O corte de 30% dos cargos políticos dos bancos federais, anunciado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, deve limitar o acesso ao crédito ofertado pelo Banco do Nordeste (BNB) a empreendedores do Ceará e de toda a área de atuação da Instituição. De acordo com a presidente da Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste do Brasil (AFBNB), Rita Josina, a medida vai afetar os pequenos produtores da Região. 

“Essa medida só reduz as contratações de vários programas do Banco. A gente precisa ampliar a nossa capacidade de atuação e de atendimento e essa ideia dificulta o acesso ao crédito, acesso aos produtos e impacta nas políticas públicas de crédito que a Instituição opera. Diminuir os cargos vai limitar o acesso ao crédito e o atendimento à população”, observa.

O economista Henrique Marinho diz que o BNB precisa estar presente em diversos municípios onde a estrutura bancária é mínima. “Eu tenho absoluta certeza de que o BNB precisa de gente. Eles têm programas de alcance social extremamente grande que precisam estar presentes junto ao pequeno produtor, junto com o pessoal da agricultura familiar, junto com o pequeno empresário para o crédito solidário que ele não pode fazer com tecnologia”.

Ainda de acordo com Josina, o interesse de Bolsonaro de cortar cargos políticos tem o objetivo de reduzir a atuação do estado. “Isso está dentro da lógica privatista já de algum tempo em relação ao desmonte das instituições públicas. Vemos isso como grande prejuízo para o Banco, para a sociedade e para os trabalhadores. Qual a base desse cálculo? A nossa luta é para ampliar a nossa atuação, a quantidade de funcionários e a rede de agências”. 

Marinho afirma que estudos internos do BNB demonstram necessidade de mais pessoal. “É possível cortar? Em algumas áreas talvez seja, mas é preciso que se faça um estudo prévio das necessidades. Às vezes tem uma necessidade de expandir do que de cortar. Esse discurso do presidente eleito é um discurso muito parecido com o que nós vimos com o ex-presidente Collor. É muito mais para demonstrar efeito midiático do que realmente tentar resolver a questão das despesas”, opina. 

Em nota, o BNB informou que “enquadrando-se no conceito de cargo de livre nomeação e exoneração, o Banco do Nordeste conta com apenas 02 assessores especiais, contratados para a Presidência do Banco, e 01 consultor especial do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), denominado economista-chefe. Atualmente, a Diretoria Executiva é composta por sete membros, sendo um presidente e seis diretores. Os demais funcionários do Banco (7.009 na posição de 31.10.18) ingressaram por concurso público e, para exercerem funções técnicas de maior relevância ou de gestão, participam de processo seletivo interno”.

Programas
Crediamigo e Agroamigo, segundo Marinho e Josina, devem ser os mais prejudicados com os cortes. Atualmente, de acordo com o BNB, “o Crediamigo contratou, até 31 de outubro de 2018, R$ 7,20 bilhões em toda a área de atuação do Banco do Nordeste, que inclui os nove estados nordestinos e o norte de Minas Gerais e o Espírito Santo. O valor é 11,90% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado (R$ 6,44 bilhões). No Ceará, são R$ 2,28 bilhões investidos pelo Crediamigo no ano, 14,61% a mais do que no passado (R$ 1,99 bilhão)”.

A Instituição informou ainda que o crescimento do Agroamigo segue a mesma tendência. “O valor aplicado até 31 de outubro de 2018 é 11,8% maior do que no mesmo período do ano anterior. São R$ 2,13 bilhões este ano frente a R$ 1,9 bilhão em 2017. O programa financiou R$ 259,19 milhões para agricultores familiares cearenses este ano. O montante é 8,08% maior do que em 2017”.

“Claro que a tecnologia vai aperfeiçoando, os bancos trabalham com menos pessoas, mas as funções de comissionamento são funções de grupos de trabalho e de coordenação. Os trabalhos precisam de uma gestão eficiente então você não pode anunciar que vai cortar a gestão. Pela função social do Banco que tem o Crediamigo e o Agroamigo ele não pode se comunicar com esse público somente de uma forma eletrônica. Muitas vezes ele precisa da presença do funcionário na localidade”, acrescenta o economista.       (Diário do Nordeste)

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