As eleições
de outubro trouxeram vários desafios à sobrevivência dos 35 partidos do Brasil.
Legendas derrotadas nas urnas correm o risco de fusão ou de serem incorporadas.
Em março do ano que vem, também se abre a chamada "janela partidária",
o prazo para mudar de sigla. O troca-troca costuma favorecer as agremiações
vitoriosas. Já a posse de Jair Bolsonaro vai provocar uma intensa dança de
cadeiras nos escalões do Executivo, com reflexos no Legislativo e no
Judiciário. Em 2019, Congresso, governos estaduais e assembleias também vão ter
rostos e vozes estreantes. Novos estilos de liderança política entram em cena e
tendem a mudar as práticas e os discursos nas esferas de poder.
O
comportamento do cidadão também está diferente, o que deve favorecer um tom de
autocrítica pelos partidos e uma comunicação mais instantânea com suas bases.
As redes sociais conectaram o brasileiro a um debate diário, com críticas e
cobranças às autoridades, minuto a minuto. Brasília será pressionada com mais
frequência a explicar suas ideias e a votar as reformas estruturais,
necessárias para melhorar as perspectivas da gestão pública e da economia.
Está
em jogo o futuro das regras das aposentadorias, dos salários, dos tributos
cobrados dos contribuintes, além do encaminhamento de diversas propostas de
soluções para os graves problemas do País, como o rombo nas contas públicas, o
desemprego, a violência, a corrupção, as deficiências na Saúde e Educação, a
falta de moradia, a degradação ambiental, entre outros.
A
agenda da política de 2019 já começa a ser definida entre os analistas. O
primeiro semestre deverá ser marcado pelos esforços do presidente eleito para
criar uma base de apoio no Parlamento, a fim de conseguir aprovar seus
projetos.
Cientista
político Rodrigo Gallo: "Dois partidos têm um desafio maior: PT e PSDB,
que buscaram construir uma hegemonia no nível federal. Essas siglas têm de
entender seu novo papel dentro da nova configuração política do País com
Bolsonaro".
O
PSL, sigla de Bolsonaro, elegeu a segunda maior bancada de deputados federais,
atrás do rival PT, mas tentará atrair aliados de outros partidos no primeiro
trimestre, com a "janela partidária".
Dependendo
do sucesso das articulações políticas ou do eventual desgaste de medidas
consideradas impopulares, o segundo semestre do ano que vem pode ser dominado
por uma antecipação dos cenários das eleições municipais de 2020.
Bolsonaro
não esconde a intenção de transformar o seu PSL em uma força política
hegemônica, com tamanho do MDB de Michel Temer ou do PT.
Nomes
apoiados pelo chefe do governo federal costumam contar com recursos fartos para
projetos ambiciosos, potenciais vitrines a uma pré-candidatura nos municípios.
Oposição
Para
o cientista político e professor Rodrigo Gallo, da Escola de Sociologia e
Política de São Paulo e da faculdade FMU, a nova configuração política do
Brasil vai evoluir no ritmo dos números da popularidade do novo presidente e
das reações dos seus apoiadores às mudanças implementadas por ele. As
estratégias da oposição para reconquistar espaços e desgastar a imagem do
adversário também vão definir o clima político em 2019.
"Com
o crescimento dos partidos mais de direita, o maior desafio para o PT e o PSDB
será ver como eles conseguem se reinventar para eventualmente vencer as
eleições em 2020. Essa é a minha expectativa, mas ainda é cedo para afirmar de
forma categórica sobre o que acontecerá", ponderou Gallo.
Partidos
de pouco voto
Os
partidos brasileiros só continuam como protagonistas no jogo político em 2019
se tiverem atingido um número mínimo de representantes eleitos em outubro. Das
35 siglas, 14 foram "reprovadas" nesse quesito, ou seja, não
conseguiram vitórias suficientes para cumprir essa regra aprovada pela Reforma
Política em 2017, conhecida tecnicamente como "cláusula de desempenho ou
de barreira".
Na
prática, a principal punição é perder dinheiro público do fundo para manutenção
das atividades corriqueiras das agremiações. São essas legendas em situação de
risco que interessam às siglas vitoriosos, como o PSL de Bolsonaro. Algumas
agremiações já negociam o embarque em outras siglas por meio de fusão ou
incorporação (leia mais sobre o assunto na pág. 6).
Siglas
sob risco
Rede; Patriotas; PHS; Democracia
Cristã; PCdoB; PCB; PCO; PMB; PMN; PPL; PRP; PRTB; PSTU; PTC. (Diário do Nordeste)
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