"Meu
filho acha que dinheiro cai do céu". A frase é recorrente no grupo de
WhatsApp do qual participa a economista Renata Santiago e sempre representou
para ela uma preocupação como mãe. "Eu tento passar para ele que tem, mas
não é para sempre", diz. Desde quando o filho tinha cinco anos de idade,
ela tenta introduzir noções que remetem à educação financeira. Hoje, Renata
acredita que os ensinamentos despertaram no filho a importância das decisões e
o ensinam a valorizar o esforço dos pais.
Hoje
com nove anos de idade, Eike Santiago coloca em prática o que muita gente com o
dobro da idade não consegue. "Eu fui uma pessoa com poucos recursos
financeiros na infância. Quando cheguei na faculdade e tive o meu primeiro
cartão de crédito, usei sem pensar nas consequências. 'Papoquei' o
limite", relembra a economista.
O
filho, por sua vez, recebe uma "semanada" de R$ 10 e pensa
cuidadosamente no destino do dinheiro. Quando quer comprar algo, avalia a
importância do item e negocia com a mãe. "Teve um passeio na escola e ele
queria muito ir. O Eike veio conversar comigo e apresentou o valor: R$ 110.
Perguntou 'mamãe, isso é muito caro?'. Ele pergunta se eu posso pagar por algo
que ele quer. Se eu não puder e for muito importante para ele, o recurso da
'semanada' é então usado".
Para
os especialistas, os pais podem começar a introduzir o assunto na rotina da
criança a partir dos dois anos de idade. A diretora pedagógica do instituto de
educação financeira Dsop e estudante de mestrado em Finanças Pessoais do Dsop,
Ana Rosa Vilches, explica que já nesta idade os mais novos entendem que existem
moedas de troca.
"Vem
muito do exemplo. Nessa idade, a criança está descobrindo o mundo. Elas
observam tudo ao redor e copiam o que os adultos fazem. Se ele tem um exemplo
de consumismo, vai gravar isso e vai pedir tudo, mas se o responsável começa a
explicar que algumas coisas são possíveis e outras não, elas começam a entender
a necessidade de fazer escolhas", detalha a diretora pedagógica Ana Rosa
Vilches.
Ela
explica que a estratégia é ensinar a sonhar em curto, médio e longo prazo,
sempre mantendo a atenção ao uso do dinheiro.
"É
importante que a criança construa um modelo mental no qual ela sempre deve
guardar uma parte da mesada que ganha".
A
diretora pedagógica do Dsop revela que, aos sete anos, o raciocínio lógico da
criança fica mais apurado e os pais devem explorar isso.
"O
ideal é que ela entenda que 50% desse valor devem ser destinados aos sonhos de
longo prazo e os outros 50% ficam livres para que ela comece a
administrar", diz Ana Rosa Vilches.
Ela
acrescenta que muitos pais estimulam que as crianças tenham contato com o
dinheiro desde muito cedo, mas acabam cometendo alguns erros no meio do
caminho.
Erros
Um
dos mais comuns, de acordo com ela, é o empréstimo. "Por exemplo, a criança
está guardando algum valor e o pai vai e pega emprestado, mesmo que os pais
devolvam com juros e expliquem isso à criança, a prática pode ser nociva".
Outra
situação bem comum descrita por Ana Rosa é trocar algo que seria uma obrigação
da criança, como tomar banho, estudar ou arrumar a cama, por dinheiro.
"Se
o pai faz isso, a criança aprende a atrelar tudo ao dinheiro. Lá na frente, ela
vai querer ser remunerada com dinheiro por qualquer tarefa", detalha.
Jogos que têm relação com o dinheiro também podem parecer uma boa saída à
primeira vista, mas precisam de olhar cauteloso.
"É
preciso que a criança entenda que, para se dar bem, ela não precisa acabar com
o outro. Esse olhar os pais precisam ter na hora de comprar o jogo, se ele não
faz essa construção de que, para se dar bem é preciso passar por cima dos
outros". Uma dica, de acordo com ela, é observar sempre cuidadosamente as
regras e competências do produto.
(Diário do Nordeste)
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