita fumaça e árvores caídas nas estradas
abertas por um trator disponibilizado pela Secretaria de Infraestrutura de Canindé.
No
início dos trabalhos foi feito o mapeamento da região e o planejamento dos
acessos até os pontos mais difíceis e perigosos. Para chegar lá é preciso
utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs) e também estar em boa
forma. Apitos e GPS auxiliam os batedores na orientação do restante da equipe.
Falta um drone para avaliar e nortear o caminho mais rápido aos focos, quando
não houver acesso.
Enquanto
os brigadistas trabalhavam, alguns moradores conheceram técnicas de eliminação
de focos de incêndio. Os principais equipamentos são sopradores costais. Uma
máquina dessas pode realizar o serviço de cinco combatentes. Com ela, é
possível abrir as linhas de defesa, como são chamados os isolamentos de solo
para evitar a continuidade da combustão da mata. Outra opção é abrir valas.
Sobre
o início do incêndio, o líder comunitário informou ter sido provocado
provavelmente por alguém, ao fazer fumaça para espantar abelhas e colher mel
mata adentro. Garantiu se tratar de invasores. Como a propriedade é muito
extensa, não há como controlar a entrada de estranhos, ressaltou, lamentando o
prejuízo causado a muitos moradores, apesar de as casas de mais de 150 famílias
não terem sido atingidas. Muitos ficaram assustados. Agora, sabem como agir se
outra situação dessa natureza se iniciar.
Criado
em abril de 1989, o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios
Florestais (Prevfogo) passou a coordenar as ações necessárias à organização,
implementação e operacionalização das atividades relacionadas com a educação,
pesquisa, prevenção, e controle e combate aos incêndios florestais e queimadas
em Unidades de Conservação (UCs) da União. No ano seguinte, o Prevfogo definiu
como objetivo primordial estabelecer mecanismos emergenciais de proteção contra
incêndios nas UCs mais sujeitas a esse tipo de ocorrência. Para tanto procurou
dotá-las de infraestrutura e meios para prevenção e combate aos incêndios
florestais, bem como de recursos humanos capacitados.
No
Ceará, a equipe de campo é formada por 30 brigadistas, 29 homens e uma mulher.
Eles são profissionais treinados, contratados temporariamente, por seis meses,
época da estiagem na região. A base fica localizada em Quixeramobim, no Sertão
Central. É acionada por meio do Núcleo de Operações do Prevfogo, em Fortaleza.
Crime
ambiental
Os
ventos fortes e a vegetação seca desta época são os principais fatores do
alastramento do fogo causado pelo ser humano. Por isso é importante ter cuidado
e atenção, mesmo nos casos de queimadas, quando o fogo é controlado, geralmente
por trabalhadores rurais, em áreas de cultivo. Qualquer descuido pode provocar
um incêndio de grandes proporções, explica Talys Silva. "Vale lembrar que
causar incêndio em mata ou floresta é crime ambiental. Está previsto pela Lei
Nº 9.605/98. A pena, nesses casos, é de reclusão de dois a quatro anos e
multa", acrescenta.
(Diário do Nordeste)
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