Maria Zilmar da Silva passou a enxergar graças o
transplante de córnea. FOTO: SAULO ROBERTO
"A sensação é como nascer de novo", revela Maria Zilmar da Silva, de 84 anos, dona de casa. Há oito anos, o mundo passou a ser visto por ela de uma forma nova, diferente do passado. O transplante de córnea, feito na paciente no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) após quatro anos de cegueira, mudou sua vida. Assim como ela, mais de 1.078 pessoas "renasceram", no Ceará, em 2018, após receberem o transplante de algum órgão ou tecido.

Acometida pela catarata, Maria Zilmar revela que a cegueira a surpreendeu de forma repentina. "Quem não tem visão, não tem vida. As pessoas devem doar porque estão dando vida a outras", destaca a dona de casa.

De 2013 para 2017, o aumento de doação de órgãos no Ceará foi de 11,2%. Em 2016, o Ceará zerou a fila de transplantes de córnea. Neste ano, dos 1.078 procedimentos realizados até 24 de setembro, a córnea contabiliza a maioria, com 659 transplantes, em seguida o rim, com 159. Os que apresentam menor número são pulmão (2), pâncreas (2) e esclera (1).

De acordo com a coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, o pulmão é um órgão "muito difícil" de ser captado, já que ele se comunica com o exterior do corpo. "As mortes encefálicas levam infecção para o pulmão. Na hora que o paciente entra em coma, que se coloca o tubo na boca, o pulmão está suscetível à infecção. No caso desse órgão, precisamos ter a certeza de que não tem infecção", explica a coordenadora.

Até o dia 24 de setembro de 2018, 771 pessoas estavam na fila de espera por um transplante no Estado. Não é o caso de Antônio Pereira de Moura, marceneiro que, aos 55 anos, já foi contemplado com o transplante de dois corações. Popularmente conhecido por ter sido o primeiro transplantado de coração do Hospital de Messejana, há 21 anos, seu Antônio passou cinco anos com o coração transplantado. Foi quando precisou trocar o órgão novamente. "Deus me deu duas vidas a mais. Sou muito grato. Eu fumava e bebia. Parei; tive a graça de conhecer uma mulher e ainda ganhar dois filhos. Estou muito feliz e bem", declara Antônio.

Segundo ele, tudo pode ser feito, mas sem exageros. A coordenadora da Central reafirma o que foi dito pelo transplantado. De acordo com Eliana, em geral, um transplante de órgão adiciona 14 anos de vida, mas existem pacientes que ultrapassaram esse número. "Queremos que o paciente volte a ter uma vida normal, mas sabendo que o transplante não é a cura total, ele precisa tomar medicamentos para o resto da vida e vai sempre precisar ser acompanhado", explica a coordenadora.

Todas as pessoas são potenciais doadoras e poucas são as contraindicações médicas que limitam a doação, como ser portador do vírus HIV. Considerar a opção de doar os órgãos é também acreditar que mais de uma vida poderá ser salva. Foi o que aconteceu com o doador dos irmãos Raimundo e Antônio Rodrigues, que receberam um rim do mesmo doador e fizeram o transplante no mesmo dia.

"Nós não sabíamos que íamos fazer no mesmo dia. Os médicos não sabiam que éramos irmãos; foram saber e descobriram. Como estávamos na fila, tinha a compatibilidade do doador. Nossa genética é quase igual, como se fôssemos gêmeos", explica Raimundo, o irmão mais velho, aposentado de 57 anos.      (Diário do Nordeste)

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