A edificação, com mais de 200 anos, abriga vestígios dos índios Kariris. FOTO: Antonio Rodrigues |
Crato. Há registros
da construção da Casa de Câmara e de Cadeia ainda no período colonial, em 1817,
mas só no fim do século XIX, ela tomou seu atual formato. Hoje, mais de 200
anos depois, abriga o Museu Histórico do Crato J. Figueiredo Filho e também
algumas peças do antigo Museu de Artes Vicente Leite, que funcionava no andar
de cima do prédio e está fechado há mais de 12 anos. Este equipamento, apesar
de reaberto em fevereiro do ano passado, vem sofrendo com o tempo, apresentando
rachaduras nas paredes, mofo e interdição no pavimento superior.
O
prédio é tombado em níveis estadual e municipal, mas, desde a década de 1940, o
local já era estudado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan). No pavimento superior, funcionaram as primeiras sedes da
Câmara Municipal e da Prefeitura. Já no térreo, ficava a Cadeia Pública do
Crato. Como peculiaridade, o prédio é uma das poucas construções que possui uma
enxovia em forma de abóbada, onde ficavam os presos mais perigosos.
Importância
Segundo
o arquiteto Waldemar Arraes, a edificação se destaca por ser uma das poucas
Casas de Câmara e Cadeia em pé no Estado do Ceará. "É importante para a
história da Cidade, do Estado e do Brasil. Essa casa tem características que
outras não têm", explica Arraes.
Na
sua opinião, o local precisa ser restaurado para se manter em pé. Mas adverte
que a obra é muito cara. "É um projeto complexo. Envolve equipe
multidisciplinar, profissionais de diversas áreas, incluindo historiadores,
engenheiros e arquitetos, entre outros, para se produzir um projeto de custo
elevado, que exige fiscalização de diversos órgãos. É complicado, complexo. Não
é qualquer pessoa que faz", acrescenta o arquiteto.
O
Museu passou quase dez anos fechado por problemas no prédio. Na época, houve um
início de reforma e foi colocado, inclusive, um forro de gesso, mas teve que
ser retirado.
Reformas
Segundo
as informações do secretário de Cultura de Crato, Wilton Dedê, havia um
processo de reforma de gestões passadas que precisou ser encerrado, refazer a
prestação de contas e devolver o dinheiro. A empresa contratada iniciou e,
quando não foi paga a primeira parcela, abandonou a obra. "Descobri que o
prédio sequer tinha documento. Hoje, está todo no nome da Prefeitura. Em fevereiro,
recebemos", informa o secretário.
Apesar
de não ser tombado em âmbito nacional, o Iphan tem processo aberto de estudo no
local. Por isso, Dedê conta que foi até o a Superintendência do Órgão, em
Fortaleza, e se reuniu três vezes para tentar a liberação para a reforma.
"Até
descobri que eles têm uma planta arquitetônica carimbada e aprovada. Tive que
fazer um pedido de doação desse documento ao Município. Na semana que vem vou
buscar essa documentação. Com isso, não tem tanta burocracia", garante.
Com
o projeto em mãos, segundo ele, agora é tentar buscar recursos para a
restauração do prédio, mas isso só deve acontecer a partir de março de 2019.
"Fui atrás de desentranhar esse processo. O prédio está abandonado? Não.
Existe um procedimento de bastidor sendo feito. De 2017 para cá, nunca parei de
tentar resolver isso", conta Dedé. Além disso, a empresa contratada para
realizar a restauração tem que ser especializada e, no Ceará, existem apenas
duas aptas para o serviço.
Waldemar
Arraes, por sua vez, acredita que não é tão simples iniciar o processo de
restauração. Tem que fazer um estudo histórico, documental. Entender o entorno
do edifício, o que se passava ao redor, como está hoje em dia.
"Às
vezes, com alguma escavação, tem que parar porque esbarra em algum achado. Daí,
é preciso fazer todo o estudo arqueológico. Inclusive, tem os projetos de
adaptação à acessibilidade, combate a incêndio, instalação hidrossanitária e
reforço de estrutura, se for preciso", explica. O arquiteto acredita que o
ideal seria a obra ser tocada pela Secretaria de Cultura do Estado e pelo
próprio Iphan, mas também depende das políticas públicas locais e do interesse
do Município.
Acervo
No
Museu Histórico do Crato, é possível conhecer alguns artefatos originais dos
índios Kariris, encontrados durante as escavações da reforma da Praça da Sé. Há
mãos de pilão, armas de corte, machados e uma igaçaba (urna funerária).
Lá,
há também objetos antigos que pertenceram a pessoas importantes do Cariri cearense,
como espingardas usadas por cangaceiros e uma sala sacra, com objetos doados
pela Diocese. Ano passado, cerca de 5 mil pessoas visitaram o equipamento e a
maioria é formada por pessoas de outras cidades.
Relíquias
Há
três itens também importantes, mas que não estão expostos: duas aquarelas e um
desenho feitos pela equipe da Expedição Científica de Exploração do Império que
esteve no Cariri em 1860. Uma é a vista da cidade de Fortaleza na chegada dos
exploradores; outra da cidade do Crato; e, um desenho do Município de Cabedelo
(PB). "Isso precisa estar em locais adequados para que não se estrague. A
gente reza que não aconteça nada, como no Museu Nacional. Se não tiver
manutenção e uso, a tendência é se acabar. Para que a restauração aconteça, precisa
do uso", clama Waldemar.
Há
15 anos, algumas peças do Museu de Artes foram furtadas. Na época, um inquérito
policial foi instaurado e parte delas foi recuperada. O Ministério Público do
Estado do Ceará (MPCE), por meio da Promotoria da Comarca do Crato, tem um
procedimento aberto, desde 2013, sobre os itens que sumiram. No entanto,
ingressou com uma Ação Civil Pública que deve ser protocolada até a próxima
segunda-feira. "São questões de estrutura, acervo, reorganização e
requalificação. Alguns pontos estão em andamento", conta o promotor Thiago
Marques Vieira.
Mais
informações:
Museu
Histórico do Crato
Local: Rua Senador Pompéu, 502 - Centro
Horário: De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h (Diário do Nordeste)
Local: Rua Senador Pompéu, 502 - Centro
Horário: De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h (Diário do Nordeste)
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