De 2002 a 2017, a Expomorte reúne mais de 10 mil santinhos e cartões em memória aos finados. FOTO: Alana Soares
Roberto Brito começou sua exposição com poucas imagens em pobres cavaletes que mal chamavam a atenção dos passantes na Praça Cristo Rei, em Crato. O destaque, no entanto, foi a temática da exposição. Não eram fotos artísticas ou homenagem poética à alguma personalidade. Eram santinhos e cartões fúnebres guardados por um excêntrico Roberto. Foi em 02 de novembro de 2002, no Dia dos Finados, que ele começou sua fama pública de colecionador dos mortos. 

“Uma dia passou uma senhora e perguntou ‘quem faz essa exposição aqui?’. Eu disse: sou eu. Ela disse ‘ah, pois você nunca vai botar a minha aqui’. Com 7 dias, ela veio para cá. Morreu. Era 2006”, Roberto relata, tentando conter um sorriso sádico. À beira dos 40 anos, ele trabalha como taxista com ponto fixo na Praça Cristo Rei, onde há 16 anos realiza a "Expomorte", seu projeto mais dedicado.

Mas por que santinho de falecido?, pergunto a Roberto, que me responde na inocência: “Existem vários tipos de coleção. De moedas, canetas, bonés, cartões... Eu coleciono fotos de quem já morreu. É diferente. Hoje tudo o que a gente faz as pessoas querem invejar. Dessa coleção ainda não achei quem me inveje”.

Sua admiração pela morte não tem nenhum fator motivacional identificável para além da curiosidade de saber como e por que fulano morreu. Ele afirma saber de cor todas as causas de morte dos personagens em sua coleção. De fato, Roberto leva tão a sério o projeto que inseriu a foto do irmão caçula quando este faleceu, fato que, me disse, mesmo diante de tudo o que vê, ainda não sabe lidar bem.

Todos os dias pessoas desconhecidas colocam cartões, santinhos e fotos de pessoas falecidas na caixa do telefone dos taxistas. São da região do Cariri e arredores, chegando a ter registros de Abaiara, Exu, Petrolina entre outros.

Foi assim que sua coleção atingiu 10.000 itens em 2017, última vez que contabilizou. Agora, para expor todos, são mais de 35 cavaletes e algumas fotos - as mais brutais - só podem ser vistas no álbum que fica guardado com ele.

"Quem gosta de andar na rua sabe quem morreu através da exposição. Já teve quem me disse ´Eita! Esse cara ficou devendo um para-brisa na loja de pai...´, conta, rindo.

Aos seus olhos este projeto é uma homenagem aos colegas que saíram dessa para uma melhor. Por tal motivo, diz que só acaba a "Expormorte" quando ele próprio entrar para a coleção.        (Site Miséria)

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