Há quase 3 anos, Eliseuda Lima se dedica ao cuidado
integral
da filha Sofia, que tem microcefalia. FOTO: Helene Santos
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Lara Sofia, de 2 anos
e 8 meses, tem pelo menos sete compromissos durante a semana. São sessões de
terapia ocupacional, fisioterapia, consulta com fonoaudiólogo, neurologista,
pediatra, dentre outros profissionais. Alessandro Araújo, de 2 anos e 10 meses,
segue o mesmo rumo. E, pelo menos, duas vezes na semana, deve comparecer aos
atendimentos.
Rotinas de crianças
com a Síndrome Congênita do Zika Vírus. Passados quase três anos do surgimento
dos primeiros episódios da Síndrome no Brasil, o País contabiliza 3.226 casos
confirmados. Destes, 163 no Ceará. Em termos proporcionais, o Estado, com 25
mortes, foi o 2º no Nordeste que mais registrou óbitos de crianças com a malformação.
Na contramão desses índices, outros pequenos seguem na batalha e, assim como
Sofia e Alessandro, dependem de atendimento integral para terem a vida menos
comprometida por efeitos do zika.
As rotinas das
crianças, moradoras do bairro José Walter, em Fortaleza, incluem, além dos
tratamentos e consultas, gastos com medicação e, em alguns casos, alimentação
especial. "Ele precisa tomar leite especial que custa R$ 95,00 a lata, mas
nem sempre tem dinheiro", conta a mãe de Alessandro, a dona de casa Iolanda
Araújo.
Demandas
As duas famílias
recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), no valor de R$ 954,00, no
entanto, ressalta Eliseuda Lima Ferreira, mãe de Sofia, nem todos os
atendimentos são gratuitos. Ela relata que um dos tratamentos de Sofia é
realizado em uma clínica particular na Aldeota e custa R$ 560,00 por mês.
As duas crianças não
falam e não andam. Segundo as mães, progridem no tempo delas e os tratamentos
têm auxiliado bastante na evolução. As duas, assim como a grande maioria das crianças
com zika congênita, têm microcefalia - malformação cujo cérebro não se
desenvolve de maneira adequada. Nos meninos, a medida do perímetro cefálico é
igual ou inferior a 31,9 cm e, nas meninas, igual ou inferior a 31,5 cm. A
microcefalia é, em geral, acompanhada de alterações motoras, cognitivas e
funções sensitivas. Para irem às consultas, que não ocorrem em uma única
unidade de saúde, Sofia e Alessandro são transportados nos braços das mães.
"O problema são os ônibus. Não é nem o fato de ter que ir todos os dias,
mas esperar horas e horas para o ônibus passar é o que deixa mais
difícil", relata Eliseuda Lima. Nos quase três anos dos filhos, as mães
passaram dos sustos às descobertas e adaptações. No conjunto habitacional
Cidade Jardim, onde moram pelo menos 15 famílias de crianças com Síndrome
Congênita do Zika Vírus, a troca de informação é constante.
Mortes
Dos 3.226 casos
confirmados da Síndrome Congênita do Zika Vírus no Brasil, 2.056 foram no
Nordeste, o equivalente a 63,7%. Conforme dados repassados pelo Ministério da
Saúde e analisados pelo Diário do Nordeste, no Ceará, a proporção de mortes
fetais, neonatais e infantis foi 15,3%.
No Nordeste, o Ceará é
o segundo Estado com o maior número de mortes proporcionais, perdendo apenas
para o Rio Grande do Norte, com 29, em 150 casos confirmados. No Brasil,
Tocantins é o Estado com o maior número de mortes em termos proporcionais, com
29 casos confirmados e 12 óbitos de crianças.
Segundo o neurologista
infantil do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), André Luiz Santos Pessoa,
alguns fatores gerados pela Síndrome Congênita aumentam a chance de
mortalidade. Um deles é a dificuldade de deglutir, a chamada disfagia, e por
isso muitas crianças, explica ele, não têm uma nutrição adequada, apresentando maior
chance de desnutrição, além das chances de desenvolverem pneumonia.
De acordo com ele, o
maior número de óbitos ocorreu quando as crianças estavam entre o primeiro e o
segundo ano de vida. "É um cenário mais ou menos previsível porque havia
chance de mortalidade, mas houve muitas tentativas de evitar", reforça. (Diário
do Nordeste)
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